Se você tem acompanhado os mercados, especialmente nos últimos meses, deve ter notado um movimento interessante nas ações de empresas de energia nuclear. As ações de empresas como Nuscale Power (NYSE: SMR), Oklo (NYSE: OKLO), Cameco (NYSE: CCJ) e Centrus Energy (NYSE: LEU) têm registrado altas, em grande parte devido a acordos inovadores de energia nuclear com grandes empresas de tecnologia.
Este movimento não é apenas uma oscilação passageira do mercado — faz parte de uma tendência maior que traz implicações de longo alcance para os investidores, especialmente à medida que avançamos na era da inteligência artificial (IA). A energia nuclear está claramente retomando seu protagonismo.
O boom da IA e a necessidade de energia
Não é necessário ser um especialista em tecnologia para perceber que a IA está transformando tudo. Desde carros autônomos até análises avançadas de dados, a inteligência artificial está rapidamente se tornando um elemento crucial da economia moderna, avaliada atualmente em US$ 184 bilhões. O que muitos não sabem é a enorme quantidade de eletricidade necessária para operar os data centers que viabilizam a IA.
Empresas como Microsoft (NASDAQ: MSFT), Amazon (NASDAQ: AMZN) e Google (NASDAQ: GOOGL) estão em uma corrida para expandir seus data centers a fim de lidar com essa demanda impressionante, e precisam de grandes quantidades de energia para isso. Segundo uma estimativa, os data centers poderão consumir até 9% da eletricidade dos EUA até 2030, mais que o dobro do consumo atual. Essa demanda energética impressionante gera questões sobre como atender a essa necessidade de forma confiável e sustentável.
O ponto é: fontes de energia renovável, como eólica e solar, por mais populares que sejam, não conseguem atender sozinhas. Elas são intermitentes, o que significa que não fornecem eletricidade 24 horas por dia, 7 dias por semana. É aí que entra a energia nuclear.
O renascimento da energia nuclear
Por anos, a energia nuclear esteve em baixa nos EUA. Altos custos, barreiras regulatórias e o receio do público, decorrente de acidentes como Chernobyl e Fukushima, fizeram com que muitos evitassem a adoção da tecnologia.
Mas os tempos estão mudando. Esta semana, vimos dois grandes anúncios que sinalizam o que acredito ser uma nova era para a energia nuclear nos EUA.
A Amazon assinou acordos para apoiar a construção de vários novos Reatores Modulares Pequenos (SMRs, na sigla em inglês) no Noroeste do Pacífico. Esses reatores, operados pela Energy Northwest, irão eventualmente gerar energia suficiente para atender às necessidades de mais de 770 mil lares nos EUA. Enquanto isso, o Google anunciou uma parceria com a Kairos Power para trazer 500 megawatts de SMRs até 2035.
Talvez o acordo mais impressionante tenha sido da Microsoft, que fechou parceria com a Constellation Energy (NASDAQ: CEG) para reativar a usina nuclear de Three Mile Island — sim, aquela Three Mile Island, agora renomeada como Crane Clean Energy Center. A Microsoft está investindo US$ 1,6 bilhão para restaurar a usina até 2028 e garantir energia livre de carbono pelos próximos 20 anos.
Somando tudo isso, espera-se que 2025 seja um ano recorde para a geração nuclear, com mais da metade dela vindo de China e Índia, segundo a Agência Internacional de Energia (AIE).
Uma oportunidade de ouro para investidores?
O que está levando essas gigantes da tecnologia a investir em energia nuclear? A resposta é simples: a energia nuclear oferece uma fonte confiável e limpa, disponível 24 horas por dia, capaz de atender à demanda imensa dos data centers que utilizam IA. O Instituto de Pesquisa de Energia Elétrica (EPRI, na sigla em inglês) publicou recentemente um relatório mostrando que o consumo de eletricidade dos data centers poderá mais que dobrar até 2030. À medida que a demanda aumenta, fontes tradicionais de renováveis, como solar e eólica, não serão suficientes para fornecer energia contínua às empresas como Amazon, Microsoft e Google.
A longo prazo, essas empresas de tecnologia provavelmente estão fazendo apostas inteligentes. A Bain & Co. projeta que a demanda energética nos EUA pode superar a oferta em poucos anos. Até 2028, as concessionárias precisarão aumentar a geração de eletricidade em até 26% ao ano para acompanhar a demanda projetada. A energia nuclear está bem posicionada para preencher essa lacuna, e não é surpresa que Wall Street já esteja atenta.
Desde que o acordo da Microsoft com a Constellation foi anunciado, as ações de empresas como a Oklo dispararam. A Oklo, que conta com o apoio de Sam Altman, CEO da OpenAI, subiu mais de 166% em outubro. Outras ações ligadas à energia nuclear, como NuScale e Centrus Energy, também registraram ganhos expressivos. Para investidores que buscam exposição às fontes de energia que vão alimentar a era da IA, a energia nuclear pode ser a próxima grande aposta.
O longo caminho pela frente
A energia nuclear ainda enfrenta desafios. Construir novas usinas continua extremamente caro, e a indústria tem enfrentado problemas com estouros de custos por anos. Basta olhar para o acordo da Microsoft com a Constellation — de acordo com o Morgan Stanley (NYSE: MS), a Microsoft está pagando pelo menos 100% acima das taxas de mercado pela energia que receberá de Three Mile Island.
Mas, diante da crescente demanda, isso pode acabar se tornando uma barganha nos próximos anos. A energia nuclear fornece uma fonte confiável e limpa em larga escala, que as renováveis simplesmente não conseguem igualar. Com o consumo global de energia dos data centers projetado para dobrar até 2027, acreditamos que o valor da energia nuclear só vai aumentar.
O que isso significa para você
O que tudo isso representa para os investidores? Com a revolução da IA impulsionando uma demanda massiva por eletricidade, a energia nuclear está em uma posição privilegiada para se tornar um pilar fundamental do mercado de energia nas próximas décadas.
De fato, todo o setor de energia dos EUA precisará de uma reforma significativa para atender à demanda futura. Os EUA possuem a maior frota nuclear do mundo, com 94 reatores, mas isso não será suficiente. Para garantir a segurança energética e cumprir as metas de redução de carbono, acredito que devemos expandir consideravelmente a frota atual.