A agenda econômica da semana, que começa com os mercados fechados nos EUA nesta segunda-feira, Dia do Presidente (homenagem ao aniversário do primeiro presidente americano, George Washington), terá eventos importantes nos cenários econômico e político locais. No econômico, já na segunda-feira, sai o índice de atividade do Banco Central (IBC-Br) referente a dezembro, que serve de prévia para o dado oficial do Produto Interno Bruto (PIB) do IBGE. Também na segunda, a Fundação Getúlio Vargas divulga a segunda prévia do IGP-M de fevereiro.
Mas o dado de preços mais importante sai na sexta-feira, quando será conhecido o IPCA-15 de fevereiro, prévia da inflação oficial. Poderão ser apresentados ainda os dados de criação de vagas do Caged (sem data definida) relativos a janeiro, e, na sexta-feira, saem também indicadores do mercado de trabalho. Podem sair ainda números da arrecadação federal (sem data definida), além de sondagens da FGV sobre consumo e atividade industrial.
Os últimos suspiros da reforma da Previdência
Mas o mercado deve ficar atento a Brasília, com as últimas tentativas do governo em aprovar a reforma da Previdência. Centrais sindicais prometem protestos e greves em todo o país nesta segunda-feira contra a proposta, prometendo “enterrá-la de vez”.
Mesmo com um texto bastante modificado em relação à proposta original, com várias concessões a segmentos organizados do funcionalismo, como policiais federais, fiscais, professores, servidores públicos mais antigos e outros grupos, o presidente Michel Temer não conseguiu garantir os 308 votos necessários para aprovar a emenda constitucional que daria um equilíbrio mínimo ao sistema previdenciário. A campanha do governo no fim de semana, publicando a foto de uma criança nas capas das principais revistas do país com a frase “Reforma da Previdência hoje para ele se aposentar amanhã”, sem mais nenhum texto ou explicação, sem uma justificativa ou um número do déficit ou do envelhecimento da população, apesar da imensa contracapa em branco, mostra a incapacidade do governo em aproveitar as oportunidades para falar com o grande público.
A intervenção na segurança do Rio de Janeiro surge para tumultuar um pouco mais a situação, já que durante a duração do decreto, que vai até dezembro, não podem ser aprovadas emendas constitucionais. Ao que parece, a reforma ficará mesmo para o próximo presidente e para o próximo Congresso, o que talvez seja mais conveniente, já que deputados e senadores em começo de mandato devem ter mais liberdade para votar uma medida impopular, mas necessária. O adiamento por mais um ano do ajuste terá, porém, impactos nas contas públicas, provocando novas reduções em despesas com investimentos, saúde e educação.
De olho na política monetária dos EUA, inflação na zona do Euro e Japão
No setor externo, enquanto a China celebra a chegada do Ano do Cachorro, até dia 21, as atenções devem se voltar principalmente para a ata do Fonc (Comitê de Mercado Aberto do Federal Reserve, banco central dos EUA). Embora não seja esperada nenhuma mudança significativa, o comitê pode dar pistas sobre o que pensam os diretores do Fed sobre a trajetória dos juros americanos. O receio de uma alta mais forte das taxas balançou os mercados de ações mundiais na semana passada e algum sinal de juros mais altos que o projetado pode voltar a derrubar as bolsas. Nos EUA, saem também o PMI Manufatura, vendas de casas já existentes e o Índice Antecedente.
Na Europa, lembra a equipe de analistas do Banco Votorantim em relatório, o destaque será a rodada de índices de gerentes de compras (PMIs) que medem as expectativas dos executivos das empresas nos principais países, além da apresentação pela Eurostat dos valores finais para inflação da zona do euro em janeiro. Na Alemanha, tem o PMI da Manufatura e PIB do quarto trimestre de 2017. Na França, saem o PMI da Manufatura e a inflação ao consumidor, o IPC. No Reino Unido saem a Taxa de Desemprego e o PIB.
Na Ásia, em meio ao feriado de Ano Novo na China, serão divulgados os números de inflação de janeiro no Japão e o PMI da Manufatura de fevereiro.
Euforia com ativos de risco lá fora: fundamentos econômicos ou excesso de liquidez?
Mesmo com a elevação das taxas de juros dos títulos americanos de 2,6% para 2,9% ao ano, a semana anterior, lembra avaliação do time do banco ABC Brasil (SA:ABCB4), foi marcada por forte alta do índice Standard & Poor’s 500 (S&P 500) e perda de força do dólar. Para os analistas, lá fora, a manutenção de euforia com os ativos mais arriscados não tem fundamentos econômicos, estando baseada mais no excesso de liquidez derivado das políticas monetárias ainda expansionistas dos principais bancos centrais ao redor do mundo. A boa notícia, diz a equipe do ABC em relatório, é que não parece que haverá reversão consistente dessa liquidez no curto prazo. A notícia ruim “é que esta virá, provavelmente, como resultado de algum evento aleatório, como todo grande ajuste”.
Intervenção no Rio de Janeiro e Reforma da Previdência no foco da política interna
No cenário político interno, as atenções mais uma vez estão concentradas na Câmara dos Deputados, com a agenda da reforma da Previdência sendo prejudicada após a intervenção federal, restrita à Segurança Pública, no Estado do Rio de Janeiro.
O decreto, que determina a intervenção, deverá ser analisado e discutido na Câmara, a partir desta segunda-feira, quando deveria entrar em pauta a reforma da Previdência. Com esse fato novo, a matéria ficaria prejudicada, segundo analistas, pois a Constituição proíbe que se vote emendas constitucionais enquanto estiver em vigor a intervenção.
Para economistas, analistas de mercado e cientistas políticos, no entanto, mesmo antes do decreto já seria difícil o governo obter os 308 votos necessários para aprovar a matéria. O governo, por sua vez, tem garantido que não desistiu da votação e estuda medidas jurídicas para suspender provisoriamente a intervenção, abrindo assim uma brecha legal para se votar o projeto da reforma previdenciária.
Medidas provocam apreensão no mercado
Para a equipe do Banco ABC Brasil, a intervenção federal no Rio de Janeiro teria “enterrado de vez” a reforma da Previdência esse ano. Mas o banco vê como um fator positivo para a economia o detalhamento da ata do Copom, “que pode ter aberto espaço para uma nova queda dos juros na reunião de março”.
Na visão de economistas do Banco Fator, uma “coincidência” teria feito com que, às vésperas da data prometida pelo governo para ter início a votação da reforma da Previdência (ou do que restou dela) na Câmara, o governo tenha tomado a decisão de intervir no Rio de Janeiro. “Tal era a expectativa de encaminhamento e aprovação da reforma que o dólar caiu. O CDS e os juros futuros também”, destaca a equipe. “Implicação econômica não há”, diz o relatório.”Implicação política pode haver — inclusive a desmoralização do Estado na hipótese de a intervenção não apresentar resultados convincentes”, dizem os analistas, lembrando que, em caso de sucesso, Temer sairia ganhando.
Huck fora das eleições
No jogo eleitoral, o apresentador Luciano Huck voltou a desistir de ser candidato às eleições presidenciais. As implicações, na avaliação do time do Banco Fator, são relevantes. Isso porque um dos principais nomes vendidos como “novo” e “fora da política” parece ter avaliado que os riscos de sua condição não são poucos. “Dessa forma, uma das principais ‘alternativas do centro’, no caso de Alckmin não decolar, sai do jogo e ameaça alternativas assemelhadas”, afirma a equipe do banco em seu relatório.
IBC-Br sai na segunda-feira
Segundo o Banco Fator, o IBC-Br de dezembro deve mostrar um aumento de 0,3% na variação mensal e de 1,6% no ano. “Se este cenário se concretizar, o sinal para o PIB de 2017 será de alta de 1,02% em relação a 2016”, dizem os analistas, lembrando que este índice registrou em novembro uma variação interanual de 2,8%, o que significou, em termos dessazonalizados, uma alta de 0,49% sobre outubro. A projeção da consultoria LCA para o resultado mensal é de 0,9% e, para o interanual, 1,9%.
IPCA-15 deve apontar desaceleração no acumulado em 12 meses
O IPCA-15, destacam os analistas do Banco Fator, começou o ano dentro do esperado. Acelerou de 0,35% para 0,39% e acumulou 3,02% em 12 meses. Os núcleos, excluindo itens mais voláteis, como alimentos e combustíveis, por sua vez, continuaram mais perto do piso da meta de inflação do BC, de 3%, do que de seu centro, de 4,5%, com a média em 3,43%.
“A lenta aceleração da inflação passa a ocorrer dentro do esperado, com recuperação dos preços dos alimentos e manutenção do padrão dos demais preços”, diz o Fator. A expectativa de que o IPCA oficial caminhe para pouco abaixo de 4,0% este ano se mantém, avalia o banco. “Nossa projeção do IPCA-15 para fevereiro é de uma alta de 0,49% (variação mensal), o que levaria o índice de preços a 2,97% em 12 meses”, espera o Fator. Já a LCA projeta 0,38% na variação mensal e 2,86% em 12 meses.
Caged poderá sinalizar saldo positivo de vagas em janeiro
O mercado de trabalho, segundo os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), enfrentou em dezembro o segundo mês seguido de cortes, com o saldo negativo de 328,5 mil postos de trabalho, destacam os analistas do Fator. Neste período do ano fechamento de vagas é comum, contudo, o corte de 2017 foi 28,5% inferior em relação ao registrado no último mês de 2016.
“Tal resultado indica o retorno do indicador a nível muito próximo de zero no acumulado em doze meses, fortalecendo a estimativa de saldo positivo de 900 mil vagas em 2018”, destaca a equipe do banco, lembrando que os valores para janeiro devem ser divulgados dentro das próximas duas semanas.
“Depois de três anos no vermelho, o saldo do Caged em janeiro deve ser positivo em cerca de 20 mil vagas, levando o acumulado de doze meses de -123mil vagas para -62 mil”. Os destaques viriam de construção civil e agropecuária.
Arrecadação Federal
A Receita Federal apresentou a arrecadação de R$ 137,84 bilhões em dezembro. Acumulou-se, assim, R$ 1.342,4 bilhões no ano, alta de 4% em relação a 2016. “Estimamos arrecadação total (impostos, contribuições e outras) de R$ 148,4 bilhões em janeiro de 2018, 8% acima do verificado em janeiro de 2017”, projeta o Banco Fator.
Os destaques viriam de Imposto de Importação e IPI de automóveis, imposto de renda, contribuição social, PIS e Cofins de empresas não financeiras e arrecadação previdenciária, e a recuperação da atividade deve continuar favorecendo a arrecadação ao longo do ano.