O último dia de agosto (31) foi marcado por uma “forte correção” nos mercados de ativos brasileiros, repercutindo a maior cautela com o quadro fiscal e político do país.
Bolsonaro falou em mexer nos preços dos combustíveis (de novo!), o que derrubou a Petrobras (SA:PETR4), e poucos avanços houveram na solução dos precatórios e na fonte de recursos para os programas sociais. Os juros longos registraram forte inclinação, com alguns vértices subindo mais de 20 pontos, o dólar, que chegou a cair 1% na disputa do PTAX, reduziu bem a perda e a bolsa de valores “fechou” o dia em baixa de 0,8%. Chegamos ao segundo mês no vermelho para a B3 (SA:B3SA3), depois do recuo de 2,48% em agosto. No ano, a evolução é negativa em 0,2%.
Nesta quarta-feira (dia 01), na agenda doméstica, em destaque o PIB do segundo trimestre, divulgado pelo IBGE, devendo vir em desaceleração, variados PMI no exterior, e a geração de empregos privados (ADP) nos EUA.
Estejamos atentos às movimentações do presidente Bolsonaro, olhando para o 7 de setembro, embora consideramos que nada de muito relevante deve ocorrer nesta data. Manifestações? Sim, mas isso já se tornou uma rotina neste país conflagrado.
Nova bandeira tarifária
Sobre a nova bandeira tarifária, diante da gravidade da crise hídrica, a ANEEL definiu uma nova bandeira tarifária, chamada de vermelha 2, ou “escassez hídrica”. O novo valor da taxa extra passa de R$ 9,492 para R$ 14,20 por consumo de 100 kWh em setembro, num impacto de 0,33 ponto percentual sobre o IPCA. Isso deve jogar o IPCA, no ano, a mais de 10,0%.
A tarifa média no Brasil é de R$ 60. Somando-se a bandeira tarifária válida no momento, a tarifa é de R$ 69,49. Com este novo valor, pula para R$ 74,20 (+6,78%).
Lembremos que este reajuste de tarifa acontece em meio à maior estiagem enfrentada no Brasil nos últimos 91 anos. Neste contexto, o apoio de usinas termoelétricas se torna inevitável, mas seu custo de operação é mais elevado. Em 12 meses, o reajuste de energia chega a 20,1%.
Orçamento de 2022
No front fiscal, a apresentação da Proposta de Lei Orçamentária Anual de 2022 (PLOA) no Congresso teve como boa notícia, o déficit primário estimado de R$ 54,8 bilhões no ano que vem e a inclusão dos precatórios, no total de R$ 89,1 bilhões, já que este imbróglio ainda não foi definido. A expectativa é que seja resolvido a partir da resolução do TCU, assinada pelo CNJ, para a metade do montante previsto de precatórios, pagos em 2022.
Estas propostas, no entanto, vêm com certo atrasado, pois o IPCA previsto é hoje de 8% e não mais 6%, e ficou de fora o novo Bolsa Família. Recursos do chamado “Auxílio Brasil” se mantém em R$ 34,7 bilhões, não correspondendo ao que o governo pretende mobilizar com o novo programa.
Pontos principais acertados:
Crescimento da economia de 2,51% para 2022; salário mínimo, definido em R$ 1.169 (+6,27% sobre o anterior); fundo eleitoral de R$ 2,1 bilhões; estimativa de IPCA de 3,5%; taxa Selic média de 6,63%; e taxa de câmbio média de R$ 5,15. O limite no teto dos gastos foi definido em R$ 1,61 bilhão; as projeções de receitas totais R$ R$ 1,958 trilhão e de despesas totais R$ 1,646 trilhão. As despesas discricionárias ficaram em R$ 98,6 bilhões.
Acreditamos que este projeto de Orçamento 2022, apresentado pelo governo, deve acabar funcionando como um fator a mais de pressão. Embora a proposta tenha agradado ao mercado, uma tênue desconfiança predominou, já que muitos a consideram uma “peça de ficção”. Seguem de fora o aumento no Bolsa Família (rebatizado de Auxílio Brasil) e qualquer tipo de reajuste no Fundo Eleitoral. Arthur Lira, um dos próceres nesta demanda de fundo eleitoral mais polpudo, com certeza, deverá acrescentar outro valor a estes R$ 2,1 bilhões definidos.
O presidente da Câmara segue tentando lustrar o seu mandato com a pecha de reformista. Olhem a reforma administrativa (a seguir) e vejam se, realmente, algo foi alterado. E a reforma tributária? Alguém consegue encarar aquilo como uma reforma ampla ou apenas “um remendo para buscar recursos”?
No Congresso
Finalmente foi detalhada a reforma Administrativa de Arthur Maia. Disse ele que a “preservação de direitos foi além” da condição preliminar e não houve a quebra de qualquer direito adquirido. Ora, se nada vai ser alterado na enorme quantidade de “penduricalhos” ao que os servidores têm direito, sob esta retórica de “direito adquirido”, como fica esta reforma? É para inglês ver?
Os antigos servidores seguem com estabilidade, os novos servidores passam a ser “submetidos a avaliação de desempenho”. Em paralelo, uma nova lei deve ser regulamentada para se evitar perseguição política. Sobre os critérios para avaliar o desempenho dos servidores:
Avaliação no âmbito digital, prazos dilatados, seis avaliações semestrais durante o estágio probatório - exclusão do vínculo de experiência. O parecer mantém também os tipos de vínculo, por concurso público e contrato por tempo determinado, com o “mesmo regime jurídico”. Funções exclusivas de Estado ficam de fora.
Este parecer deve ser votado entre os dias 14 e 15 de setembro, sem obstrução, na comissão especial. Logo em seguida, vai a plenário, necessitando 308 votos favoráveis em dois turnos.
Indicadores
O resultado do governo consolidado de julho veio com o déficit a R$ 10,28 bilhões, em 12 meses passando a 2,89% do PIB. Lembremos que o governo central veio com déficit de R$ 16,84 bilhões. A dívida pública bruta ficou em 83,8% do PIB e a líquida recuou a 60,3% do PIB.
A taxa de desemprego recuou a 14,1% da PEA no segundo trimestre deste ano, segundo a PNAD. Mesmo assim, ainda são 14,4 milhões de desempregados.
Mercados
No Brasil, no dia 31, no fechamento, a moeda norte-americana recuou 0,33%, cotada a R$ 5,172. No mês, a moeda norte-americana deprecia 0,77%. Já o Ibovespa voltou a recuar, ignorando a alta em NY, -0,80%, a 118.781 mil pontos, no mês recuando 2,48% e no ano -0,2%.
Nesta madrugada, na Ásia (05h05), os mercados operavam em alta. Nikkei avançando 1,29%, a 28.451 pontos; Kospi, na Coréia do Sul, +0,24%, a 3.207 pontos; Shanghai Composite, +0,65%, a 3.567 pontos, e Hang Seng, +0,37%, a 25.974 pontos.
Nesta madrugada do dia 01/09, na Europa (04h05), nos futuros, os mercados operavam em alta. DAX (Alemanha) avançando 0,76%, a 15.955 pontos; FTSE 100 (Reino Unido), +0,75%, a 7.172 pontos; CAC 40 (França), +0,87%, a 6.738 pontos, eEuro Stoxx 50, +0,90%, a 4.234 pontos. Dia iniciando com os mercados em boa alta.
Nos EUA, as bolsas de NY no mercado futuro, operavam às 05h05 da seguinte forma. O Dow Jones avançando 0,40%, a 35.482 pontos, o S&P 500, +0,41%, a 4.539 pontos, e o Nasdaq +0,29%, a 15.628 pontos. No mercado de treasuries, US 2Y avançando 3,01%, a 0,2153, US 10Y +2,07%, a 1,329 e US 30Y, +1,03%, a 1,947. No DXY, o dólar avançava 0,09%, a 92,715. Petróleo WTI, a US$ 69,06 (+0,82%) e Petróleo Brent US$ 72,25 (+0,87%).
Na agenda de hoje, destaque para o PIB do segundo trimestre brasileiro, divulgado pelo IBGE, desacelerando. Saem também a balança comercial e o Índice de Commodities do BACEN. Serão conhecidos os índices dos gerentes de compras, os PMIs, da indústria da Europa, Estados Unidos e Brasil de agosto.
Nos EUA também sai o índice dos gerentes de suprimentos, o ISM, e o dado de emprego privado ADP. Na Zona do Euro, será divulgada a Taxa de Desemprego de julho. Tem também decisão da Opep e o discurso de Raphael Bostic, do Fed de Atlanta.