Os últimos dias foram marcados por muito nervosismo e agitação nos mercados financeiros, seja para quem investe nele ou para quem somente acompanha. Quedas bruscas e fortes no preços dos ativos marcaram o meses de fevereiro e março.
Na tentativa de encontrar algum alívio para a péssima sensação causada pelas grandes perdas no período, figuras influentes do mercado financeiro dispararam comentários negativos sobre o Bitcoin.
Nenhuma novidade por aí. É comum que pessoas ataquem aquilo que não conhecem e sigam a opinião da grande maioria, mesmo quando se trata de algo inovador, com potencial de mudar a vida de todos especialmente em tempos de crise.
Por isso, peço que você não se deixe levar por esse tipo de opinião sem antes ler o que tenho a dizer hoje.
Quero falar sobre fatos e análises.
O Covid-19 escancarou a fragilidade do sistema econômico mundial, bem como sua dependência de intervenções estatais para se manter. Prova disso é a corrida dos Bancos Centrais para conter os impactos da disseminação do novo coronavírus, cortando juros e injetando trilhões de dólares na economia.
A verdade é que essa crise já se desenhava há algum tempo, insinuando-se em um grande sintoma: as principais bolsas mundiais em ascensão por 10 anos sem alcançar a correção esperada para diminuir essa distorção.
A pandemia — junto com a tensão entre Arábia Saudita e Rússia resultante da disputa pelo preço do petróleo — foram somente o estopim que resultou na atual situação global, a qual se estenderá pelos próximos meses ou anos.
PANORAMA DOS ÚLTIMOS DIAS
Em momentos de crise e pânico como o que testemunhamos neste mês, a volatilidade ganha muita força, levando a movimentos atípicos e grandes quedas no preço dos ativos.
Isso ocorre devido à necessidade dos players (investidores, gestores de fundos e traders) de se desfazer de posições em ativos considerados mais arriscados e correr para ativos mais seguros, como metais preciosos, títulos do tesouro norte-americano e dólar. Esse movimento é chamado flight to quality ou flight to safety, uma corrida por liquidez que também ocorre para cumprir a chamada de margem quando se opera alavancado.
O mercado observou um movimento muito rápido e agressivo: além de sofrer grandes perdas, tiveram até mesmo fundos de investimento quebrando.
E O BITCOIN?
Agora, observe como o Bitcoin se comportou durante os momentos mais fortes de volatilidade nos últimos dias.
Se analisarmos a performance do ativo desde o início de 2020 até o momento que escrevo este texto (23 de março), o Bitcoin apresenta uma variação de -13,48%. O S&P 500, principal índice do mercado acionário americano, apresenta uma desvalorização de -31,12% no mesmo período.
Já a situação do Ibovespa, principal índice acionário brasileiro, é ainda pior: no mesmo período, ele desvalorizou -46,44%.
Esta é a primeira grande crise mundial que o Bitcoin está enfrentando desde sua criação, logo após a crise de 2008. O cenário atual, portanto, pode ser considerado um teste de fogo para sua força.
Por fazer parte de uma nova classe de ativos, o Bitcoin ainda não é a principal escolha de proteção em um momento de insanidade e pânico por liquidez. Porém, a análise comparativa acima deixa claro que quem está investindo na criptomoeda está muito menos desconfortável do que quem investiu no mercado acionário tradicional — o qual já dava demonstrações claras de uma correção, tanto técnicas quanto de fundamentos.
Sim, o Bitcoin passou pelo pico de estresse dos últimos dias com muita volatilidade, como os demais ativos. Mas há uma grande diferença: seu mercado funciona 24 horas, sem limite de queda, circuit breaker ou qualquer outra intervenção de algum órgão central.
O Bitcoin está sujeito apenas à lei da oferta e demanda e cumpriu muito bem o seu papel, mostrando forte recuperação, bem como mantendo seus fundamentos intactos e o funcionamento normal de sua rede.
MERCADO BRASILEIRO
No cenário nacional, análises já mostravam a exaustão do movimento de alta do Ibovespa que fez seu topo próximo aos 120.000 pontos. Esta alta foi impulsionada em grande parte pela queda da taxa Selic, a qual levou vários investidores pessoa física, acostumados com a tranquilidade da renda fixa, a se arriscar na renda variável em busca de melhores rentabilidades.
Esse movimento aconteceu mesmo com a saída massiva de investidores estrangeiros do Brasil, que em 2019 retiraram R$44,5 bilhões da bolsa nacional. O movimento já dava sinais de que o bull market possivelmente não seria sustentado por muito tempo.
A realidade é que muitas pessoas perderam investimentos expressivos na bolsa de valores com a forte queda dos últimos dias. Agora, em um momento em que muitas empresas podem estar se tornando baratas, essas mesmas pessoas não têm mais caixa para encontrar e aproveitar possíveis oportunidades.
Tudo isso pela falta de orientação adequada.
Uma bolsa de valores com mais investidores é ótima para o país? Sem dúvida.
Contudo, muitos entraram na renda variável incentivados por celebridades de internet, que animavam suas audiências a comprar ações e fundos imobiliários sem gerenciamento de risco e preparo adequado. O cenário, portanto, não é nada saudável para o mercado financeiro, que perde investidores que talvez nunca mais voltem devido à frustração de suas primeiras experiências.
Neste momento, o melhor conselho que posso dar é: seja qual for o ativo que você escolher, saiba exatamente no que você está investindo.
Conheça as características dele e entenda quais os riscos envolvidos.
Não se deixe levar por opiniões tendenciosas e eufóricas.
Fuja da manada e busque entender onde podem estar as verdadeiras oportunidades de aumentar e proteger seu patrimônio.
O Bitcoin continua firme, com uma capitalização de mercado muito pequena em relação ao seu potencial e pronto para ser uma alternativa em cenários de inflação e arbitrariedades.
Cabe somente a você analisar os fatos e buscar confiança para tomar as melhores decisões.