- O ouro acaba de romper os US$ 3.150 — mas por quanto tempo a alta pode se sustentar?
- Com os mercados em compasso de espera pelo próximo movimento tarifário de Trump, a demanda por proteção segue firme.
- Ainda assim, mesmo o ouro pode precisar de uma pausa caso o “Dia da Libertação” traga mais fumaça do que fogo.
O ouro iniciou o novo trimestre renovando máximas históricas, após um primeiro trimestre expressivo em que acumulou valorização de 19%, superando marcos importantes — incluindo o rompimento da marca de US$ 3.000 por onça.
Nesta terça-feira, vimos alguma recuperação nos índices acionários da Europa, acompanhando a reversão de perdas registrada em Wall Street no fim do pregão anterior. Ainda assim, permanece a incerteza quanto ao retorno efetivo do apetite por risco, especialmente antes do aguardado anúncio do plano tarifário recíproco do presidente Donald Trump, previsto para esta quarta-feira na Casa Branca.
A extensão e intensidade das tarifas permanecem indefinidas, e a ambiguidade quanto a uma abordagem mais branda ou mais agressiva por parte da presidência americana tem mantido os investidores cautelosos em relação a ativos de risco. Esse cenário de incerteza tem sustentado os preços do ouro, que segue rompendo patamares importantes com recuos mínimos. É difícil imaginar o metal perdendo força de forma relevante antes do anúncio de quarta-feira. A partir daí, caso Trump adote uma postura mais moderada, pode haver um respiro técnico nos preços. Em termos relativos, boa parte das más notícias já parece precificada.
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Mercado tenso antes do “Dia da Libertação”
A escalada tarifária promovida por Trump nas últimas semanas teve efeito cascata sobre os mercados globais. Na sexta-feira passada, o S&P 500 caiu mais 2% após o anúncio das tarifas sobre veículos importados. Na segunda-feira, os mercados renovaram perdas, com uma recuperação apenas no fim do pregão. Nesta manhã, os futuros dos EUA operam estáveis. Todos os olhares se voltam para o anúncio de Trump nesta quarta-feira, quando devem ser detalhadas tarifas mais amplas — batizado pelo próprio presidente como “Dia da Libertação”. O argumento é que barreiras às importações fortaleceriam a produção local e criariam empregos. A preocupação dos analistas é que essas medidas gerem inflação adicional, ao mesmo tempo em que enfraquecem o crescimento — combinação perigosa para um mercado já fragilizado.
O ouro pode continuar subindo?
No curto prazo, o ouro continua amparado pela demanda por proteção, enquanto os mercados acionários seguem voláteis em meio às tensões comerciais. Mas até onde o metal pode ir antes de uma correção? Muitos analistas projetavam a região acima de US$ 3 mil como alvo. Após quatro dias consecutivos de alta, o ouro já se aproxima de US$ 3.150.
Nesse contexto, algum nível de realização de lucros pode ocorrer, mas isso, por si só, não deve provocar uma correção relevante.
Caso as ações continuem em queda, os fluxos defensivos devem persistir, sustentando os preços do ouro. No entanto, uma liquidação acelerada nos mercados pode obrigar investidores a desfazer posições compradas no metal para cobrir margens, o que traria pressão de venda adicional.
No campo fundamentalista, ainda há potenciais vetores de baixa que não se concretizaram. Se as tensões geopolíticas diminuírem — por exemplo, se Trump avançar na resolução de conflitos na Ucrânia e em Gaza —, a demanda por proteção pode ceder. Até o momento, esse cenário parece distante.
Além disso, os preços elevados podem incentivar mineradoras a expandir a oferta, embora esse seja um processo demorado e difícil de implementar. Também não se pode descartar que os bancos centrais passem a reduzir o ritmo de compras diante dos níveis de preço atuais.
Análise técnica: compradores seguem no controle
O ouro apresenta condição de sobrecompra em múltiplos horizontes temporais — inclusive no longo prazo —, mas isso ainda não foi suficiente para interromper a tendência de alta. Isso reforça que indicadores defasados têm limitações, e que o mais importante segue sendo o próprio comportamento dos preços. O metal continua formando topos e fundos ascendentes, o que reforça o viés positivo. Enquanto esse padrão técnico permanecer, não há sentido em tentar antecipar topos. O mercado permanece em modo de “comprar nos recuos” — e o foco deve estar em identificar níveis de suporte para novas entradas.
Níveis de suporte a monitorar:
- US$ 3.127: máxima de ontem e primeiro nível de defesa para os compradores.
- US$ 3.086: máxima da sexta-feira e da semana passada.
- US$ 3.032–3.057: antiga região de resistência que precedeu o rompimento recente; agora zona-chave de suporte para quem busca comprar na correção.
- US$ 3.000: nível psicológico importante. A manutenção acima desse patamar confirma o domínio dos compradores. Uma quebra abaixo poderia acionar liquidações até…
- US$ 2.930–2.956: antiga zona de rompimento e alinhada com linha de tendência; representa o próximo suporte relevante no caso de uma correção mais acentuada.
Na ponta superior, não há resistências técnicas relevantes, já que os preços operam em máxima histórica. Somente níveis psicológicos como US$ 3.200 devem ser considerados como referência.