Numa semana intensa, com CPI da Covid, inflação americana, desconfianças entre Fed e mercado, economia brasileira impactada pelo atraso das vacinas, tensões na relação Israel e Palestina, façamos um balanço, “lambendo as feridas”, avaliando os estragos e tentando enxergar o futuro próximo.
Seguem repercutido as “oitivas” da CPI da Covid. Foram três depoimentos importantes na semana, do presidente da ANVISA, do ex-secretário de Comunicação do governo e do CEO da Pfizer (NYSE:PFE). Dois deles foram esclarecedores sobre a postura do governo nesta pandemia, outro, constrangedor pelo que não foi dito, ou negado.
Ao fim da sexta-feira, o Ibovespa operou em alta, acompanhando o mercado em NY, com os investidores aproveitando as quedas da semana para ir às compras, num contexto de EUA relaxando as medidas de isolamento social e melhorando as ações de empresas cíclicas, mas ligadas à economia tradicional.
Na sexta-feira (dia 14), a bolsa paulistana ganhou 0,97%, a 120.880 pontos, na semana subindo 2,51% e no ano 2,41%. Já as bolsas de NY fecharam em alta, enquanto os treasuries, recuaram pelo segundo dia seguido. Dow Jones fechou em alta de 1,06%, a 34.382 pontos, S&P subiu 1,49%, a 4.173 pontos, e Nasdaq 2,41%, a 13.441 pontos.
Sobre a inflação norte-americana, como já dito, o que observamos é a existência de alguns gargalos de oferta na economia norte-americana, dada a “forte reabertura” em curso, o que vem pressionando alguns insumos da cadeia produtiva.
Um deles vem das montadoras (produção de automóveis novos), em baixa oferta, pela falta de “condutores eletrônicos”, em sua maioria, produzidos no exterior. Normalizado este fornecimento, os preços destes insumos devem recuar, assim como o dos automóveis, havendo então uma “normalização” neste mercado específico. Assim, a inflação ao produtor, PPI, chegou a 0,6% em abril, contra estimativa de 0,3%, mas deve ceder nos próximos meses, assim como o CPI (0,8% mensal e 4,2% anualizado). Lembremos que este acabou diretamente impactado pelos custos dos automóveis (novos e usados) e seus seguros.
No Brasil o IBC-Br, indicador do Bacen, veio abaixo das estimativas de mercado (-3,3%), recuando 1,59% em março contra fevereiro. Contra o mesmo mês do ano passado o avanço foi de 6,2%, no primeiro trimestre avançando 2,2% e em 12 meses +3,3%. Ao fim deste ano estamos prevendo o PIB crescente em 3,8%, podendo chegar a 4,2%, dependendo do ritmo das vacinação e da intensidade da reabertura da economia brasileira.
Falando da CPI da Covid, tivemos quinta-feira a audiência com o CEO da Pfizer para a América Latina, Carlos Murillo, que descreveu, cronologicamente e detalhadamente, a evolução dos contatos da empresa com o governo brasileiro.
Tiveram início em maio de 2020, depois, um esforço de assinatura de contrato em 26 de agosto, na qual uma primeira oferta de 18,5 milhões de doses até o segundo trimestre de 2021, o que, estranhamente, foi ignorado pelo governo, que só retornou o contato em novembro. Neste contato de agosto, o fornecimento de doses era o seguinte: 1,5 milhão em 2020, 3 milhões no primeiro trimestre de 2021 e 14 milhões até o segundo trimestre de 2021. Total 18,5 milhões.
Em verdade, esta relação foi um verdadeiro “gato e rato”, com o governo sempre “fugindo” das sondagens da farmacêutica. Segundo o CEO da empresa, ao longo do ano, foram cinco ofertas, só a última aceita: (1) 14/08; (2) 18/08; (3) 26/08; (4) 15/02/21 e (5) 08/03.
Ou seja, o contrato de compra de vacinas da Pfizer só veio a ser fechado neste ano, em 08/março, num pacote de 100 milhões de doses, a se iniciar a entrega em setembro agora, com 35 milhões.
Surge então a pergunta que não pode ser evitada. Por que o governo não fechou um contrato logo, lá atrás, em meados de 2020, se foram tantas as tratativas? Mais ainda. Quantas mortes poderiam ter sido evitadas se não tivessem ocorrido tantos adiamentos, tantas idas e vindas?
Na verdade, o presidente Bolsonaro tratou a questão das vacinas de forma política e não pelo enfoque sanitário. 18,5 milhões de doses deixaram de ser fornecidas. O governo ignorou também uma proposta inicial de 70 milhões de doses do imunizante em agosto de 2020. Como pode? E tudo está documentado e “narrado” pelo próprio presidente, nos seus desdéns e embates retóricos inúteis.
Como resultado, o desgaste político se torna inevitável e isso já começa a se refletir nas pesquisas de popularidade do governo.
Uma pesquisa Datafolha, divulgada na quarta-feira, mostra que o ex-presidente Lula teria 41% das intenções de voto para o primeiro turno da eleição presidencial de 2022, e o presidente Bolsonaro 22%. Mostra também que a aprovação a Bolsonaro recuou para 24%, menor nível desde o início do seu mandato, e a rejeição pulou a 45%. Indícios de uma série de decisões e posturas erradas.