Se existe uma fala antológica no Brasil moderno e repetida diversas vezes no ambiente econômico e político é a frase “No Brasil, até o passado é incerto”. Ela é atribuída ao ex-Ministro da Fazenda, Pedro Malan, mas, de tão repetida, acredito que já poderíamos dizer que é domínio público.
O fato é que no Brasil existem coisas muito peculiares que nos fazem acreditar no fato de que “o passado é incerto” e, se o passado é incerto, como deve ser o futuro? Eu, brasileiro nato, otimista por excelência, continuo acreditando que o futuro é muito melhor.
Nas palavras de Jordan B Peterson, autor de “12 regras para a vida”, “O futuro é como o passado. Mas há uma diferença crucial. O passado é fixo, mas o futuro… pode ser melhor”.
E vamos lá, hoje vivemos o futuro da década de 1990 e, você há de concordar comigo: vivemos melhor.
Quem, no início da década de 90, no auge de um período inflacionário, no meio de um processo de impeachment, com planos econômicos frustrados, imaginaria que em 2024 91,5% das residências do Brasil teriam acesso à internet? Que 55% dos brasileiros teriam aparelho celular, em um ambiente em que quase ninguém tinha acesso a uma linha fixa de telefone? Que faríamos academia em redes que dão acesso em diversos lugares do Brasil, que viajaríamos de avião com muito mais acesso e que teríamos redes de fast food para nos deliciarmos de todos os sabores do mundo a preços acessíveis?
Sim, eu vejo um presente muito melhor do que foi o passado, embora os nostálgicos se lembrarão de Pedro Bial e sua letra de Filtro Solar:
“Aceite certas verdades inescapáveis
Os preços vão subir, os políticos vão saracotear
Você também vai envelhecer!
E quando isso acontecer
Você vai fantasiar que quando era jovem
Os preços eram razoáveis
Os políticos eram decentes
E as crianças respeitavam os mais velhos”
Pronto, eu já falei bem do Brasil e ninguém vai poder me taxar de antipatriota ou algo do gênero. Agora, há muitos problemas... há riscos. Costumamos, popularmente, chamar esse risco de “Risco Brasil”, que não é o risco país propriamente dito. O Risco País mede a possibilidade do não pagamento das dívidas soberanas do país para os Investidores, sejam eles internos ou externos. Isso já aconteceu algumas vezes.
Um dos casos mais recentes foi o calote dado pela Argentina em 2019 que mexeu muito com os mercados. Mas não é deste risco que estamos falando. Estamos falando do risco de acontecerem coisas que só acontecem no Brasil. Existe até uma expressão, quando algo é muito peculiar e específico do lugar, sendo a expressão “isso é uma jabuticaba”, ou seja, só acontece aqui, porque a Jaboticaba é uma fruta originária do Brasil. Então, vamos falar de Jabuticabas. E de riscos, e de diversificação.
Imagine que você está em um dia quente de dezembro, andando pela orla do Leblon. Ao fundo, você tem a vista do Morro Dois Irmãos e o sol começa a se pôr. Na sua mente toca “Você viu só que amor, nunca vi coisa assim...”. Sim, é o Rio das novelas de Manoel Carlos.
Aquele pôr do sol é indescritível, até que o chão começa a tremer, os prédios começam a se mover e você percebe que está no meio de um terremoto grau 5 na escala Richter. Não, não há esse risco no Brasil ou, pelo menos, não temos registros de nada similar por aqui.
Esse risco está mais ligado ao Japão ou a algum outro país mais próximos às bordas das placas tectônicas. Aqui, nossos riscos são diferentes e eu vou lembrá-los de alguns.
No dia 17/05/2017 vazaram informações de uma conversa entre Joesley Batista e o presidente Michel Temer em que combinavam algo ilícito. Não quero entrar nos detalhes aqui, porém, no dia seguinte, a Bolsa caiu 8,8% com a possibilidade da renúncia do presidente que já assumira após um impeachment.
O S&P 500, na mesma data, subiu 0,37% e o dólar subiu 7,5%. Já seria um bom exemplo se eu não mostrasse o gráfico abaixo:
E se eu te disser que de 2013 até 2017 o S&P500 rendeu 54% enquanto o IBOVESPA rendeu −40%? Perdemos uma grande oportunidade enquanto o mundo ainda surfava uma onda positiva. Sim, é triste.
Ainda tivemos greve dos caminhoneiros pelo caminho, discussões sobre se o Ministro da Economia ficaria no Governo ou não. Tudo isso implica em resultados ruins de curto prazo e atrapalham os retornos, além da credibilidade do nosso país.
Os dois últimos fatos aconteceram este mês e me fizeram escrever esta seção para falar do tema. São eles:
Enquanto isso, no evento Petrobrás o mercado americano caiu 0,65% e as ações das petrolíferas subiram. Já no evento Vale (BVMF:VALE3), o mercado americano subiu mais de 1%.
Ficou mais claro agora essa questão de risco Brasil ou, em outras palavras, a necessidade da diversificação internacional?
Eu poderia falar de qualquer diversificação aqui, afinal, meu papel como Head de Alocação é justamente montar carteiras que sejam resilientes ao longo dos anos e, por isso, o conceito de diversificação se faz muito presente em todos os nossos comitês e estudos que discutimos.
Cabe ressaltar que a diversificação não é ter muitos ativos. Um investidor pode ter 5 ativos e ser mais diversificado que um investidor com 10 ativos. Neste momento, quem fala mais alto é o conceito de correlação que, trocando em miúdos, é ter ativos que se comportem de forma independente um do outro. Quer ver um exemplo simples?
Imagine aquele mesmo dia do terremoto no Rio de Janeiro que citei no começo desta seção. O que isso impacta no mercado brasileiro? Provavelmente muita coisa, porque se houve o terremoto, pode ter afetado alguma plataforma de petróleo, fechado estradas, etc.
Quem é afetado por isso? O Mercado brasileiro. Os títulos do tesouro americano não sofrem nenhuma influência, ou seja, a correlação é nula.
Partindo deste princípio, buscar ativos descorrelacionados é importantíssimo para manter uma carteira saudável e, neste momento, eu gostaria muito que você, caro leitor, levasse em consideração a possibilidade de fazer a diversificação internacional.
Encerro aqui esta seção com a expectativa de ter cumprido a minha missão de lhe fazer pensar um pouco mais sobre riscos e sobre diversificação para que você tenha resultados ainda melhores nos seus investimentos.
Até a próxima e bons negócios!