Qual o próximo recorde do Ibovespa? Não sei.
Por mais que essa resposta seja extremamente frustrante, é a mais pura verdade. E digo mais, não só eu, mas ninguém realmente sabe.
“Como assim, e aquelas projeções que a minha corretora passa?”
São estimativas, só isso.
Por mais que existam técnicas utilizadas para identificar os próximos “alvos”, estamos falando de futuro e não existe ciência ou talento confiável o suficiente para prever com 100% de certeza o que ocorrerá à frente. Não precisamos voltar muito tempo para provar esse argumento.
O ano de 2020 começou com previsões de que o Ibovespa pudesse chegar a 135 mil, 145 mil pontos ou até mais. O que ninguém esperava, e realmente não era possível estimar, é que enfrentaríamos uma pandemia com efeitos tão negativos e prolongados.
Mas aconteceu. Os mesmos especialistas que diziam em janeiro de 2020 que a bolsa fecharia o ano aos 135 mil pontos, em março do mesmo ano afirmavam que o Ibovespa poderia encerrar 2020 aos 50 mil pontos ou menos. Hoje sabemos que nenhuma das estimativas estava correta.
E aqui não estou criticando as estimativas. Depois que aconteceu, tudo é óbvio. O profeta do acontecido nunca erra. Por mais que em um dado momento a decisão tenha sido outra, aquela sensação de “eu sabia” no período seguinte é muito natural. O nosso cérebro não lida bem com sensações de perda, então qualquer desculpa que alivie a percepção de erro é libertadora.
A questão toda é que talvez damos valor demais à números mágicos. Que diferença faz se a bolsa vai a 135 mil pontos, se a minha carteira de ações cair no período? Se o meu fundo de investimentos não apresenta uma performance adequada?
A energia gasta tentando adivinhar a próxima meta do Ibovespa, se utilizada para entender a própria carteira de investimentos, pode trazer resultados muito mais interessantes no longo prazo. Se a empresa que estamos investindo está com resultados crescentes, o preço da ação irá subir. Pode até não ser no curto prazo, mas o ajuste virá.
Se nos expomos à renda variável através de fundos de ações, por quê não nos dedicarmos a entender o que o gestor e a sua equipe estão fazendo? O que eles estão esperando para as empresas que o fundo investe é muito mais importante do que se o Ibovespa irá de 125 mil para 135 mil até o final do ano.
É lógico que a movimentação do Ibovespa é uma referência para o mercado como um todo, mas se a nossa carteira de investimentos não está totalmente alocada em BOVA11 (ETF que replica o Ibovespa), não será ele que determinará o nosso ganho.
Como eu disse no início, não sei para onde o Ibovespa vai agora, mas acredito que ainda haja um bom potencial de valorização. O que justifica essa minha percepção são 3 pontos principais:
1. Os lucros estão crescentes
A temporada de resultados do primeiro trimestre de 2021 mostrou os lucros das empresas brasileiras de capital aberto mantendo uma trajetória de crescimento em relação aos trimestres anteriores. Ainda que o cenário macroeconômico siga desafiador, o micro apresenta boas perspectivas.
No que diz respeito às expectativas, apenas 23% das empresas trouxeram números abaixo das projeções do mercado, com 48% superando.
2. Fluxo de estrangeiros
O ano passado foi de saída de investidores estrangeiros da nossa bolsa. Por mais que ao longo do tempo a relevância desse grupo tenha diminuído, estão longe de serem irrelevantes. Mesmo com números muito expressivos em novembro e dezembro do ano passado, 2020 encerrou com uma saída de R$ 31,8 bilhões.
2021 já apresenta um saldo positivo de R$ 24,8 bilhões. Acredito que os dados seguirão crescentes pois a nossa bolsa segue atrativa. Entrada de recursos sempre ajuda. “Mas a nossa bolsa não está na máxima?” Sim, em reais.
Como o gráfico acima mostra, em dólares ainda estamos muito longe das máximas. E é isso que o estrangeiro olha. Não podemos esquecer que praticamente todas as bolsas mundiais estão nas máximas, então a procura por ativos descontados acaba sendo intensificada.
Por mais que o Brasil obviamente apresente desafios maiores do que países desenvolvidos, o balanço entre retorno e risco pode estar compensando.
3. Boas empresas/setores com preços atrativos
Em março publiquei um artigo falando que investir em ações não é investir em Ibovespa. Nele falei sobre a representatividade que algumas empresas e segmentos possuem sobre a composição do índice e, consequentemente, sobre a sua variação. Não vou detalhar aqui esse ponto, mas essencialmente ainda temos vários ativos importantes que não desempenharam como poderiam. Se você ficou com curiosidade, modéstia à parte, vale a leitura.
A última temporada de resultados mostrou diversas empresas com resultados melhorando e cujas ações não refletiram isso. Por mais que o noticiário ou o contexto econômico geral não esteja facilitando, em algum momento o ajuste virá. Ocorrendo, teremos o Ibovespa, mas principalmente boas ações e bons fundos apresentando ótimos desempenhos.
Os desafios existem e são grandes, e justamente por isso ainda vejo grandes oportunidades.
Se você chegou até aqui e permite que eu dê uma última sugestão, substitua o “para onde vai o Ibovespa?”, por “como o lucro das empresas que eu invisto está se comportando?”, ou “o que o gestor do fundo está fazendo?”. As respostas para as duas últimas perguntas tendem a gerar mais frutos para os seus investimentos do que número fornecido para a primeira.
Um abraço e até mais.