A manutenção da taxa de juros pelo FED na reunião de junho e o anúncio do acordo para o teto da dívida americana são eventos importantes que permitirão que o cenário global entre em uma nova fase. Este período será de espera da materialização dos efeitos defasados do aperto realizado pelo FED e de redução da inflação para a trajetória das metas, o que deverá induzir a volta do apetite de risco dos investidores.
A economia americana deverá desacelerar no 2ºtrimestre, mas a situação patrimonial robusta das famílias e das empresas permitirá o “soft landing” da atividade. O choque das cadeias de produção tem revertido e a pressão do custo de moradia diminuirá com a redução dos aluguéis e do preço da energia, em especial do gás natural.
Assim, o FED acompanhará a confirmação da trajetória gradual de desinflação, que fará com que o núcleo do PCE recue para 3,5% em 2023 e 2,5% em 2024. O eventual corte de juros deve ocorrer em meados de 2º trimestre de 2024 com a inflação apontando para 2% em 2025.
Na China, as indicações de que a economia perdeu velocidade de recuperação no 2º trimestre, com foco maior na indústria e na construção civil, colocaram em dúvida o cenário de crescimento, algo que se traduziu em queda no preço do minério de ferro e cobre.
Avaliamos que o governo lançará medidas de estímulo para alguns setores específicos e reduzirá a taxa de juros, pois a inflação segue baixa e bem ancorada. Por isso, seguimos com a expectativa de 6% para o crescimento chinês em 2023.
No Brasil, a tramitação do arcabouço fiscal no Congresso confirmou a expectativa de aperto das regras em relação ao texto original, com a exigência de contingenciamentos em caso de descumprimento da meta de resultado primário e inclusão de despesas na regra.
A conclusão da votação da regra retira uma fonte de risco do cenário e abre espaço para que o Banco Central possa flexibilizar os juros ao longo do 2º semestre deste ano.
A desinflação segue como um desafio, mas há sinais favoráveis como o choque deflacionário de alimentos e menor pressão de bens. Os preços de serviços seguem elevados, refletindo um mercado de trabalho ainda apertado.
Por isso, mantemos a expectativa de um ciclo de corte de juros iniciado em setembro com a Selic podendo chegar a 12,50% a.a. em dezembro.
Na renda fixa doméstica, a conclusão da tramitação do arcabouço reduzirá o risco fiscal e elevará as chances de o Banco Central reduzir os patamares da Selic ao longo de 2024.
Entretanto, a curva curta já embute o cenário de cortes que acreditamos no curto prazo, o que justifica posição neutra no vértice de janeiro de 2024 e janeiro de 2025.
A redução do prêmio de risco fiscal juntamente com os elevados cupons dos títulos sugerem a compra da NTN-B 2050. Por outro lado, ter estratégia que inclua inflação implícita de dois anos pode ser uma proteção interessante caso o governo insista em estimular a economia no curto prazo em oposição ao ajuste requerido.
Na renda fixa global, a curva de juros futura reduziu a probabilidade de mudança na política monetária do FED no 2º semestre de 2023, tornando a posição neutra em treasuries de dois anos mais adequada.
Por outro lado, a expectativa de uma política monetária ainda dura por mais tempo faz com que as treasuries de dez anos façam sentido para o investidor.
O fim do ciclo de aperto de juros e a provável continuidade de alta pelo Banco Central Europeu pedem posição vendida do dólar frente ao euro.
No caso do real, a expectativa de enfraquecimento da moeda norte-americana e a redução do risco fiscal deve favorecer o fluxo de entrada de investimentos estrangeiros no mercado de capitais brasileiro, justificando a compra da moeda brasileira.
Além disso, a aprovação da regra que organiza as contas públicas, ainda que de forma parcial, aumenta a probabilidade de redução de juros pelo Banco Central no 2º semestre e favorece a posição tomada na renda variável. O setor doméstico passa a ser o preferido frente a um cenário mais provável de corte da Selic.
Por outro lado, a redução das incertezas locais torna mais adequada uma alocação neutra nos setores considerados mais defensivos. A recuperação das ações ligadas ao ciclo global ao longo de maio também pedem neutralidade em relação aos ativos ligados a este movimento.
Nos fundos imobiliários, a queda da taxa de juros longa e dos títulos indexados à inflação devido à redução do risco fiscal favorece a classe de ativos, e, além disso, há descontos elevados em fundos de recebíveis e de tijolo, que apresentam oportunidades de alocação.
Nas bolsas globais, a boa performance das ações de tecnologia e o fim do ciclo de aperto monetário do FED justificam posição neutra no S&P 500. A menor aversão ao risco dos investidores globais e a expectativa de estímulos do governo chinês favorecem a compra do MSCI de emergentes. A bolsa de Shangai deverá ser beneficiada e também justifica a manutenção de compra.
Nas commodities energéticas, o corte de produção sustenta uma estratégia otimista em relação ao petróleo. Nas metálicas, a expectativa de estímulo na economia e redução de juros pelo Banco Central Chinês justificam a compra. Já a boa safra indica venda nas agrícolas.
Até o próximo artigo e bons negócios!