Este artigo foi escrito exclusivamente para o Investing.com
Após a reunião de Jackson Hole da semana passada, tudo indica que o Fed muito provavelmente começará a reduzir seu programa de compras de ativos no fim deste ano. Simplesmente não importa a força dos relatórios de emprego no curto prazo nos EUA, desde que mostrem que a tendência está melhorando. O ritmo de melhora apenas atrasa o inevitável.
O mercado ficou tão focado nas manchetes de curto prazo que aparentemente perdeu de vista a perspectiva de longo prazo, que envolve o fim da flexibilização quantitativa do Fed, mesmo que a economia desacelere mais. Adicione a isso as insatisfações de algumas autoridades do Banco Central Europeu, e o que temos é que a discussão sobre o fim da flexibilização quantitativa na Europa pode não estar tão longe. Os dois programas de afrouxo correspondem a mais de US$200 bilhões em compras de ativos por mês, ou seja, os mercados acionários globais perderiam muita acomodação monetária fácil nos próximos meses. No entanto, o mercado acionário nos EUA parece estar ignorando o risco dessa mudança de política.
Desaceleração do crescimento não significa recessão
Além disso, existem sinais claros de que o crescimento econômico está desacelerando. O mais recente PMI na China caiu muito em agosto. Ele mostrou que houve uma desaceleração significativa no setor de serviços. Ao mesmo tempo, os dados nos EUA seguem em tendência de baixa nas últimas semanas. Pode ser ingênuo por parte do mercado ignorar a ameaça da desaceleração do crescimento e da política monetária menos acomodatícia.
O maior problema é que o crescimento mais lento nos EUA está mitigando o avanço econômico, o que não significa que estejamos rumo a uma recessão. As taxas mais lentas de avanço só devem fazer com que a economia volte às suas tendências de crescimento de longo prazo. O último relatório de atividade industrial do ISM sugere que a economia americana esteja crescendo em torno de 4,8% em bases anualizadas. Sem dúvida a leitura veio mais lenta do que vimos na primavera local, mas ainda assim é um dado bastante saudável.
Enorme desconexão
Outro aspecto que o mercado parece estar deliberadamente ignorando é que, se o crescimento econômico estiver desacelerando, o crescimento dos resultados desacelerará ainda mais rápido. Possivelmente as estimativas de resultados do S&P 500 estão muito altas e precisam se ajustar, se o ritmo de crescimento do PIB americano começar a desacelerar e retornar às taxas históricas.
A maioria dos mercados globais parece estar ciente dessa tendência, com alguns mercados asiáticos em forte queda desde as máximas, enquanto, na Europa, alguns mercados já entraram em estagnação. Mesmo assim, as ações americanas e, principalmente, o S&P 500 e o Nasdaq, não param de atingir novas máximas.
Pagando para ver
É muito grande a desconexão que parece estar se formando aqui, o que parece fazer pouco sentido, se é que há algum. Mas, de certa forma, o momento não poderia ser mais perfeito para o Fed fazer um aperto, principalmente com o S&P 500 negociado em sua máxima histórica. Mesmo uma correção de 20% no S&P 500, ainda que dolorosa, faria com que o índice voltasse a níveis muito mais altos do que estava antes do início da pandemia, em torno de 3.600.
Em certo sentido, tudo leva a crer que o mercado acionário dos EUA está desafiando o Fed a iniciar a redução de compras de ativos ou talvez acredite que o banco central americano jamais fará isso. Em outras palavras, o mercado está pagando para ver se o Fed está blefando e desafiando-o fazer um aperto, porque, neste momento, é a única coisa que pode explicar essa alta absolutamente ilógica.