A inflação persistente em um contexto de perda de velocidade da atividade em diversos blocos é o desafio que os Bancos Centrais enfrentarão ao longo do 2º semestre de 2022. O Fed apertou os juros para 2,50% a.a., atingindo o nível neutro nominal na última reunião. Mas sinais de arrefecimento do mercado de trabalho - menor abertura de vagas pelas empresas - levaram a uma moderação do discurso na conferência após a decisão.
Ainda assim, a inflação segue como risco principal e o ciclo de aperto seguirá como sinalizado pela autoridade monetária norte-americana em junho. Na Europa, o BCE surpreendeu com um aumento de 50 bps na sua última decisão.
A economia americana registrou dois trimestres de contração na margem, o que, em tese, configura uma recessão técnica. Entretanto, a definição de recessão do National Bureau of Economic Research (NBER) observa com mais atenção as contrações contínuas de renda, emprego, gastos e produção industrial do que o PIB propriamente.
O mercado de trabalho segue apertado e as indústrias em expansão produtiva, visão esta compartilhada pelos dirigentes do FED. Portanto, podemos observar que a atividade dos Estados Unidos segue robusta com uma tendência de crescimento para o segundo semestre.
O tracking do PIB do terceiro trimestre da economia norte-americana, calculado pelo Fed de Atlanta, indica alta de 1,8% na margem, por exemplo. Neste contexto, a expectativa é que os juros sigam apertados até a faixa de 3,50% a.a. em dezembro de 2022 rumo aos 4,00% a.a. no primeiro trimestre de 2023.
Na Europa, o desafio do BCE é maior uma vez que o corte de fornecimento de gás natural pela Rússia deverá impactar a economia nos últimos trimestres deste ano. Além disso, a situação frágil do bloco requer cautela. Portanto, a continuidade do aperto de juros no velho continente deverá ser moderada atingindo o patamar de 1,00% a.a. até dezembro.
No Brasil, o Banco Central elevou a Selic para 13,75% a.a. na última reunião e manteve a possibilidade de ajuste em setembro. Apesar dessa sinalização, avaliamos que a taxa de juros real se encontra em terreno significativamente contracionista e corretamente posicionada a fim de obter a convergência da inflação no horizonte relevante de 2023 e 2024. Desta maneira, esperamos a manutenção do atual patamar na próxima decisão e por um período prolongado como estratégia de desinflação para as metas.
Olhando para os mercados, na renda fixa doméstica, o fim do ciclo de política monetária restritiva e o apreçamento de altas de 50 bps e 25 bps nas reuniões de agosto e setembro do Copom colocam um prêmio na parte curta da curva. Isto, em tese, justifica uma posição aplicada nos contratos futuros com vencimentos em janeiro de 2023 e janeiro de 2024.
Nos fundos imobiliários, a grande participação dos “fundos de papel” no IFIX, expostos ao impacto da deflação do IPCA, justifica uma posição neutra nesta classe. Contudo, existem ativos que oferecem proteção diante deste cenário que devem ser considerados como alvo de compra.
Na renda fixa global, o nosso entendimento é de que o Fed não mudou a sua estratégia de elevação da taxa de juros até 3,50% a.a. no final de 2022, o que reforça a ideia de uma posição tomada em Treasuries de 2 e 10 anos. O fortalecimento do dólar frente às moedas das principais economias do mundo avançou. Por isso, a redução de posição tomada na moeda americana frente ao euro parece fazer sentido.
No caso do real, as incertezas fiscais, a aproximação da eleição e o fim do ciclo de aperto monetário pelo Banco Central devem limitar a apreciação da moeda com viés de enfraquecimento no curto prazo.
Por fim, na renda variável, o receio da desaceleração da atividade global deverá limitar a valorização das empresas de commodities. Negócios ligados a setores mais defensivos do Ibovespa seguem entre os preferidos e posições compradas em companhias de consumo não discricionário parecem fazer sentido.
Nas bolsas globais, o processo de alta dos juros deve manter a Treasuries de dez anos em torno de 3,00% a.a., o que faz ganhar força a tese vendida em S&P 500 dado os níveis atuais de preços.
Nas commodities energéticas, a redução de oferta de gás, maior demanda por diesel esperada no segundo semestre e a reabertura da economia da China bem como os estímulos monetários no país justificam uma posição comprada em petróleo e metálicas. Bons negócios!