Nos últimos tempos, temos presenciado uma quebra na aplicabilidade do antigo ditado entre os investidores da bolsa de valores, conhecido como“Sell in May and go away” ("venda em maio e vá embora"). Esse padrão não parece mais ser válido para os investidores da bolsa de valores brasileira. No mês de maio do ano passado, por exemplo, o Ibovespa registrou um aumento de mais de 3%. Em 2021, esse índice subiu quase 6%. Mesmo durante o período de extrema volatilidade observado em 2020, os ganhos atingiram 8,5%. No mais recente mês de maio, o índice da bolsa de valores brasileira apresentou um avanço de 3,74%.
Cenário internacional, EUA & China
No mês de maio deste ano, tanto o mercado de renda fixa quanto o mercado de renda variável avançaram, diante de eventos importantes tanto no âmbito internacional quanto doméstico. Começando pela economia americana, o Federal Reserve (Fed) decidiu por mais uma alta de 0,25 ponto percentual nas Fed Funds, alcançando o intervalo de 5,00 – 5,25% ao ano, enquanto a inflação ao consumidor (IPC) no acumulado de 12 meses de abril foi de 4,9%, ligeiramente abaixo do observado no mês anterior (5,0%) e o PCE, o Índice de Preços para Despesas com o Consumo Pessoal, um dos principais indicadores para a decisão de juros do Fed, acelerou de 4,2% para 4,4% em abril, aumentando a expectativa do mercado para mais uma alta de 0,25 p.p. nos juros americanos na reunião do dia 14 de junho.
Contudo, o cenário de mais uma alta nas Fed Funds na próxima reunião não se sustentou, especialmente diante o impasse sobre o teto da dívida, o qual elevou a tensão nos mercados e consequentemente na imprevisibilidade de curto prazo e, como resultado, observamos o aumento de 26 pontos-base, nos rendimentos dos títulos públicos de 2 anos comparativamente aos de 10 anos, em 7 pontos-base, chegando a 4,4% e 3,64% respectivamente em maio.
Em todo esse cenário do mês na economia americana, observamos um aumento da volatilidade do dólar, levando a uma desvalorização da divisa cambial brasileira de 1,73%, que fechou em R$/US$ 5,073. Sobre o mercado de capitais americano, o S&P ficou praticamente estável em maio, com alta de 0,25% e o Dow Jones com forte queda, 3,49%, com a Nasdaq na contramão, alta de 5,80%, sustentada pelo otimismo do setor de tecnologia.
Ainda no contexto do cenário internacional, os dados econômicos da China atestaram uma retomada mais branda das atividades no início do segundo trimestre, com a produção industrial avançando 5,6%, ante expectativa de 10,9%, as vendas do varejo 18,4%, ante expectativa de 21%, ambas no comparativo anual, além do recuo do PMI industrial, o índice de gerente de compras, para aquém dos 50 pontos, indicando contração desse setor nos próximos 2 a 3 meses.
Nesse sentido, o cenário que se desenhou ao longo do mês foi o de aumento de incerteza nas maiores economias do mundo, sendo refletida no recuo dos preços dos preços futuros das commodities ao longo do mês, como o Petróleo Brent (-11,97%), a soja (-8,44%) e o minério de ferro, que caiu quase 6%, ou seja, um reflexo de uma possível fraqueza da atividade econômica mundial.
Brasil: espaço para o início do corte da Selic
No Brasil, o Banco Central tomou a decisão de manter a taxa básica de juros, Selic, em 13,75% ao ano, reforçando uma postura cautelosa em relação aos próximos passos. Em outras palavras, espera-se que a Selic permaneça inalterada na próxima reunião marcada para o dia 21 de junho. No entanto, o mercado aguarda hoje por uma indicação sobre a possibilidade de redução da taxa básica de juros no segundo semestre do ano. Essa expectativa é baseada em dois principais motivos.
Primeiramente, o crescimento de 1,9% do PIB no primeiro trimestre, impulsionado pelo setor agropecuário, foi um fator determinante. Por outro lado, setores como serviços e indústria enfrentaram desafios, o que sinaliza possíveis dificuldades nos trimestres seguintes.
Dessa forma, o mercado está atento a qualquer sinalização do Banco Central em relação a uma possível redução da taxa básica de juros. Essa medida seria uma resposta às condições econômicas e à necessidade de impulsionar setores que enfrentam desafios, buscando estimular o crescimento econômico de forma equilibrada. A decisão do Banco Central terá um impacto significativo nas perspectivas dos investidores e nas estratégias adotadas pelos agentes econômicos nos próximos meses.
Segundo pela inflação ao consumidor, IPCA, que trouxe uma leitura melhor do que a esperada, com um recuo em 12 meses findos em abril para 4,18%, abaixo dos 4,65% observados no mês anterior. Além disso, a prévia da inflação (IPCA-15) de maio trouxe ainda mais otimismo para as expectativas do mercado, com melhorias tanto no núcleo de inflação quanto no índice de difusão, ambos indicando menores riscos inflacionários pela frente. Além disso, houve mais uma deflação no IGP-M, para (-1,84%). O cenário influenciou no recuo das taxas dos contratos futuros de juros, com o DI129 passando de 12,12% no início do mês para 11,28% no último dia de maio.
Diante do cenário exposto, o mês foi marcado pela continuidade do fechamento da curva de juros longos, favorecendo a performance dos investimentos em renda fixa. Em relação aos títulos de crédito privado, o IDA-DI avançou 2,31% em maio, enquanto o IMA-B 1,77% e o CDI 1,12%.
No mercado de renda variável, o otimismo foi observado em mais um mês, com o Ibovespa registrando alta de 3,74% em maio, impulsionado por dados mais positivos de inflação no Brasil assim como pela melhora do ambiente fiscal, após a votação do texto do arcabouço fiscal na Câmara. Neste cenário, o indicador dos fundos imobiliários apresentou um aumento ainda maior, de 5,43%, no mesmo período, explicado pela performance positiva dos fundos de papel.
Nuvens se dissipam para as decisões de investimentos
A melhoria do cenário doméstico observada em maio traz consigo perspectivas positivas para o fim das políticas contracionistas adotadas pelo Banco Central brasileiro. Essa mudança é justificada pela expectativa de um maior controle da inflação e, simultaneamente, pelo avanço do arcabouço fiscal no Congresso, fortalecendo a estabilidade e a confiança no cenário econômico.
Essa conjuntura cria oportunidades tanto no mercado de renda fixa quanto no mercado de renda variável, especialmente quando se considera as ações locais que estão sendo negociadas com valuations descontados. Diante deste cenário, é possível que sejam tomadas decisões de investimento mais otimistas, vislumbrando um potencial de retorno mais elevado.