O ano novo chinês segue o calendário lunar, em uma tradição mantida desde 2200 a.C., há mais de 4 mil anos, portanto. E, no dia 10 de fevereiro, com a virada, entra em cena no horóscopo o Ano do Dragão. Muitas famílias planejam ter filhos no ano desse signo, por considerá-lo auspicioso. A literatura a respeito é farta: a mitologia do dragão o descreve, por exemplo, como um ser cuja fome é insaciável. O signo é associado ainda a arrojo, bem aventurança, prosperidade. Um sinal de bons-ventos também para o mercado?
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No ano passado, os especialistas de Wall Street, consultando seus oráculos, davam uma recessão nos EUA como líquida e certa. A história, como vimos depois, não foi bem essa. O que se viu foi ações subirem fortemente, impulsionadas pelos negócios de tecnologia (Amazon (NASDAQ:AMZN), Apple (NASDAQ:AAPL), Alphabet (NASDAQ:GOOGL), Meta (NASDAQ:META) NVIDIA Corporation (NASDAQ:NVDA), Microsoft (NASDAQ:MSFT), as de sempre) pela entrada em cena de um novo ator: a Inteligência Artificial. E teve a Tesla (NASDAQ:TSLA) (veículos elétricos) correndo na raia ao lado.
Os cavaleiros do apocalipse, mais uma vez, caíram dos cavalos. O S&P 500 (NYSE:SPY) se valorizou 24,2% e o NASDAQ, 43,4%. No Brasil, iniciávamos 2023 sob o signo da incerteza: chegava um novo governo, com um ministro da Fazenda descreditado pela maioria do mercado. Apontando para nuvens carregadas vindas de Wall Street, os cavaleiros tupiniquins do apocalipse também passaram a ver maus augúrios em toda parte, com aversão a risco antecipando um fluxo negativo para os mercados emergentes.
Caíram do cavalo também. A projeção do PIB do Brasil, segundo pesquisa do Boletim Focus em dezembro de 2022, apontava para 0,75% em 2023. No entanto, uma pesquisa realizada entre cerca de 80 agentes do mercado financeiro entre novembro e dezembro do ano passado cravou mediana de 3% (com extremos de 2,8% e 3,3%), muito acima das expectativas de um ano antes, portanto.
Que o juro deve continuar a cair por aqui e começar a cair ao redor do mundo parece consensual. Isso conspira para maiores alocações em países emergentes, já que a Europa deverá crescer entre 0,6% e 0,8% neste ano, e os EUA, coisa de 1,5%.
A grande incerteza, acreditamos, é a China e a voracidade de seu dragão. País onde tudo começou, a China foi curiosamente a última grande economia impactada pela covid: só ali pelo fim de 2022 e início de 2023 foi que sentiu a trombada, respondendo com lockdowns. Ainda assim, o PIB chinês cresceu 2,2% em 2020; 8,5% em 2021; 3% em 2022; e perto de 5,2% em 2023. Na média, foram 4% ao ano nos últimos 4 anos.
Nada mal, especialmente pelo evento da pandemia, provocando menor demanda global para os produtos chineses, impactando suas exportações. O lucro das grandes empresas chinesas deu um salto de 29,5% em novembro (base anual), vindo de apenas 2,7% em outubro. É sinal de uma forte recuperação. As exportações, que em 2006 representaram 35% do PIB chinês, em 2022 passaram a representar 19,9%, mesmo com o crescimento acima comentado. Isso significa que a economia local vem sendo o principal motor de crescimento.
O 14º plano quinquenal da China, estabelecido em 2021, tem 5 metas:
- crescimento doméstico da economia;
- manutenção das exportações;
- busca de autossuficiência tecnológica e produtos;
- promoção da prosperidade geral da população;
- melhorar a proteção ambiental através de energia limpa e renovável.
Partilhamos aqui, na Trígono, da visão de que a China, em 10 anos ou pouco mais, se consolidará como a maior economia do mundo. Vai demandar cada vez mais matérias-primas e alimentos. O Ano do Dragão pode também ser apenas resultado de uma profecia autorrealizável, em que o otimismo da população e a crença em um ciclo positivo estimulam consumo, investimentos, risco e até aumento da família e casamentos. Como não somos astrólogos nem profetas, preferimos acreditar que o governo chinês estimulará o crescimento, e para isso dispõe de meios e instrumentos.
Talvez não haja mais crescimentos de 6% a 8%, mas taxas de 4% a 5% já representam o dobro do crescimento global, e trazendo a reboque a Índia, cujo saldo comercial com a China é negativo em US$ 100 bilhões em 10 meses de 2023. O outro gigante asiático é importante parceiro comercial da China, e pode mesmo, dentro de dez anos, vir a substituir esta como motor do crescimento mundial. Afinal, o país tem 1,43 bilhão de habitantes, pouco mais que a China, e ambos representam nada menos que 35% da população mundial.
Como importante fornecedor de minérios e produtos agrícolas (saldo comercial de US$ 46,7 bilhões até novembro de 2023), o Brasil deverá continuar a se beneficiar do crescimento chinês como parceiro comercial. Que a fome do dragão seja alimentada em (boa) parte por produtos brasileiros, incluindo alimentos, minérios e petróleo, afinal, o apetite chinês é voraz e a tudo devora. Cabe a nós satisfazermos parte desse apetite
*Werner Roger é co-fundador e diretor de investimentos da Trígono Capital ;