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O Bitcoin em uma Crise do Dólar

Publicado 14.01.2019, 08:05
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Muitos seguidores do Bitcoin (BitfinexUSD) acreditam que uma outra crise financeira mundial irá causar a valorização da moeda e, em um caso mais extremo, a substituição do sistema monetário vigente.

Lançado logo após o débâcle da crise de 2008, a rede do Bitcoin propõe um sistema monetário alternativo ao atualmente controlado por governos e bancos centrais. A oferta monetária nesse novo sistema é pré-determinada de forma matemática, com regras que não podem ser mudadas, pois o controle é descentralizado. Inflação e política monetária irresponsável, problemas que afetam tanto economias em desenvolvimento quanto desenvolvidas, seriam problemas superados.

Soou como música para os ouvidos de alguns quando nomes como Ray Dalio começaram a alardear que uma crise da dívida nos EUA poderia causar desvalorização do dólar e outra crise mundial dentro dos próximos 2 anos. Ray Dalio é o fundador da Bridgewater – o maior fundo de hedge do mundo, com aproximadamente US$ 150 bilhões em ativos sob gestão. Fundou a empresa de seu apartamento de dois quartos há mais de 40 anos e a transformou em uma das 5 mais importantes empresas privadas segundo a revista Fortune. A Bridgewater navegou de maneira invejável a crise de 2008, fazendo parte de um seleto grupo de fundos que ganhou dinheiro no período.

Recentemente Dalio começou a tornar pública sua tese sobre o dólar, inclusive disponibilizando um livro gratuito onde detalha o framework que utiliza para pensar sobre crises de dívida soberana, analisando mais de 50 crises passadas.

A ideia básica é que eventualmente o nível de dívida dos Estados Unidos está se aproximando de um patamar onde a demanda dos investidores internacionais não será suficiente para suprir a necessidade de financiamento do governo americano. A única maneira de estimular essa demanda seria aumentando taxa de juros sobre a dívida. Porém o governo não estaria disposto a tomar essa medida contracionista, muito menos a fazer um ajuste fiscal politicamente doloroso. A única alternativa que resta seria imprimir mais moeda para pagar suas contas. “In the end, policy makers always print”, escreve Dalio. A monetização da dívida levaria à desvalorização do dólar. Isso poderia colocar em risco o seu papel de moeda de reserva mundial. Dalio estima desvalorização em cerca de 30%.

Mas voltemos ao Bitcoin. Deixo claro de antemão que Dalio é absolutamente descrente do uso do Bitcoin como reserva de valor – disse que sua volatilidade atual e falta de usabilidade o torna inviável como moeda.

Concordo com Dalio. No entanto, sua linha de raciocínio explica porque o Bitcoin não é uma moeda viável no momento – pois é um meio de troca ineficiente e uma reserva de valor extremamente volátil. Nada diz sobre o futuro. Não seria natural que uma moeda emergente se comporte de maneira volátil e seja pouco útil inicialmente?

A volatilidade do Bitcoin tem diminuído ao longo dos 10 anos que existe e, como meio de troca, ele é mais eficiente hoje do que era no início. Direcionalmente, então, os argumentos de Dalio caminham no sentido de validar a hipótese de moeda, mesmo que isso venha a acontecer em um futuro distante. De qualquer maneira, não vamos nos aprofundar nesse ponto, que vai além do escopo desse texto. A ideia aqui é analisar a seguinte situação: estando Dalio certo e havendo chance razoável de uma crise do dólar (e consequentemente mundial), nos próximos 2 anos, como o preço do Bitcoin se comportaria em tal cenário?

O argumento bullish é que o Bitcoin se comportaria basicamente como o Ouro ou o Franco Suíço - ativos de reserva que aumentam de valor num evento de crise mundial - correlacionados negativamente com preço de ações e títulos dos governos afetados. Dalio sugere que os investidores mantenham de 5% a 10% dos seus ativos em ouro contra os riscos de uma crise. Reservas de valor funcionam basicamente como um seguro nesses momentos.

O caso bull mais extremo chega a colocar que o Bitcoin se tornaria o padrão monetário mundial em um evento de crise do dólar.

Suportando a tese bullish há o fato de que os dados mostram que em alguns países onde há forte desvalorização da moeda, como os casos recentes da Turquia e Argentina ,o volume negociado em corretoras locais aumentou significativamente, o que parece confirmar a tese de que a criptomoeda já está agindo como uma reserva de valor para indivíduos que não tem acesso às reservas de valor tradicionais, mesmo ainda tendo os problemas de altíssima volatilidade e uso limitado como meio de pagamento.

Já o argumento bearish vai no sentido de colocar que o Bitcoin ainda é um investimento altamente especulativo, que na verdade se beneficiou da liquidez exagerada dos últimos anos. Num evento de crise, o Bitcoin sofreria como um país emergente sofre – investidores no modo risk off tirariam liquidez do mercado de criptomoedas para cobrir perdas em seu portfólio principal. Os padrões de correlação atualmente exibidos do Bitcoin e demais criptomoedas com índices de ações e o ouro não exibem sinais de que ele aja como uma reserva de valor a nível mundial.

Quem tem razão? Quando se trata de previsões, a resposta padrão é a mais correta: depende.

No timeline do cenário descrito por Ray Dalio, tendo a refutar de pronto a tese bullish mais extrema, onde o Bitcoin poderia se tornar de facto uma alternativa ao dólar. Explico, na próxima análise, a impossibilidade do bitcoin de ser a base do sistema monetário internacional e seu papel ante uma crise do dólar.

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