No dia 14 de maio, daqui a poucas semanas, comemoramos o Dia das Mães e escrever este artigo talvez seja um desafio, pois, estou à espera do meu segundo filho. Isso me faz refletir sobre a vida de uma criança que chega em um mundo complexo e cheio de desafios. Mais do que geradora de uma vida, o papel da mãe, assim como o de toda a família, é fundamental para o desenvolvimento daquele ser humano que está a caminho.
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A mãe de Barack Obama, Ann Duham, por exemplo, teve grande influência na vida do ex-presidente norte-americano. Antropóloga, ela incentivava o filho a buscar atividades extracurriculares e a estudar outras culturas e perspectivas.
A minha intenção não é diminuir o papel do pai e de outras pessoas da família, incluindo as não binárias, mas percebam como uma mulher engajada e ativa profissionalmente - ela foi consultora de desenvolvimento rural e teve uma carreira acadêmica bastante interessante - fez a diferença na vida do ainda jovem Obama.
Contudo, alguns estudos nos mostram que se tornar mãe tem sido um desafio cada vez maior para as mulheres. Isto porque, ao terem filhos, muitas têm sido demitidas de seus empregos.
Um estudo da FGV nos ajuda a entender um pouco melhor esta questão. De acordo com o material elaborado por Valdemar Pinho Neto, Mestre em Economia pela instituição, após 24 meses, quase metade das profissionais que pedem licença maternidade saem do mercado de trabalho.
Segundo a pesquisa, este padrão ainda se repete quando observamos outros recortes de tempo, como, por exemplo, 47 meses após a solicitação do benefício.
Os efeitos são bastante diferentes entre si, mas, claramente, podemos perceber que realmente se trata de um problema uma vez que este processo se repete tanto para trabalhadoras mais qualificadas quanto para as de menor escolaridade.
A conclusão, neste caso, é que o benefício da licença maternidade de 180 dias não é suficiente para manter essas mulheres no mercado de trabalho e garantir que elas mantenham suas carreiras após o período de afastamento.
No caso da FGV, o estudo leva em consideração apenas a realidade das brasileiras, mas este padrão também se repete em outros lugares do mundo, como Estados Unidos e México, por exemplo.
De acordo com o Centro de Pesquisa Pew Researcher, durante a década de 1960, a força de trabalho das mulheres norte-americanas aumentou de forma significativa até os anos 2000, quando iniciou-se um declínio.
Para os pesquisadores, a principal razão para a queda do indicador diz respeito à maternidade. Em resumo, eles concluíram que mães com filhos menores de 18 anos têm menos possibilidades de conseguir trabalho em tempo integral.
O México, que tem uma atividade econômica mais parecida com a brasileira, também mostra problemas. O estudo Mulheres e Homens no México, de 2014, elaborado pelo Instituto Nacional de Estatística e Geografia e o Inmujeres, concluiu que, conforme aumenta o número de filhos, menor é a participação das mulheres no mercado.
Segundo a pesquisa, o percentual chega a 50% para aquelas que têm um ou dois filhos e cai para 42% entre três e cinco, com redução drástica para 23,8% para mais de seis.
Ainda que uma parte considerável dessas mulheres talvez tenham optado por sair de seus respectivos empregos, temos outra parcela importante que não queria e, pior, sequer poderia se dar ao luxo de abandonar seus trabalhos.
Existem casos, por exemplo, nos quais essas pessoas sofrem uma queda de cerca de 70% no padrão de vida ao se divorciarem, uma vez que a responsabilidade das finanças, geralmente, é inteiramente transferida para o parceiro. E quando elas perdem o emprego, o cenário piora ainda mais. Daí o questionamento inicial deste artigo.
Temos visto avanços e um número crescente de profissionais que alcançam os postos mais altos de companhias. Existem exemplos claros disso em qualquer localidade e no Brasil não é diferente.
Contudo, como formadores de opinião, empresários e trabalhadores, precisamos nos questionar sobre o mundo que desejamos. Será que formaremos bons profissionais e seres humanos sacrificando, de certa forma, a vida de suas mães?
Ou queremos um mundo mais justo, flexível e com oportunidades para todos?
Enquanto essas perguntas não fizerem parte do dia a dia das pessoas, sinto dizer, não espero grandes mudanças em um futuro próximo.
Até o próximo artigo!