Riscos Fiscais no Horizonte

Nos EUA, quinta-feira foi de euforia, com os balanços (dos bancos) “bombando” e o PPI mais controlado. No Brasil, um descolamento ocorreu, com o mercado ressabiado com a mudança do ICMS, mudanças nos auxílios sociais e a inflação rondando. A impressão é que o governo segue “fazendo a cama”, de olho nas eleições de 2022. A mudança do ICMS nada mais é do que um “subsídio disfarçado” aos consumidores de combustíveis, bancado pela redução das receitas dos Estados.

Assim, o dólar terminou o dia valorizando 0,13%, R$ 5,5161, mesmo com a injeção de Us$ 1 bilhão pelo Bacen e o megaleilão de títulos prefixados, puxando os juros futuros, destaque para os intermediários. Foram US$ 2 bi em dois dias, em swaps cambiais extras, colocados pelo Bacen, e nem assim o dólar cedeu. Piorando, o petróleo voltou a subir, pressionando a inflação dos combustíveis. No Ibovespa, o dia foi de “realização”, recuando 0,24%, a 113.185 pontos. Em NY, a trajetória foi outra. As bolsas registraram ganhos firmes, em torno de 1,5%, depois dos balanços dos bancos agradarem. O dólar recuou forte, assim como os rendimentos dos treasuries.

1. Sobre os receios domésticos, o fiscal segue na pauta, ainda mais depois de estudos mostrando a necessidade de correções para o Bolsa Família e extensão do auxílio emergencial por dois anos. Há uma clara percepção aqui de que tais decisões possuem um caráter puramente eleitoral, mais se assemelhando aos “votos de cabresto” do “Nordeste dos Coronéis”, em passado recente, e também no ciclo lulo-petista, sempre com agrados ao povão nas vésperas dos pleitos eleitorais.

2. No foco destes receios, reajuste do Bolsa Família e prorrogação do auxílio emergencial com custo estipulado de R$ 27 bilhões. Isso pode se tornar uma alternativa se o Auxílio Brasil não sair, já que depende da aprovação da Reforma do IR. Cálculos indicam o reajuste do Bolsa Família, de R$ 220 a R$ 225 e um complemento do auxilio emergencial em R$ 75, elevando a R$ 300. Lembremos que o auxílio emergencial vence agora em outubro.

3. O que é fato. Já foi dito ali atrás. Pesquisas eleitorais recentes mostram Lula da Silva em larga vantagem contra Jair Bolsonaro, não descartando que ele nem chegue ao segundo turno. A desgastá-lo ainda mais, sua postura frente à pandemia, teimando no kit Covid, cloroquinas e outras bobagens. Sendo assim, seu esforço vem sendo anunciar medidas de caráter eleitoral, a agradar as camadas de baixa renda ainda mais no Nordeste, onde o candidato do PT segue bem forte.

4. Falando da economia, pela leitura da diretora do Bacen, Fernanda Guardado, o banco não mudou na sua forma de atuação no mercado cambial, nem está atrás de um patamar para a taxa de câmbio. Seu objetivo é evitar excessiva volatilidade e incertezas. Para ela, há bastante incerteza no ar (sobre a inflação), mas parece claro que o banco se move. “Há algum conforto com o ritmo de ajustes da Selic, em um ponto percentual por reunião, mas não descartamos uma mudança de ritmo, dado o cenário muito volátil”. No cenário fiscal, “o que está sendo feito é determinado no Orçamento”. Destaca ela que os riscos fiscais são fato e que há incertezas na economia global. O rumo nos desenvolvidos é de desmonte dos estímulos, à la QE, e início dos apertos. Na “janela móvel de horizonte estamos olhando para 2022 e 2023”.

5. Neste cenário de juro mais elevado e inflação rondando, o setor de construtoras começa a sentir o tranco e registrar queda nas vendas. As vendas líquidas da Cyrela (SA:CYRE3) e da Even (SA:EVEN3) vieram abaixo das expectativas no terceiro trimestre. Tem-se neste setor o encarecimento dos insumos de construção, forçando as empresas a repassar tais custos para os clientes, e a elevação do juro tornando o financiamento mais caro.

6. Sempre pensando nos dividendos políticos das suas decisões, mesmo que intempestivas, sempre no rompante, no voluntarismo, Jair Bolsonaro já comunicou que irá determinar ao ministro das Minas e Energia, Bento Albuquerque, a retirada da bandeira escassez hídrica, taxa adicional na cobrança da luz, para o mês de novembro. O que é fato. Um ponto a me intrigar foi a decisão do presidente de acabar com o horário de verão. Sabendo-se da economia de energia obtida, até hoje não compreendo esta decisão. Implicância boba? Com certeza.

7. Técnicos do Congresso estimam as dívidas judiciais (precatórios) em torno de R$ 118,9 bilhões até 2025. Até 2030 podem chegar a R$ 346 bi. Estas estimativas consideram um índice de 10% de pagamento do estoque com desconto de 40% para o setor privado, realizando antes da expedição dos precatórios.

8. A grande incorporadora, China Evergrande Group (HK:3333) (OTC:EGRNY), já reconhece não ter como arcar com a sua dívida, de US$ 300 bilhões. Nos últimos vencimentos, o calote foi norma. Com isso, os preços de residências começam a recuar na China, se espalhando em mais da metade das províncias. Isso acontece pela primeira vez em mais de seis anos

9. No desempenho global das bolsas de valores, Dow Jones se destaca entre as melhores, rentabilizando 34,3% neste ano, com a bolsa da Rússia em seguida, 34,2%, e a S&P 500 +18,2%. Dentre as piores, o Ibovespa recua 11,0% e China 12,9%.

Indicadores

Nos EUA

Pedidos de Auxílio-desemprego. Atingiram 293 mil na semana encerrada em 9 de outubro, quando a previsão era de 319 mil. Isso mostra uma economia mais aquecida do que o esperado.

PPI de setembro. O índice de preços ao produtor (PPI em inglês) dos EUA subiu 0,5% em setembro ante agosto (0,7%), em consenso com o mercado (0,6%). O núcleo avançou 0,2%, contra projeção de 0,5%.

No Brasil. Volume de serviços subiu 0,5% em agosto, contra julho, acumulando 6,5% em cinco meses. Assim, o setor se encontra 4,6% acima de fevereiro de 2020, pré-pandemia, no patamar mais elevado desde novembro de 2015.

Mercados

No Brasil, o Ibovespa fechou quinta-feira (dia 14) em boa queda de 0,24%, a 113.185, se descolando das bolsas de NY. Já o dólar encerrou o dia em alta de 0,13%, a R$ 5,5161, mesmo com as intervenções do Bacen, já tendo colocado US$ 2 bilhões em contratos de swap extra.

Na madrugada do dia 15/10, na Europa (04h05), os mercados futuros operavam com ganhos: DAX (Alemanha) avançando 0,13%, a 15.483 pontos; FTSE 100 (Reino Unido), +0,40%, a 7.236 pontos; CAC 40 +0,44%, a 6.714 pontos, e EuroStoxx50 +0,45%, a 4.167 pontos.

Na madrugada do dia 15/10, na Ásia (05h05), os mercados operaram em alta: S&P/ASX (Austrália), +0,69%, a 7.362 pontos; Nikkei (Japão) +1,81%, a 29.068 pontos; Kospi (Coréia), +0,88%, a 3.015 pontos; Shanghai +0,40%, a 3.572, e Hang Seng, +0,94%, a 25.256 pontos.

No futuro nos EUA, as bolsas de NY operavam em ALTA neste dia 15/10 (05h05): Dow Jones avançando 0,33%, a 34.898 pontos, S&P 500, +0,26%, a 4.440 pontos, e Nasdaq +0,22%, a 15.086 pontos. No VIX s&p500, 17,57 pontos, RECUANDO 0,18%. No mercado de Treasuries, US 2Y avançando 1,86%, a 0,3606, US 10Y +1,65%, a 1,544 e US 30Y, +1,09%, a 2,047. No DXY, o dólar -0,08%, a 93,888, e risco país, CDS 5 ANOS, a 207,9 pontos. Petróleo WTI, a US$ 82,03 (+0,89%) e Petróleo Brent US$ 84,84 (+1,00%). Gás Natural em queda de 0,86%, a US$ 5,736.

Estimativas da AIE são de que o consumo de petróleo deve ultrapassar os níveis pré-pandemia em 2022. Para 2021 as estimativas da AIE passaram a alta de 170 mil barris diários, totalizando 5,5 milhões bpd. Para 2022, a elevação foi de 210 mil barris diários, totalizando 3,3 milhões bpd. A agência acha que a crise atual deve incrementar entre setembro e primeiro trimestre de 2022 a demanda de mais 500 mil barris dia.

Na agenda desta sexta-feira (15), o IGP-10 de outubro e o IBC-Br de agosto do Bacen. Na Zona do Euro, temos a balança comercial de agosto. Nos EUA, as vendas do varejo de setembro, e o Fed de NY divulgando o Índice Empire State e a Universidade de Michigan anunciando a prévia da Confiança do consumidor em outubro. Nos balanços, o banco Goldman Sachs (NYSE:GS) (SA:GSGI34)e Honeywell.