O que houve com a recuperação em V?
No início da pandemia o Ministro da economia esbravejava aos quatro cantos que teríamos uma recuperação em V. No entanto o tempo mostra que estamos mais próximos de uma recuperação em K.
Indo na contramão de seus pares mundiais no segundo trimestre do ano a economia brasileira apresenta graves sintomas de desaceleração. A combinação dólar apreciado, inflação, juros e incerteza política vão aumentar o prêmio em ativos de risco brasileiros. O PIB brasileiro no segundo semestre foi apenas o 40° em uma amostra de 51 países. O resultado vem como mais um indício do quão ruim as coisas podem ficar a partir de 2022.
Mesmo com pandemia e inflação as bolsas mundiais vêm apresentando boa performance no ano, enquanto isso o desempenho da bolsa brasileira no ano é vergonhoso. Em agosto o Ibovespa caiu 2,5%, o S&P 500 subiu 3% e Nasdaq subiu 4%.
Está claro que o risco político está pesando no bolso e a lua de mel entre o mercado e o governo está com sintomas de desgaste. Aos poucos a renda fixa vai estimulando esse divórcio.
Um a um os últimos “fiéis” ao discurso liberal do governo vão se dando conta que acreditaram em uma ilusão. O posto Ipiranga do governo há tempos demonstrou não ter uma política econômica para colocar o país nos trilhos, os números falam por si.
Após a ameaça de “ruptura institucional” a incerteza passou a reinar. O cenário exige cautela já que a gravidade da crise hídrica aliada a pandemia são os maiores riscos para a economia atualmente. A crise hídrica, por hora, preocupa mais, já que o seu efeito é imediato e pesa diretamente no bolso de cada brasileiro.
O acionamento da bandeira tarifária irá pressionar ainda mais a alta do IPCA e forçar o banco central a subir os juros com mais rigor. A depender da gravidade desse cenário o governo pode sentir a necessidade de recorrer a práticas populistas para manter sua popularidade, afinal 2022 é logo ali.
O cenário para o governo e investidores é desafiador. Com a piora da atividade econômica e a possível desaceleração do ciclo das Commodities fica cada vez mais difícil manter apoio político até as eleições, além de desestimular investimentos em ativos de risco.
A economia está na UTI, é preciso agir enquanto o paciente ainda responde a determinados tratamentos. O cenário exige rapidez já que o cenário externo favorável ainda pode nos ajudar, pois quando o FED passar e retirar os estímulos monetários e subir os juros pode ser tarde demais para o paciente.