Após a vitória nas eleições e os primeiros discursos compatíveis com uma política econômica ortodoxa, o novo governo passou a dar sinais de que o teto de gastos deve ser flexibilizado em prol da manutenção dos gastos sociais e dos investimentos.
O valor e o prazo proposto na PEC de Transição revelaram preferência por um desenho de política similar à do período 2015-2016, que resultou no ciclo recessivo dos anos seguintes, enquanto a opção de negociar a PEC sem equipe econômica acentuou as incertezas.
A expansão fiscal pretendida de R$198 bilhões por quatro anos, quase R$800 bilhões de gastos extra-teto (8% do PIB, quase o valor total da Reforma da Previdência) é incompatível com a geração de superávits primários que produzam uma trajetória de estabilidade da dívida.
Obviamente, as negociações políticas no Congresso em torno da PEC podem resultar em redução do seu valor total. Entretanto, a provável redução para R$ 175 bilhões por dois anos ainda deixará distante o objetivo adequado para a nossa realidade.
Inevitavelmente, a opção pela expansão fiscal no início do novo governo implicará na tentativa de compensação via aumento da carga tributária. A análise de diferentes estratégias de ajuste fiscal demonstra que o aumento de impostos sem cortes de gastos tem menos sucesso em gerar a queda consistente do déficit público. Além disso, também geram impacto contracionista sobre a economia, ou seja, combinação de menor crescimento, inflação e juros reais elevados por mais tempo - um quadro de elevação dos prêmios de risco.
O período de indulgência dos mercados às políticas fiscais inconsistentes já terminou como ficou claro na experiência da Inglaterra. É essencial que o novo governo evite cometer esse erro.
Há possibilidades para diminuir as incertezas, como reduzir o valor e o prazo da PEC.
A discussão sobre a nova âncora fiscal será fundamental para a reconstrução da credibilidade da política econômica pretendida pelo novo governo.
O maior risco é repetir a expansão fiscal e o ajuste postergado da nova matriz macroeconômica de 2016. Esperamos que a principal lição daquele período tenha sido compreendida pelo novo governo: gasto, sem receita, não é vida.
Do lado do investidor, com olhar para a renda fixa doméstica, a deterioração do risco fiscal dificulta a avaliação do cenário até que mais informações sobre a PEC de Transição e a linha de atuação da nova equipe econômica sejam conhecidas, o que justifica uma posição neutra nos contratos futuros DI janeiro 2024, janeiro 2025 e janeiro 2027.
Nos fundos imobiliários, a volatilidade da curva de juros, as incertezas fiscais e eventuais discussões sobre a tributação de dividendos igualmente pedem uma posição neutra na classe de ativos.
No mercado de renda fixa global, os discursos de presidentes regionais do Federal Reserve, que seguem preocupados com a resiliência do mercado de trabalho e os seus impactos sobre a inflação, indicam que os Fed Funds deverão ser elevados até pelo menos 5% ao ano, o que reforça a posição tomada nas Treasuries de 2 anos e 10 anos.
A discussão sobre a mudança de ritmo e do início do ajuste fino dos juros pelo Fed (taxa foi elevada no dia 14/12 para 4,50% a.a.) diminui a força do dólar e justificam posição neutra na moeda frente ao euro. No caso do real, as incertezas fiscais já citadas justificam a compra até que novas informações sejam conhecidas.
Na renda variável, a expectativa de reabertura da China após o ano novo do país introduz um potencial de valorização das empresas ligadas às commodities. Os setores defensivos voltam a ser preferidos devido à baixa visibilidade nesse momento do cenário prospectivo local, o que também acende o sinal de alerta para a compra de empresas ligadas ao ciclo doméstico.
No caso das estatais brasileiras, seguimos com menor expectativa de valorização pela incerteza de como serão geridas.
Com relação às bolsas globais, a expectativa de que o Fed siga a tendência de elevação dos juros manterá as Treasuries de 10 anos em alta, o que implica posição vendida em S&P 500.
A flexibilização das restrições devido à covid-19, o anúncio de corte de compulsórios e a injeção de liquidez para o mercado imobiliário chinês justificam a compra do MSCI de emergentes.
A bolsa do Japão, que será o principal mercado acionário beneficiado pela reabertura chinesa, também aparece como opção para os investidores.
Nas commodities energéticas, a expectativa de aumento da demanda por conta da China aponta para a manutenção de compra no petróleo.
Nas metálicas, a forte alta já ocorrida no minério de ferro e cobre com o anúncio de medidas para o setor imobiliário chinês indica precificação correta e posição neutra neste momento.
Bons negócios e até o próximo artigo!