O comportamento do vírus
Você já deve estar cansado de ver os números da Covid-19 por aí. Mas peço sua permissão para trazer novamente alguns dados, em prol de termos uma breve visibilidade de como os mercados no mundo vêm se comportando à medida que a situação vai desenrolando.
Os casos de pessoas com a doença ao redor do globo já somam mais de 2,4 milhões, registrando 166 mil mortes. Aparentemente o “pico” passou na maior parte dos países mais afetados.
Nas últimas semanas, o número de novos casos da Covid-19 começou a demonstrar uma tendência de queda. Em resposta a isso, alguns países, como a Alemanha, começaram a liberar pequenos comércios a voltar às suas atividades.
Alguns países, mesmo demonstrando um arrefecimento da curva, ainda preferem manter as quarentenas. Porém, já começam a planejar a reabertura de comércios e outros setores.
Fato é: ainda há muita incerteza quanto às consequências da saída da quarentena, mesmo que controlada.
O comportamento da economia
A China, que viveu o primeiro trimestre com medidas de contenção à Covid-19, apresentou um PIB no 1T20 com queda de -6,8 por cento na comparação anual.
A taxa de utilização da indústria no 1T19 era de 75,9 por cento. Já no trimestre atual caiu para 67,3 por cento. Os segmentos que mais sentiram os impactos por lá foram a indústria automobilística, de alimentos, as de máquinas e equipamentos, e também a têxtil.
As famílias por lá gastaram menos nos seguintes segmentos: entretenimento, bens e serviços diversos, vestuários, transporte, telecomunicação, artigos e instalações domésticas.
A partir dos dados chineses, conseguimos ter uma noção do que pode vir pela frente e esperar que os setores tenham impactos parecidos, resguardadas as particularidades de cada país.
Os indicadores de confiança na Zona do Euro mostram também uma queda em todos os setores em março, que deve permanecer em abril, quando as quarentenas ainda continuam.
O comportamento do mercado
Nos Estados Unidos, o S&P500 tem demonstrado recuperação de metade dos pontos perdidos desde o fundo de 2.300 alcançado em março.
O ouro não se mostrou um hedge tão efetivo em tempos de crise. Caiu menos que o índice, mas não houve o comportamento contrário esperado.
Já os títulos do governo norte-americano — com duração de 10 anos — sentiram os efeitos do corte anunciado pelo Federal Reserve e negociam a 0,6 por cento, taxa que, antes do CovidD-19,era de 1,9 por cento.
Número de casos EUA (branco), S&P 500 (azul), ouro (vermelho), títulos do Tesouro americano de 10 anos (roxo)
A leitura atual é de que a volta da atividade trará aos poucos a normalidade nos resultados e o mercado vem dando tons de antecipação a isso.
Por aqui, o Ibovespa foi um dos indicadores que mais sofreu com a crise. Alguns assumem que nossa bolsa é mais líquida frente a outros mercados emergentes. Outros apontam também nossas deficiências no campo político/fiscal como mais um ponto de maior desconto frente aos pares.
Os episódios recentes envolvendo o caso da saída de Sérgio Moro corroboram para o fato de que temos problemas além da pandemia.
O nosso comportamento
Apesar disso, estamos vivenciando um momento diferente no Brasil. A taxa de juros nunca foi tão baixa, o que levou a um número recorde de investidores pessoa física alocados em bolsa. Essas pessoas acabaram entrando no mercado em um momento de alta e viram seu patrimônio investido em ações cair mais que a metade.
O comportamento dos novos investidores foi inesperado. Quando todos achavam que a maioria iria realizar prejuízo, o que aconteceu foi o contrário.
Mantiveram a calma durante a crise e não correram para vender. Quando nos deparamos com dados de aportes versus resgates em fundos de investimentos de ações, a maioria dos FIAs reportou captação líquida.
O nosso comportamento é um fator muito importante na construção da rentabilidade de longo prazo. Seja no respeito à diversificação em suas aplicações rotineiras, seja na tomada de decisão de compra e venda de ativos racionalmente. Sendo de suma importância não seguir pura e simplesmente o humor dos mercados.