A maior elevação de juros já feita pelo Federal Reserve nos últimos 28 anos pode acontecer na tarde de hoje. A questão é saber o que irá acontecer com o preço do ouro, um ativo rotulado como proteção contra a inflação, mas que viu esse status ser quebrado ultimamente, diante do fortalecimento de ativos rivais, como o dólar e as taxas dos títulos do Tesouro americano.
Há décadas, o Fed vinha realizando elevações típicas de 0,25 pontos-base para conter a inflação.
Contudo, a alta anualizada de 8,6% no Índice de Preços ao Consumidor, acima das expectativas para maio, pode fazer com que o Fed tenha que recorrer a um remédio mais amargo para conter as pressões de preços que não mostram sinais de desaceleração em relação às máximas de quatro décadas nos EUA.
O contrato futuro do ouro para agosto se desvalorizou cerca de US$ 60 por onça, ou quase 3,5%, em Nova York ao longo dos últimos dois dias, diante da especulação de que o banco central americano poderia realizar uma alta de juros que não se vê há décadas.
O aumento de 25 pontos-base (pb) realizado em março pelo Fed não surtiu praticamente nenhum efeito. O mesmo poderia ser dito da elevação subsequente de 50 pb em maio.
Evidentemente, se o Fed continuar aumentando os juros em 50 pb em cada uma das próximas reuniões de política monetária deste ano, elevaria as taxas a 3,5% até o fim do ano, partindo de quase zero em fevereiro.
Mas pode ser que o banco central dos EUA recorra a aumentos ainda maiores que 50 pb. Esse é o temor dos investidores e o que fez com que o S&P 500 entrasse em “bear market” (mercado de baixa), ao recuar 22% desde a máxima de 4 de janeiro de 4819, nos últimos dias.
Até terça-feira, os traders haviam precificado uma possibilidade de 96,2% de que o Fed elevasse os juros em 75 pb em sua decisão de política monetária de junho, prevista para esta quarta-feira.
Uma pequena fração, de 3,8%, apostava em um aumento de 100 pontos-base, uma proposta praticamente impossível há apenas uma semana.
Portanto, como se sairia o ouro, caso o banco central dos EUA siga o roteiro e aumente os juros em 50 pb? O Fed já elevou as taxas em meio ponto percentual 44 vezes no total, na maior parte das ocasiões durante a década de 1970 e início dos anos 1980, quando estava correndo atrás de uma inflação nas alturas. Desde o início da década de 80, esses grandes movimentos ocorreram apenas 12 vezes.
E o que poderia acontecer ao ouro caso haja uma elevação de 75 pb ou maior? Uma alta de 75 pb ou mais só ocorreu 28 vezes desde a década de 1970 nos EUA. A última vez foi em novembro de 1994, quando o Fed aumentou as taxas várias vezes em um ano, na tentativa de conter a inflação.
Exploramos o impacto para o ouro nos dois cenários com o auxílio do analista técnico Sunil Kumar Dixit.
Cenário A: aumento de 50 pontos-base
Se o Fed anunciar um aumento de 50 pb, o ouro pode se desvalorizar US$ 30-50 como reação imediata, fazendo o metal atingir a região de US$ 1850-1880.
Ao mesmo tempo, uma eventual volatilidade pode provocar um recuo de US$ 20-30 a partir desse patamar, para US$ 1790-1780.
Cenário B: aumento de 75 pontos-base
O ouro pode cair diretamente para US$ 30-75 ou em fases.
Podemos esperar um reteste dos níveis de US$ 1800-1787 inicialmente, prosseguindo para US$ 1755. Se a liquidação aumentar, é possível que o metal recue para US$ 1730.
Fatores principais
O ouro vem sendo negociado bem abaixo da sua média móvel simples de 100 dias, a US$ 1890; da média exponencial de 50 dias, a US$ 1865; e da média simples de 200 dias a US$ 1843.
Já faz algumas semanas que vemos o metal ser rejeitado na máxima de US$ 1880, com os preços caindo para US$ 1805 no pregão de terça-feira.
Isso criou um canal de US$ 74 para um movimento potencial em qualquer direção após a decisão do Fed.
Se o ouro conseguir romper para cima da resistência de várias semanas, a US$ 1880, e os compradores mostrarem determinação suficiente, os preços podem alcançar US$ 1895-1910. Qualquer rali de rompimento de alta no curto prazo tem grandes chances de atingir US$ 1925-1935.
Aviso de isenção: Barani Krishnan utiliza diversas visões além da sua para dar diversidade às suas análises de mercado. A bem da neutralidade, ele por vezes apresenta visões e variáveis de mercado contrárias. O analista não possui posições nos ativos e commodities sobre os quais escreve.