Nos últimos dias, tivemos a oportunidade de aproveitar uma das épocas mais alegres do calendário brasileiro: o Carnaval; mas para o investidor da Bolsa de Valores nem tudo foi alegria, e quem curtiu as festas como se não houvesse amanhã, certamente, acordou com uma ressaca daquelas na última quarta-feira de cinzas.
E bota cinza nisso. Após dois dias e meio fechada, o principal índice da bolsa de São Paulo abriu na quarta-feira caindo 4,7% e encerrou em baixa de 7%, a maior desde Joesley Day em maio de 2017. Tudo porque, após uma sequência de máximas históricas nos últimos meses, os mercados internacionais apresentaram dois dias de fortes quedas motivadas pela confirmação de novos casos de coronavírus fora da Ásia e a bomba estourou toda de uma vez na B3.
Acontece que a preocupação em torno do impacto econômico mundial que a doença pode gerar já vem sendo amplamente debatida há algumas semanas, fato que me levou, como bom brasileiro desconfiado que sou, à pergunta: será que o coronavírus é o único responsável por toda essa histeria? Creio que não.
1º evento
O temor em torno da dimensão da epidemia de coronavírus está pautado agora sobre dois aspectos: o primeiro, em mensurar a profundidade do impacto na economia asiática e o seu reflexo no PIB global; e o segundo, no risco de que algo semelhante ocorra em outros países, aprofundando ainda mais o cenário “negativo” sobre o desempenho econômico mundial, sendo esse “receio” o responsável pela queda de quase dois mil pontos no Dow Jones Industrial Average (DJIA) no começo desta semana.
Sobre isso, nem mesmo a confirmação de uma vacina contra a doença, que deve ocorrer nos próximos dias, tende a ter um impacto suficientemente positivo para minimizar as preocupações no médio prazo, uma vez que ela terá apenas caráter reativo no primeiro momento.
2º evento
Após a sequência de máximas históricas nas bolsas americanas e brasileiras, já se considerava a possibilidade de correções mais intensas, ou seja, os investidores que vinham mantendo as posições de compra optaram por liquidar suas operações e colocar o “dinheiro no bolso”. Boa parte das últimas altas, inclusive, vinha sendo resultado do cenário positivo para o ano e a expectativa de que o coronavírus seria rapidamente contido, mas esse entendimento já caiu por terra.
Aqui, cabe a ressalva. Se no aspecto técnico, as correções (ou eventos inesperados como o coronavírus) fazem parte da dinâmica natural do mercado, na análise fundamentalista, ainda é bastante cedo para promover uma reavaliação dos fundamentos dos ativos em sua carteira. Portanto, calma.
3º evento
Ao mesmo tempo que tudo isso acontece, as eleições para a presidência nos Estados Unidos começam a gerar tração no mercado. A escalada do senador Bernie Sanders, um socialista democrático que desponta como favorito à indicação do Partido Democrata à Casa Branca, eleva as tensões no mercado de ações. Até o momento não se precifica uma possível vitória de Sanders, mas historicamente as eleições americanas sofrem reviravoltas no final e, por isso, entram no radar dos investidores desde já.
4º evento
Por fim, o aumento gradativo de novos investidores na bolsa de valores em busca de melhores resultados aumenta também o sentimento reativo às correções e variações do mercado da renda variável, o que torna o ambiente mais especulativo. Neste caso, a imaginação ganha asas e as teorias mais malucas ganham forças por aqui, o que me fez lembrar de uma frase de autoria desconhecida, mas muito utilizada no mercado financeiro: “o sucesso depende 80% de controle emocional e 20% da técnica utilizada”. Em outras palavras, de nada adianta ter uma estratégia perfeita se ela for sabotada pelo emocional reativo.
O fato é que, se depender dos primeiros meses de 2020, a vida do investidor da renda variável será de grandes emoções. E tudo bem. Não é o fim do mundo. Mantenha a direção e corrija as distorções. Afinal, mar calmo nunca fez bom marinheiro.