Na semana passada fui citado por um dos maiores economistas do Brasil ou, no mínimo, um dos que têm mais destaque na mídia: o economista Ricardo Amorim, que faz parte do Manhattan Connection e sócio da Ricam Consultoria, inclusive compartilhando o raciocínio que fiz falando sobre a Tesla (NASDAQ:TSLA) e outras montadoras, assim como a diferença de investimento entre o growth e valor, inclusive dividindo esse pensamento em um dos maiores eventos de investimentos do mundo, a Expert. Esse raciocínio e ideia comentei no artigo anterior aqui e em meu twitter, aqui.
Isso foi muito motivador para que eu continuasse escrevendo. Demoro entre três a cinco horas para escrever um texto aqui e editar, e só tenho a agradecer o compartilhamento por alguém que estimo e respeito muito!
Como anda o preço de algumas commodities, porque acredito que elas podem estar depreciadas e que Brasil pode sair favorecido
A ideia aqui é mostrar o andamento dos preços de algumas das commodities mais utilizadas no mundo, que são ativos considerados reais e que nos últimos anos os preços das ações de empresas desse setor ficaram muito para trás em comparação com ativos de tecnologia. Ativos como cobre, estanho e petróleo são ligados ao crescimento da economia e, com a criação de uma vacina (cada vez mais estão saindo notícias sobre isso, inclusive há previsão de uma vacina saindo em setembro), poderemos voltar ao patamar de crescimento novamente.
Uma das commodities mais utilizadas do mundo, o petróleo (alguns podem mencionar que o futuro está acabado para o petróleo, mas o fato é que muitos setores da economia ainda dependem dele), fazendo um comparativo com o ouro nos últimos meses, a diferença entre o preço do ouro-petróleo atingiu o maior nível da história. Como exemplo, em maio de 2020, uma onça de ouro comprava acima de 400 barris de petróleo – 10x mais do que o recorde anterior atingido na Grande Depressão em 1933 e 9x mais do que o nível atingido nas quedas do pânico em 2016.
Entre os anos de 1900 e hoje, uma onça de ouro comprava 20 barris de petróleo, com um desvio-padrão de 8. Utilizando uma média, cerca de 80% das observações estavam em 10 para 1, ou seja, significando que ouro estava barato para o petróleo e 30 para 1, significando que o petróleo estava barato para o ouro. De acordo com a distribuição histórica, um nível de 130 para 1 é algo esperado apenas uma vez a cada 10 mil anos!
Podemos ver isso na distribuição ouro-petróleo desde 1860 até o maio 2020:
O padrão ouro-petróleo é um indicador interessante para observarmos quando queremos investir em petróleo e ouro nos últimos 120 anos, usando dados dos EUA. Se pegarmos dados desde 1900, com uma média de 12 meses, temos um retorno de 7% ao ano para o petróleo e de 5% para o retorno anual do ouro. Nesse tempo, o petróleo tem um retorno negativo em 39% do tempo enquanto o ouro em 32% do tempo, se pegarmos janelas de 12 meses de retorno.
Contudo, quando o padrão ouro-petróleo excede 30 para 1 (petróleo barato em relação ao ouro), o petróleo tem retornado em média 32% nos 12 meses seguintes (mais de 4x a média de longo prazo), enquanto o ouro tem retornado 4% em média. Em média o petróleo tem performado melhor que o ouro em 28% nesses períodos contra 2% em períodos considerados normais.
Já quando o padrão ouro-petróleo está menor que 10 para 1 (petróleo caro) o petróleo perde 7% em média nos 12 meses seguintes e o ouro retorna 18% em média durante esses períodos, possuindo melhor retorno do que o petróleo em torno de 25%.
Na última disparidade de mercado que ocorreu no início de 2016 entre ouro e petróleo, o nível atingiu recorde até então 47 para 1. Nos 30 meses seguintes, tivemos um rali no óleo com os preços disparando 191% por barril para US$ 76 em Outubro de 2018, enquanto o ouro caiu 4% durante o mesmo período. Não temos um ETF de petróleo no Brasil como comparativo, mas o ETF XLE, avançou 56% contra outro ETF de ouro negociado nos EUA, o GDX, que subiu apenas 3%, enquanto o S&P 500 which subiu 69%!
Como recentemente foi atingido um patamar de 400 para 1, se for considerado o histórico passado de correlação, podendo gerar oportunidades para empresas do setor como Enauta, que não possui dívidas e poderia investir mais operacionalmente, Petrorio (SA:PRIO3), que tem ativos ainda não contabilizados em seus balanços e que isso pode ocorrer em breve, e Petrobrás que atingiu produção recorde no pré-sal recentemente!
Ouro e petróleo ambos já passaram por altas de mercado, guerras, pânicos financeiros, crises, depressões, períodos de deflação e inflação, padrão ouro, troca de padrão ouro, taxas de juros fixas, flutuantes, tensões geopolíticas, períodos mais calmos e agora mais uma pandemia. Apesar de todos esses acontecimentos o nível ouro-petróleo, em 80% do tempo sempre ficou entre 10 para 1 e 30 para 1, o que pode ser uma oportunidade o momento atual..
Cobre, estanho e outros
Outros metais que vêm chamando atenção e que são ligados ao crescimento econômico são o cobre, estanho e outras commodities que também estão subindo rapidamente, acompanhando principalmente o retorno do mercado de capitais da China, como podemos ver abaixo:
O cobre é usado para smartphones, residências e é utilizado como um indicador econômico pelos investidores, sendo consumido pela China quase a metade do que é produzido no mundo e seguindo o crescimento econômico da China que vem mostrando uma recuperação em V.
Outro indicador bem interessante é o Citigroup Economic Surprise Index, que vem surpreendendo positivamente com os últimos dados divulgados.
Dados como resultados de bancos, por exemplo, um dos maiores bancos do mundo, o Morgan Stanley (NYSE:MS), teve um aumento de 45% no seu lucro líquido, possuindo o maior lucro da sua história e isso em plena pandemia!! Outros bancos como JP Morgan, Citigroup e Goldman Sachs também tiveram resultados acima do previsto.
Ações de empresas que estão descontadas devem começar a ser melhor avaliadas pelos investidores e o fluxo especialmente no Brasil, de migração da renda fixa para a renda variável, deve favorecer esse processo de recuperação de preços de empresas descontadas e com maior margem de segurança. No início de uma recuperação, o investidor não olha tanto para a qualidade das empresas, costuma comprar empresas mais conhecidas.
O nível de diferença entre as empresas de tecnologia e empresas de pequenas capitalização atingiu um dos maiores níveis desde a “Bolha.com”, mostrando que as empresas de tecnologia podem estar em patamares de avaliação altos, o que não acontecia há 20 anos!
Enfim, seja falando sobre Tesla valendo mais que todas as montadoras americanas, seja empresas tech do Brasil com múltiplos esticados, seja patamares de descontos em empresas tradicionais, seja a alta recente do mercado, cada vez mais vem o pensamento de que empresas e setores mais focados em Value Investing, podem estar mais atrativas no momento, como já comentei em artigos anteriores, inclusive citando setores.
Fico por aqui!
Era isso!!
Um grande abraço