Nesta semana, analiso a robustez da performance dos 100 papéis mais líquidos da bolsa, ou seja, aqueles que compõem atualmente o IBrX 100. Por robustez, entende-se como a consistência de entrega de resultados acima do mercado. Para mensurar esta consistência, utilizo quatro períodos de análises diferentes: 1 mês, 3 meses, 6 meses e 12 meses.
Como métrica de performance, utilizo o IC (índice Campani), que desenvolvi e expliquei aqui nesta coluna ao longo de três textos em maio. Neles, mostro porque é muito superior ao tradicional índice Sharpe e superior à alternativa normalmente utilizada no mercado (índice Sortino). O IC ajusta a performance pelo risco de maneira apropriada, beneficiando ativos que entregam determinado retorno com menor risco. No final das contas, a interpretação, claro, é a mesma do que no caso do índice Sharpe: quanto maior o IC, melhor a performance do papel.
Quanto mais consistente for a performance do papel, ceteris paribus, mais confiança temos de que o papel continuará desempenhando acima da média. Claro, todo papel está sujeito a idiossincrasias (o chamado risco específico, que já analisei aqui nesta coluna antes). Não obstante, uma estratégia bastante comum é formar uma carteira com vários desses papéis para reduzir ao máximo esse risco específico e fazer valer, em média, a consistência das performances dos papéis escolhidos.
Na figura abaixo, portanto, listei as 20 melhores performances considerando cada horizonte de análise (1, 3, 6 e 12 meses). Note que há seis papéis, todos em negrito, aparecendo nos quatro rankings (quase sempre na parte superior da tabela). São eles: MGLU3, BTOW3, WEGE3, BPAC11, TOTS3 e B3SA3. Esses papéis vêm demonstrando performance consistentemente acima da média para o período de análise em tela.
Para se ter uma ideia da performance desses papéis, na tabela a seguir, mostro seus retornos e volatilidades, bem como os comparo com o Ibovespa. Note também como teria sido a performance de uma carteira igualmente ponderada (1/n) com estes seis ativos.
Percebe-se, claro, que os seis papéis performaram muito acima do Ibovespa, mas lembre-se: estamos olhando pelo retrovisor. Para uma estratégia baseada em performances consistentes, alguns investidores podem optar por mais papéis para melhor diversificação (note como a volatilidade da carteira 1/n é superior a do Ibovespa). Outros investidores podem querer maior exposição a risco para tentar retornos mais altos. Mas tenham em mente que quanto menor o número de ações na carteira, maior será o peso dos riscos específicos (da empresa ou do seu setor). Caso repentinamente uma das empresas comece a desandar, seu maior peso colocará a rentabilidade da sua carteira em xeque.
Outro lado positivo da análise de consistência é que ela pode colocar no nosso radar empresas que começam a performar acima da média. A análise vai fornecendo sinais ao investidor. Por exemplo, perceba que LINX3 apareceu apenas no ranking do último mês e ainda na parte de cima: esse pode ser um sinal para uma análise mais a fundo, buscando entender os fatores que colocaram este papel neste ranking. A depender da sua conclusão (fatores específicos? fatores que você julga continuarem em ação?), você pode querer apostar que este papel se manterá no ranking a partir de agora.
Por sua vez, a ação MOVI3 entrou nos dois últimos rankings (um e três meses), podendo este ser o sinal para você passar a investir neste papel, dentro da sua estratégia e após análise mais completa da empresa.
Em conclusão, considero a análise de consistência bastante informativa e pode ser utilizada de diferentes maneiras, a critério de cada investidor. Minimamente, esta análise dá sinais que o investidor poderá utilizar para decidir quais ações comprar, manter ou vender.
Forte abraço a todos.
* Carlos Heitor Campani é PhD em Finanças, professor do Coppead/UFRJ e especialista em investimentos, previdência privada e pública e finanças pessoais e públicas. Ele pode ser encontrado em seu site pessoal e nas redes sociais @carlosheitorcampani. Esta coluna sai toda sexta-feira.