Com o fim do segundo quadrimestre do ano, preparei para a coluna de hoje um balanço do mercado brasileiro de ações. Vamos começar pelos índices amplos, que representam o mercado de ações e units da B3 (SA:B3SA3).
Em agosto, a série de quatro meses consecutivos de boa recuperação da bolsa foi interrompida, com queda dos quatro índices amplos da B3 em cerca de -3,4%. A volatilidade continua alta, embora já tenha caído em relação aos meses anteriores. Na tabela, incluo os dois índices Valor-Coppead, desenvolvidos por mim e pelo meu colega professor Ricardo Câmara Pereira Leal. Como índice de performance, utilizo o índice Campani (IC) por ser conceitualmente consistente e não sofrer das graves deficiências do índice Sharpe. Note-se que o índice igualmente ponderado (BrIAIP20) destoa de todos os demais, mantendo sua performance acima do mercado (o que vem ocorrendo historicamente).
A tabela a seguir mostra as 10 melhores e as 10 piores performances dentre os 100 papéis constituintes do IBrX 100. Rentabilidades e volatilidades em 2020 são apresentadas para cada papel. Os betas foram calculados a partir de regressões com dados diários de 2020 contra o Ibovespa. O beta de um papel é uma medida bastante utilizada no mercado e reflete seu nível de risco não diversificável, segundo o CAPM (Capital Asset Pricing Model) e a teoria de Markowitz. Na última coluna, apresento as correlações de cada papel com o Ibovespa em 2020.
Na parte alta da tabela, chama a atenção o baixo beta da KLBN11, que é explicado por sua volatilidade mais baixa bem como por sua menor correlação com o Ibovespa em comparação aos demais. Esta característica é importante na hora de montar uma carteira eficiente e evidencia positivamente este papel.
De maneira geral, as rentabilidades acompanham os respectivos ICs, mas não exatamente na mesma ordem. Isso se explica pelo fato de o IC considerar não apenas o quanto o papel entrega, mas como ele entrega a performance. Se a entrega de rentabilidade vem acompanhada de fortes emoções, com quedas e subidas bruscas, o IC é penalizado (porque somos avessos ao risco). Em outras palavras, preferimos sempre uma viagem tranquila a uma viagem com turbulências, ainda que ambas as viagens levem ao mesmo lugar.
O papel de maior risco na tabela acima, seja medido por sua volatilidade ou pelo seu beta, corresponde à ação da PetroRio (SA:PRIO3). Note que este maior risco mostrou o lado bom do risco por conta de sua boa performance, mesmo com o Ibovespa ainda negativo em 14% no ano. Já escrevi bastante aqui na coluna sobre a importância de se distinguir o risco bom do risco ruim na hora de analisar um papel. Se você chegou agora, pode conferir nos artigos anteriores.
Na parte inferior da tabela, uma figurinha bastante repetida na lista das piores ações da bolsa em 2020: IRBR3. Mesmo com a recente capitalização da empresa, ela segue um calvário em 2020, com a pior performance e a maior perda dentre todos os 100 papéis que constituem o IBrX 100.
Por fim, quero mostrar os resultados dos 23 ETFs do nosso mercado nesses dois quadrimestres de 2020. Para aqueles que quiserem saber mais sobre todos os ETFs disponíveis (17 de renda variável e 6 de renda fixa), clique aqui para ler mais a respeito. A tabela abaixo apresenta os ETFs em ordem decrescente de performance (os de renda variável estão em azul claro; os de renda fixa estão em verde claro).
Note que há nove ETFs com ICs maiores que um, não coincidentemente os mesmos com retornos positivos no período. Dentre esses, temos todos os seis de renda fixa, indicando que este mercado já conseguiu se recuperar da crise (com rentabilidades acima do CDI, diga-se de passagem). Os dois melhores ETFs em 2020 são de renda variável, mas é fácil explicar: ambos seguem o índice estadunidense S&P500 e este teve uma excelente recuperação da crise. Além disso, a alta do dólar também ajudou a impulsionar tais ETFs para o topo. O outro ETF de renda variável no azul em 2020 é o MATB11, que segue o índice de materiais básicos (IMAT) da B3. Este índice também apresentou recuperação formidável depois do ápice da crise em março.
Espero que as informações acima inspirem você, investidor, a fazer suas melhores análises. Ficarei feliz se, depois de compilar esses dados e transformá-los neste texto, conseguir colaborar em sua caminhada enquanto investidor.
Forte abraço a todos.
* Carlos Heitor Campani é PhD em Finanças, Professor Pesquisador do Coppead/UFRJ e especialista em investimentos, previdência e finanças pessoais, corporativas e públicas. Ele pode ser encontrado em seu site e nas redes sociais: @carlosheitorcampani. Esta coluna sai toda sexta-feira.