Publicado originalmente em inglês em 15/01/2021
Este início de ano não tem sido muito promissor para o Facebook (NASDAQ:FB) (SA:FBOK34). A gigante das redes sociais, mergulhada em diversas controvérsias, está vendo suas ações afundarem com a diminuição do interesse de investir na empresa após o forte repique desde a derrocada induzida pela pandemia em março.
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As ações do Facebook já se desvalorizaram 8% neste ano, divergindo de outras mega-ações de tecnologia. Seus papéis fecharam ontem a US$ 245.64, cerca de 18,5% abaixo da máxima de agosto.
O maior risco que está fazendo os investidores ficarem de fora tem a ver com os diversos processos judiciais que a empresa está enfrentando. O Facebook foi processado em dezembro pelas autoridades antitruste dos EUA e uma coalizão de estados que querem dividir a empresa, classificando como ilegais suas aquisições do Instagram e WhatsApp. Esses negócios, segundo o governo, fazem parte de uma campanha da empresa para acabar ilegalmente com a concorrência.
Os casos representam o maior ataque regulatório contra o Facebook em sua história. Eles acontecem após o processo movido pelo Departamento de Justiça dos EUA contra a Alphabet (NASDAQ:GOOGL) (NASDAQ:GOOG) (SA:GOGL34) (SA:GOGL35). Juntas, as ações contra o Google e o Facebook marcam os maiores casos antimonopólio registrados nos EUA desde que o Departamento de Justiça processou a Microsoft (NASDAQ:MSFT) (SA:MSFT34) em 1998, segundo a Bloomberg. Ao contrário do caso do Google, as ações contra o Facebook buscam obter uma ordem judicial para dividir a companhia.
Além desses obstáculos regulatórios, a plataforma também está no centro de um turbilhão político nos EUA após decidir bloquear contas do presidente Donald Trump e de supremacistas brancos que invadiram o Capitólio na semana passada. O movimento, também seguido por outras grandes redes sociais, irritou milhões de apoiadores de Trump que estão acusando o CEO do Facebook, Mark Zuckerberg, de assumir um dos lados dessa batalha política.
De acordo com uma reportagem do Wall Street Journal:
“Essas questões dominaram o Facebook durante grande parte do governo Trump e devem continuar no futuro próximo, enquanto lida com críticas concorrenciais e de inação para coibir outros conteúdos problemáticos. Isso tem levantando acusações de que seus esforços de moderação se tornaram uma censura.”
Mudança nas políticas de compartilhamento de dados
Bem no meio dessa controvérsia, o WhatsApp, pertencente ao Facebook, começou a alertar seus 2 bilhões de usuários, na semana passada, de que se desejarem continuar usando aplicativos de mensagens populares terão que aceitar os novos termos da sua política de compartilhamento de dados.
Desde 2016, o WhatsApp vem compartilhando certos dados com o Facebook. Mas os usuários tinham a oportunidade de declinar dessa opção. No entanto, a partir de 8 de fevereiro, os usuários terão que aceitar os termos atualizados para continuar usando o WhatsApp.
De acordo com reportagens, a mudança desencadeou uma onda de downloads de aplicativos de mensagens focados em privacidade, como o Signal e o Telegram, à medida que os usuários buscavam alternativas ao WhatsApp do Facebook. Elon Musk, CEO da Tesla (NASDAQ:TSLA) (SA:TSLA34), também recomendou a seus seguidores o uso do Signal.
O Signal registrou cerca de 7,5 milhões de instalações em todo o mundo através da App Store da Apple (NASDAQ:AAPL) (SA:AAPL34) e do Google Play entre 6 e 10 de janeiro, de acordo com a CNBC.com, citando dados da Sensor Tower. Esse número ficou 43 vezes acima do registrado na semana anterior. Ou seja, é o maior número de instalações semanais ou mensais já registrado na história do Signal. Enquanto isso, o Telegram registrou 5,6 milhões de downloads em todo o mundo desde quarta-feira até domingo, de acordo com a Apptopia.
Impacto nos negócios do Facebook
Para investidores de longo prazo, a principal questão é: qual é o potencial de dano desses ventos contrários para a companhia, que já está vendo uma desaceleração substancial em seu crescimento de vendas durante a pandemia?
Muitos analistas, que estudaram os recentes desafios regulatórios acreditam que o modelo de negócios do FB é forte o bastante para enfrentar esses problemas, que não devem prejudicar seu potencial de resultados.
“Acreditamos que o domínio virtual do Facebook, sua forte vantagem competitiva e seu foco na experiência do usuário posicionam a empresa como uma blue chip para se ter no longo prazo”, afirmou Doug Anmuth, analista do JPMorgan, em nota recente.
Anmuth, que definiu o preço-alvo do Facebook em US$ 330, disse ainda:
“O Facebook tem boa posição na indústria, graças à combinação de escala, crescimento e lucratividade, sem falar em seu massivo alcance, engajamento e capacidade de segmentação de público para anunciantes”.
Em nota, Justin Patterson, analista da KeyBanc Capital Markets, disse que uma possível divisão do FB pode levar anos em razão das complexidades técnicas:
“Acreditamos que a questão deve ser resolvida com outra multa e um escrutínio maior de futuras fusões e aquisições”.
Patterson classificou a ação como overweight (desempenho acima da média) com preço-alvo de US$ 340.
Resumo
Após a recente fraqueza, os múltiplos do Facebook ficaram atraentes e até mesmo menores do que os de outras empresas, como Walmart (NYSE:WMT) (SA:WALM34)ou Coca-Cola (NYSE:KO) (SA:COCA34), sugerindo que uma grande porção do risco regulatório já está precificada na ação. Se houver uma aceleração da queda, acreditamos que o FB será uma atraente compra para 2021, em vista do grande atrativo da plataforma para anunciantes e seu status de duopólio no mercado publicitário digital com o Google.