Com certeza a noite do último dia 17 de maio foi uma das mais difíceis para os investidores do mercado brasileiro. Pouco mais de uma hora após o encerramento dos negócios, o mercado foi transfigurado em histeria com o vazamento da delação da JBS (SA:JBSS3) envolvendo o atual presidente da república, Michel Temer, e as possíveis consequências. O desespero tomou conta e, ato contínuo, o índice (NYSE:EWZ) (ETF do Ibovespa negociado no Estados Unidos) despencou mais de 10%. Especulações sobre a queda do Presidente ganharam força no dia seguinte. A possibilidade de um desmonte das reformas em andamento também foi colocada como uma realidade por grande parte dos investidores. Em respeito aos clientes e ao mercado, a Eleven prontamente se manifestou, em carta aberta, ainda na noite de quarta-feira. Ali, lembramos que este foi um momento de pânico e não mudança de fundamentos.
A reação do mercado no dia seguinte foi irracional. Ibovespa e dólar rapidamente atingiram os limites de baixa e alta respectivamente, mas o destaque ficou com o movimento da curva de juros: em uma variação sem precedentes, os DIs (juros futuros) saltaram mais de 150 bps no pregão, enquanto as NTN-Bs derreteram – com taxas saltando de algo próximo a 5% para quase 6% ao ano. Mas afinal de contas, o que mudou? O cenário de inflação mudou? O Banco Central deve subir juros? A agenda reformista será alterada? Não. Muito pelo contrário, acredito que a JBS abriu a maior oportunidade de investimento em Renda fixa dos últimos meses.
Depois de um longo período vivendo com a inflação acima da meta, o indicador perdeu forca em meados de 2016 e, nos últimos meses, essa trajetória se acentuou ainda mais. O processo de desaceleração inflacionária tem se demostrando persistente nos últimos meses, sendo o mês de abril uma demonstração ainda mais clara deste movimento, no qual o índice oficial ficou abaixo do centro da meta, fato que não acontecia desde 2010. Esse momento pode ser entendido como consequência da forte queda dos preços dos alimentos, desemprego em patamar elevado e apreciação cambial (que tem efeito defasado sobre os preços). O Índice de Preços ao Consumidor Amplo – IPCA, principal indicador de inflação ao consumidor, mais uma vez apresentou forte desaceleração no mês de abril, resultando em inflação de 4,08% acumulada nos últimos 12 meses.
Agora, como o agravamento desse possível “crise” pode prejudicar o movimento inflacionário? Nesse cenário de desestabilização institucional disseminado pelo mercado, a atividade seria impactada para baixo. Caso isto se materialize, a combinação de retração econômica tende a compensar impactos eventuais de uma desvalorização do Real. Além disso, a agenda de reformas não é mais um ativo do governo Temer ou qualquer outro. As mudanças estruturais no Brasil caracterizam-se como agenda do brasileiro e não mais de políticos. Portanto, não vejo como um novo governo fugiria da rota das reformas, mesmo porque a presidência está fragilizada em sua estrutura.
Do lado da política monetária, a realidade de inflação abaixo da meta, combinada com atividade ainda em ritmo moderado, não justifica a manutenção do juro real em patamar superior a 5%. No próximo dia 31, o Copom vai divulgar o futuro da taxa Selic. Estimo que caia 100bps para 10,25% a.a.. Com a decisão do Banco Central, o comunicado e ata devem deixar claro que ciclo de afrouxamento monetário continuará.
Dito tudo isso, não há fundamentos que justifiquem a manutenção dos juros nominais e reais nos níveis atuais. O movimento visto no último dia 18, desencadeado pela delação da JBS, abriu um excelente espaço para entrar ou aumentar os investimentos em Renda Fixa.