A paridade real/dólar evidenciou uma apreciação da moeda brasileira, porém a leitura mais assertiva é que houve uma depreciação do dólar externamente, por isso nos parece que a inflação brasileira e as repercussões nos preços relativos acompanham os picos de alta da moeda americana e são absolutamente inelásticos quando ocorre a apreciação do real, porque as efetivas causas são externas e pouco tem a ver com razões internas, muito embora haja uma corrente que veja na guinada dada pelo Copom no tratamento das taxas de juros internas e aprovação do orçamento tenham peso no fato.
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No nosso entendimento, estes fundamentos atributivos não se sustentam e a economia real não os sanciona e deixa os preços onde foram parar no pico das altas da moeda americana, até porque os investidores estrangeiros não afluíram para o Brasil após os fatos, o fluxo cambial evidencia isto desde março.
As razões efetivas decorreram da depreciação do dólar americano no mercado internacional, o que pode mudar a qualquer momento se houver o descolamento para cima das taxas de juros dos títulos americanos, alavancados pela inflação interna americana, que levaria a moeda americana a apreciação.
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O Brasil ainda permanece com suas fragilidades agravantes do risco, embora o CDS esteja em generosos 176 pontos, talvez decorrente do fato de que o país é credor líquido em moeda estrangeira, mas as perspectivas é que o risco até se agrave com o burburinho político se acirrando e perdendo-se o foco nas questões centrais do país, além naturalmente do nível de risco fiscal perdure preocupante.
O viés político acentuado já em clima eleitoral que só acontecerá no próximo ano desfoca de forma relevante os fatores mais importantes demandados pelo país, e este ambiente de acirramento deve ser crescente, razão pela qual as expectativas de que sejam alcançadas do tamanho adequado as reformas administrativas e a reforma tributária vão se tornando menores e devem impactar como fatores internos, afora a crise fiscal, na formação do preço da moeda estrangeira no país.
A possível presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições se tornará em fato relevante e, ao colocar em risco a reeleição do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), acentua a probabilidade do governo ofertar à população, em especial aos mais carentes, benesses para os quais não têm recursos.
Então, o quadro fica fragilizado para tornar o Brasil atraente aos investidores estrangeiros, mesmo com a eventual atratividade de privatizações em determinados setores.
O Ibovespa permanece dependente das empresas de commodities que continuam sendo privilegiadas pelo clima externo de demanda acentuada e que repercutem performances fortalecidas a partir do mercado internacional.
O desemprego, a despeito do otimismo que por vezes extrapola a realidade, deve continuar sendo um desafio e com a pandemia contrariando as expectativas e se alongando, até pela morosidade do processo vacinal da população, não parece recuperável tão facilmente como se poderia esperar.
A renda da população está sendo corroída pela elevada inflação, a partir das commodities combinada com o preço do dólar elevado, não repercutida no IPCA, mas sim no IGP-M, e isto gradualmente vai afetando a capacidade de consumo e alavancando o nível de endividamento pela busca do crédito para equalização com as despesas crescentes.
Então, conclui-se que é coerente o nível de preços relativos não repercutir a apreciação do real, porque o que dá causa é o comportamento da moeda americana no mercado internacional, e desta forma os preços são aviltados sem retorno, e não se criam expectativas de que venham a repercutir como consequência do não entendimento de que a apreciação que se verificou, expressiva, seja sustentável.
O Brasil não dá causa para esta apreciação do real de forma fundamentada, e a fragilização do dólar no mercado internacional pode estar com os dias contados dada a percepção de que a inflação americana seja aquecida fomentada pelos incentivos dados pelo governo americano visando a recuperação da economia, o que repercutirá nas taxas de juros dos títulos do Tesouro norte americano.