Quem acompanha meus vídeos de Fechamento de Mercado sabe da minha relutância em comprar o rompimento de 117/118 mil pontos em vista do fraco volume no mercado como um todo. Então, levando em conta que a entrada de fluxo é muito importante nesse tipo de estratégia, não paguei para ver. Na rolagem do Ibovespa Futuro, chegamos ao topo intermediário de fevereiro na faixa de 121 mil pontos.
Poderia, em minha defesa, ficar aqui glorificando os calls de compra em Taesa (SA:TAEE11), Equatorial (SA:EQTL3), Cesp (SA:CESP6), Engie (SA:EGIE3), Weg (SA:WEGE3), EzTec (SA:EZTC3) e Direcional (SA:DIRR3) quando o mercado testou 108 mil pontos. Contudo, nada mais instrutivo (e de lição própria) que usar este espaço para explorar a minha tomada de decisão e traçar um paralelo com a série sobre vieses comportamentais, que estou publicando aqui no Investing.
Já falamos sobre a ilusão do controle e sua importância na tomada de risco, como também o excesso de confiança, que nos leva a comprar no topo e vender no fundo. Agora, vou falar do viés conhecido como Falácia do Jogador.
Em termos teóricos, a falácia é um raciocínio que parece lógico e verdadeiro, porém tem alguma falha de interpretação no meio do caminho que, no final das contas, torna-lhe falso. A Falácia do Jogador nos concede o seguinte conceito: é uma falácia acreditar que os eventos passados vão influenciar os eventos futuros.
Esse viés cognitivo é primo da teoria do random walk do livro “A Random Walk Down Wall Street” (Burton G. Malkiel, editora Paperback, 2007), que discute a aleatoriedade do preço das ações e bate de frente com vários conceitos da análise técnica.
Sem entrar na história do cassino de Monte Carlo, que deu origem ao termo Falácia do Jogador, o tema em discussão é:
i) estudar o mercado em busca de padrões é uma perda de tempo?
ii) não existe a possibilidade de identificar janelas de oportunidades para investir?
Em termos práticos de tomada de decisão no mercado financeiro, cair na Falácia do Jogador é acreditar que a ocorrência de um fator, que, por pressuposto, é aleatório, irá gerar um aumento da probabilidade deste resultado nas próximas ocorrências. Ou seja, é um erro acreditar que haverá a repetição de um padrão uma vez que tudo é aleatório.
Colocando isso no meu exemplo, começamos abril indo testar pela terceira vez a faixa de 117 mil pontos com volume muito abaixo da média, e, levando em conta os conceitos dentro da análise técnica de resistência (força vendedora) e do giro financeiro para corroborar um movimento (no caso rompimento), minha análise caiu na Falácia do Jogador uma vez que coloquei maior probabilidade do não rompimento.
Cenários e fundamentos
Pensando em um jogo de dados, seria acreditar que se caiu o número 3 por 8 vezes, seria mais provável cair o número 3 do que qualquer outra face do dado, sendo, na verdade, que a probabilidade é igual e realmente não faz sentido pensar nisso. E neste ponto que entra a minha defesa que DEVEMOS estudar o mercado antes de investir para ter uma tomada de decisão mais racional possível e NÃO deixar o acaso decidir sua hora de investir (comprar todo dia 15).
Errei? Sem dúvida, mas não foi nenhuma aleatoriedade que fez isso, mas sim o setor de commodities, em especial metálicas, que levou sozinho o mercado para 121 mil pontos. Então, o erro foi não estar posicionado no setor correto que está intimamente ligado à recuperação global, em especial da China. Ou seja: faltou diversificar melhor a carteira. Como ter feito isso? Faltou acreditar na manutenção da tendência de alta das commodities e dos papéis.
Na verdade, cair na Falácia do Jogador é comprar apenas pelo fato de ter caído ou vender por ter subido muito, na crença que tudo vai retornar para a média ou coisa do tipo, ignorando fatores macro, fundamentos da empresa ou até mesmo um início de uma reversão de tendência.
Por fim, sou muito mais errar, mas, acima de tudo, respeitar minha estratégia e quando desconfigurada aceitar o erro para recomeçar/identificar novas oportunidades, do que simplesmente me render a tal aleatoriedade do mercado.
Hoje, de fato perdi boas oportunidades de compra entre 117 - 121 mil pontos, como em commodities metálicas e agrícolas, mas, meses atrás, foi esse mesmo estudo de cenário que evitou comprar aos 125 mil pontos e entrar com maior tranquilidade em 108 mil pontos.
Portanto, vou seguir gastando meu tempo para criar um cenário e na busca da melhor relação de risco x retorno para meus investimentos, mesmo que, por vezes, caia na Falácia do Jogador.