A inclusão de ouro em portfólios diversificados pode servir como uma forma de diminuir a volatilidade do portfólio. O ouro tem sido historicamente considerado um ativo de refúgio seguro, especialmente durante períodos de incerteza econômica e instabilidade política. Sua natureza tangível e a escassez relativa aumentam sua demanda, fazendo com que o valor do ouro tenha uma correlação baixa, ou até negativa, com muitas classes de ativos tradicionais, o que significa que pode equilibrar as perdas de outras partes do portfólio, proporcionando uma camada adicional de segurança para os investidores.
Além da proteção contra a volatilidade, o ouro também oferece uma forma de diversificação geopolítica e de moeda. Como é valorizado globalmente, o ouro não está diretamente atrelado ao desempenho de uma única economia ou moeda. Isso significa que, em tempos de desvalorização cambial ou crises locais, o ouro pode manter seu valor ou até mesmo apreciá-lo, ajudando a proteger o poder de compra do investidor. Incorporar ouro em um portfólio diversificado pode, portanto, não apenas melhorar a resistência do portfólio contra choques de mercado, mas também contribuir para a preservação de riqueza a longo prazo.
Porém, essa diversificação pode não trazer grandes ganhos aos investidores brasileiros, pois o mercado brasileiro e o americano de ações já possuem correlações negativas, devido a correlação do câmbio do dólar para o real e os retornos do IBOV. Assim, nesse artigo trago análises com dados dos últimos três anos. Utilizo três ETFs para ter exposição ao mercado brasileiro (DIVO11 (BVMF:DIVO11)), americano (IVVB11 (BVMF:IVVB11)) e ouro (GOLD11 (BVMF:GOLD11)).
Interessantemente, o ouro possui correlação negativa com a bolsa brasileira nesse período (-0.35), enquanto possui correlação positiva com a bolsa americana (0.30), justamente devido à exposição cambial dessas duas classes de ativos, pois tanto o S&P500 quanto o Ouro são cotados em dólares.
O portfólio de mínima variância é uma divisão igualitária entre DIVO11 e IVVB11, que possui retorno de 11.93% ao ano e um desvio padrão de 11.63% ao ano. Para fins de comparação, um portfólio apenas composto por IVVB11 possui 18.74% de desvio padrão anual e um portfólio apenas composto por DIVO11 possui 17.10% de desvio padrão anual. Assim, uma divisão igualitária entre ambos os ETFs diminuem consideravelmente a volatilidade do portfólio.
No próximo passo dessa análise, consideramos o efeito da inclusão de 10% de ouro no portfólio, ficando a distribuição com 45% em IVVB11, 45% em DIVO11 e 10% em GOLD11. É observado uma redução considerável do desvio padrão anual para 10.58%. E o retorno do portfólio, considerando a janela de três anos, teve um pequeno aumento para 12.15% ao ano (vs. 11.93% sem ouro).
Assim, essa análise demonstra que um investidor individual que procura reduzir a volatilidade de sua carteira de renda variável pode se utilizar de ETF de ouro, que, na janela utilizada, possui uma capacidade de reduzir a volatilidade do portfólio significativamente (17.10% de DIVO11 vs. 10.58% de DIVO11/IVVB11/GOLD11). Além disso, é possível se obter retornos superiores à apenas a alocação brasileira (12.10% a.a. no portfólio diversificado entre Brasil, EUA e Ouro contra apenas 10.82% a.a. em um portfólio que está alocado 100% no Brasil).
Dessa forma, o pequeno investidor brasileiro, ao se utilizar de investimentos no exterior, consegue um “almoço grátis”: um aumento de retornos esperados sem se tomar um risco adicional, pelo contrário, diminuindo o risco da carteira. Porém, é importante se ressaltar que essa análise foi feita se utilizando de uma janela de três anos. A utilização de outras janelas pode se ter alocações eficientes diferentes, bem como o fato que retornos e volatilidades passadas não preveem de forma perfeita os retornos e volatilidades futuros.