As decisões mais recentes do Fed e do Banco Central Europeu trouxeram sinalizações claras que os ciclos de aperto de juros não terminaram e que uma dinâmica benigna da inflação de curto prazo não significa que o trabalho esteja feito.
Apesar da comunicação, a reação dos ativos após as decisões não incorporou o risco de as taxas de juros ficarem mais altas por um período mais longo.
Embora a inflação corrente esteja elevada, as curvas de juros futuras também refletem um risco de recessão econômica e a visão do mercado de que o indicador no horizonte de 1 ano à frente cairá rapidamente, o que é refletido no comportamento da curva de inflação implícita.
Uma confirmação de um ou dois cenários acima afetará os preços dos ativos, em especial, a curva de juros das treasuries.
O Fed reafirmou que o processo de aperto não está concluído e que as taxas deverão ser elevadas para pelo menos 5,25% ao ano. Apesar disso, o mercado precifica o início dos cortes de juros a partir de setembro desse ano, o que parece prematuro.
Avaliamos que a economia americana segue resiliente, como confirmado pela abertura de 517 mil vagas em janeiro e o desemprego atingindo o patamar mínimo de 3,4%.
Nosso cenário é que os Fed Funds serão elevados para pelo menos 5,25% ao ano e os cortes de juros ocorrerão somente a partir de 2024, quando as projeções de inflação de 2025 indicarem convergência para a meta.
No Brasil, as incertezas fiscais seguem elevadas e a discussão sobre a mudança da meta de inflação adiciona um desafio para a coordenação das suas expectativas, em especial de 2024 em diante.
No comunicado da última decisão, o Copom enfatizou que os custos de desinflação se elevaram diante dos riscos fiscais e da “desancoragem” das expectativas. As simulações apontam pouco espaço para cortes na Selic.
Assim, nosso cenário base mostra um IPCA para 2023 em 6,25%, com apenas uma queda da taxa básica de 50 bps para 13,25% ao ano na reunião de dezembro.
Olhando para a renda fixa doméstica, a continuidade de incertezas fiscais e a discussão sobre a meta de inflação justificam uma posição neutra nos contratos futuros DI janeiro 2024, janeiro 2025 e janeiro 2027.
Por outro lado, a proteção contra surpresas inflacionárias juntamente com os elevados cupons dos títulos justificam a compra da NTN-B de vencimento 2025.
Nos fundos imobiliários, o fim do impacto negativo da inflação mais baixa do segundo semestre do ano passado, juntamente com a expectativa de que as surpresas inflacionárias serão para cima no primeiro trimestre, justificam uma posição comprada na subclasse de FIIs de recebíveis indexados à inflação e/ou com posições em CDI +.
Na renda fixa global, a divergência da precificação do mercado frente às sinalizações do Fed e a resiliência da economia americana justificam uma posição tomada nas treasuries de dois e dez anos.
A dinâmica mais favorável da economia nos EUA e o processo já adiantado de enfraquecimento do dólar justificam a posição neutra da moeda contra o euro e o iene.
No caso do real, a reabertura da China e a alta dos preços das commodities beneficiarão os países exportadores, o que deve fortalecer o real e justifica posição comprada.
Na renda variável, a intensificação da flexibilização da política de Covid zero pelos chineses introduz um potencial de valorização nas empresas ligadas às commodities. Os setores defensivos voltam a ser preferidos devido às incertezas locais.
A desaceleração doméstica justifica posição neutra nas companhias ligadas ao ciclo interno. No caso das estatais, seguimos neutros devido às incertezas de como serão geridas.
Com relação às bolsas globais, a expectativa de abertura das taxas de juros das treasuries e queda de lucros corporativos implicam em posição vendida do S&P 500.
A rápida flexibilização das restrições devido à Covid-19 e a injeção de liquidez para o mercado imobiliário chinês justificam a manutenção da posição comprada no MSCI de emergentes.
A bolsa de Shangai, que será o principal mercado acionário beneficiado pela dinâmica favorável da economia chinesa, também justifica a manutenção de posição comprada.
Nas commodities energéticas, a expectativa de demanda por conta da China aponta para a manutenção de posição comprada em petróleo. Nas metálicas, a expectativa de continuidade de demanda no minério de ferro e cobre justifica posição comprada. A boa safra, por sua vez, pede posição vendida nas agrícolas.
Bons negócios e até o próximo artigo!