Os formuladores da política monetária do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) foram mais a fundo em suas projeções na quarta-feira, ao prever de forma quase unânime que a taxa referencial de juros deve continuar em seu patamar atual, perto de zero, até 2022.
A expectativa do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) é que o Produto Interno Bruto (PIB) do país sofra uma contração de 6,5% neste ano, de acordo com a mediana das projeções dos seus 17 membros desde dezembro.
Mas o Fomc acredita que o PIB se recuperará com um crescimento de 5% no ano que vem e de 3,5% em 2022.
O desemprego cairá para 9,3% até o quarto trimestre, despencando para 6,5% no próximo ano e 5,5% em 2022. Já a inflação deve ficar bastante aquém da meta de 2% do Fed no futuro próximo.
A bola de cristal do Fed se mostrou menos clara após 2022. As projeções econômicas de longo prazo ficaram praticamente inalteradas a partir de dezembro, com uma taxa de crescimento de 1,8%, o desemprego a 4,1% e a inflação a 2%, em tom otimista.
Durante a coletiva de imprensa virtual de quarta-feira após a reunião de dois dias do Fomc, o presidente do Fed, Jerome Powell, esforçou-se para ressaltar o grau de incerteza de qualquer previsão, devido a fatores imponderáveis da pandemia de coronavírus e das medidas para contê-la. O surpreendente aumento de empregos registrado em maio foi bem-vindo, segundo Powell, mas o Fed não vai alterar suas visões com base em um conjunto de dados pontual.
Apesar de reiterar que o Fed fará o que for necessário durante o tempo que for preciso, Powell não tinha muitas novidades a apresentar. Sim, os membros do comitê discutiram o estabelecimento de um teto para a curva a termo e mencionaram intervenções passadas para controle da curva, mas essa é uma discussão que eles continuarão nas próximas reuniões.
A inclinação da curva a termo dos títulos do Tesouro americano foi bastante debatida, colocando em questão se o Fed tomaria alguma ação para evitar que os rendimentos de longo prazo ficassem muito acima dos de curto prazo.
Os formuladores da política do Fed estão cautelosos, e Powell disse que eles acreditam que a recuperação só ocorrerá com o tempo, à medida que as pessoas voltem a se sentir seguras não só em seus locais de trabalho, mas também em restaurantes e estabelecimentos de entretenimento.
Todos os 17 membros do painel projetaram que a taxa básica de juros do Fed ficará em 0,125% neste e no próximo ano, com apenas um projetando uma elevação de 25 pontos-base em 2022 e outro, uma alta de um ponto percentual.
Mas, por enquanto, “não estamos pensando em elevar os juros”, afirmou Powell.
O presidente do Fed não fez especulações sobre as recomendações de uma ação fiscal mais incisiva, mas classificou as que foram tomadas até então como efetivas e, sobretudo, muito rápidas. Powell ponderou que, dependendo do avanço no combate ao vírus, pode ser que o Congresso julgue necessário adotar uma ação fiscal mais ampla.
O Fed, por sua parte, pretende manter inalterada sua política monetária, prosseguindo, ao mesmo tempo, com as compras de ativos, no intuito de manter o fluxo de crédito e usar todos os seus recursos de empréstimos emergenciais para mitigar o impacto da crise sobre as empresas. Embora o Fed viesse reduzindo a taxa de aquisição, agora irá mantê-la pelo menos no ritmo atual de US$ 80 bilhões em títulos adicionais do Tesouro por mês e de US$ 40 bilhões em títulos hipotecários, outra iniciativa bem-vinda na projeção.
Powell lamentou que o desempenho tenha passado de níveis historicamente baixos para uma alta recorde em apenas dois meses. “É de cortar o coração”, declarou. “Queremos ver uma recuperação”
Os investidores do mercado acionário concordaram. No dia do pronunciamento, o S&P 500 reverteu o rali e fechou em queda de 0,5%, apesar do tom moderado do Fed. Já o índice NASDAQ acabou registrando nova máxima recorde a 10.020,35, graças à disparada das ações de tecnologia.