Estamos vivendo tempos, no mínimo, diferentes se tratando-se de mercado financeiro. Estamos em um momento onde tudo que tem a palavra “tech” ou algo similar, repercute positivamente e gera um reflexo muito forte e positivo, principalmente quanto ao valuation de empresas com essa palavrinha. São empresas sendo avaliadas a mercado a mais de 150 vezes lucros, 100 vezes lucros e isso acontecendo tanto no mercado de investimento americano, quanto no mercado brasileiro.
Com a entrada massiva de investidores pessoa física, muitos são novatos no mercado e mais do que nunca precisam ser alertados que um bom investimento não é apenas em que se compra empresas conhecidas e boas empresas, mas acima de tudo, empresas que sejam boas e com bons preços. Por bons preços, significam empresas que estejam baratas, que possuam uma boa margem de segurança ao investir, que não estejam na “moda” (empresas que estejam muito na mídia, tem um custo e o custo é o de estarem com preços, provavelmente, já não atraentes, pois outros já notaram isso) e a preços que não embutem uma necessidade de crescimento tão alto, onde a empresa investida tem praticamente obrigação de crescer.
Empresas negociadas a 100x lucros anuais, 70x lucros anuais, são empresas que o mercado de ações acredita que o que elas cresceram recentemente (taxas de crescimento de dois dígitos, no mínimo) como por exemplo, 30% ao ano, irá ser perpetuado e essas empresas irão ter por um longo período ao menos, esses percentuais de crescimento, o que é difícil para uma empresa já consolidada e grande.
É o que vem acontecendo com as empresas “tech” atual, que embutem necessidades de taxas de crescimento muito altas. No momento atual, nos Estados Unidos temos a Amazon (NASDAQ:AMZN), que negocia a 152x lucros anuais, já tem 49% do varejo online americano. No Brasil temos a B2W (SA:BTOW3), dona das Lojas Americanas (SA:LAME4) e da Submarino, que não tem lucro desde 2011 e é a ação que mais sobe em 2020 no Ibovespa. Não é fácil muitas vezes investir com margem de segurança e com personalidade. Saiba que o momento atual é muito parecido com a “Bolha.com”, inclusive em termos dos altos valuations e a certeza de que alguns investidores que empresas de crescimento irão sempre crescer a taxas estratosféricas.
…era uma vez Dow a 36.000 pontos!
Algo similar ao momento atual, ocorreu entre os anos de 1999-2000, na chamada “Bolha.com”, onde ativos eram negociados em múltiplos altíssimos, parecidos com o que vemos agora.
O frenesi era tanto que em outubro de 1999, quando o Dow Jones estava ao redor de 10.500 pontos, foi lançado o Livro “Dow 36.000”, de John Glassman, que fazia uma previsão que o Índice Americano Dow Jones, chegaria logo em 36 mil pontos. 21 anos passaram-se e até hoje o Dow Jones não chegou nesses 36 mil pontos, chegando no máximo perto dos 30 mil pontos, cerca de 20% do que foi previsto em 1999, mesmo tanto tempo se passando.
A justificativa do autor Glassman era de que as ações não tinham riscos maiores que os bonds e o que o prêmio de risco deveria cair para próximo de zero. Na visão dele na época, ações deveriam ser vendidas com os mesmos valuations que os bonds do Governo Americano, que teoricamente tem risco perto de zero. Obviamente, após a “Bolha.com” ninguém mais ouviu de Glassman e seu amigo que escreveu o Livro até porque em 2000-2001 o Dow Jones sofreu um dos maiores colapsos da história. É importante lembrar desse Livro e da “Bolha.com”, muito similar a possível “Bolha tech” que alguns mencionam.
Entre os anos 1999-2002 (em 2002 estourou a “Bolha.com”) do ponto mais alto da Nasdaq (a Bolsa de tecnologia americana onde eram negociadas as empresas.com) nos 7160 pontos em fevereiro de 2000 até a mínima de 1677 pontos em setembro de 2002, muitas empresas eram negociadas a preços altíssimos e que demorou para estourar a bolha como vemos.
Além disso, cabe salientar que os juros da época saíram de 7% em 2001 para 1% em 2002, algo similar com os juros baixos de agora. Ressalto que a combinação de juros baixos, ativos a preços caríssimos e dinheiro em abundância são sempre um risco de possíveis bolhas!
Sinais de uma bolha
Acredito que são três os sinais que podem servir como antecedentes ao estouro de uma possível bolha:
- política monetária expansionista e dinheiro fácil: momento atual em quase todo o mundo, há dinheiro de sobra. Moro nos Estados Unidos, na Flórida e aqui cada residente recebeu US$ 1.200 iniciais, mais US$ 600 por semana para quem está desempregado. É mais que o salário mínimo americano. Além disso, os quatro maiores bancos centrais injetaram US$ 18 trilhões no mercado e inclusive, o Banco Central Brasileiro, já aumentou em 22% a base do dinheiro em circulação entre os meses de março e julho. Além disso, o dinheiro não é apenas fácil, mas as taxas de juros “punem” os investidores que querem poupar. O retorno dos juros está baixo e se ajustado pela inflação, o retorno real torna-se negativo, trazendo perdas para qualquer investidor;
- Narrativas de empresas de crescimento que captam a atenção do investidor: tivemos a “Bolha.com” no passado com a história de empresas que eram criadas em garagens e que iriam crescer muito. Na época dessa loucura, as empresas chegaram a ser avaliadas por clicks em sites, algo muito sem noção. Um exemplo claro e que já tratei aqui em meus artigos anteriores, é o caso da Tesla (NASDAQ:TSLA) que tem valor de mercado que as 7 maiores empresas de produção de automóveis juntas e que tem receita 29x menores! Outro exemplo que já citei é a Amazon.
- E por último, participação em massa de investidores e possibilidade de especulação: Já mencionei aqui também do aplicativo Robin Hood e a facilidade de que os investidores americanos podem ingressar no mercado. A maioria desses investidores vêm comprando ações da Tesla, Amazon e outras empresas conhecidas, sem avaliar qualquer balanço sobre essas empresas.
O que seria um sinal de início de uma bolha? Juros. Fique atento aos juros e ao que ocorreu no Japão nos anos 90 e na “Bolha.com”.
Venho frisando a importância na seletividade de ações cada vez mais, não indo pelo conselho de outros investidores e filtrando o que lê e ouve, assim como um outro exemplo que aconteceu essa semana com o Warren Buffett e a compra de ouro.
Buffett e o investimento em ouro… será?
Recentemente saiu na mídia o investimento em ouro de Warren Buffett e que o mesmo estaria investindo de forma massiva no metal precioso. O fato é que foi feito um investimento de US$ 560 milhões na Empresa Barrick Gold. Poucas pessoas se deram conta, mas o valor é cerca de 0,7% da fortuna pessoal de Warren Buffett e cerca de 0,11% do total de valor de mercado da Berkshire Hathaway. É como você tivesse R$ 1 milhão e investisse R$ 5.600 em ouro. Não é quase nada. Algo muito pequeno perante o valor total de ativos que tem o Warren Buffett, algo praticamente irrelevante e que foi claramente usado para criar narrativas e vender jornais e mídia. Por isso, como o título do artigo diz, filtre o que lê e ouve vindo do mercado de ações.
Aproveitando que estou falando do velhinho de Omaha, um indicador interessante e que acredito na utilidade é a o valor de mercado de todas as bolsas mundiais e do que é produzido mundialmente, conhecido como PIB. Hoje, a capitalizaçao de mercado está acima do PIB Global, o que é algo que também liga o sinal amarelo para o mercado de ações, e que podemos ver abaixo:
fonte: Bloomberg
O que estou pensando do mercado atual?
Venho efusivamente mostrando dados de que acredito que as commodities e o Brasil em especial tenderão a ser privilegiados com os movimentos que estão acontecendo. Também dado o gráfico abaixo, é claro o movimento de depreciação das maiores moedas mundiais contra o ouro (poderia ser contra outros ativos reais que não possuem interferência-criação humana).
Já o sentimento de mercado saiu de Pânico para Euforia, segundo o Market Sentiment, do Citigroup:
Nos Estados Unidos, o comércio varejista vem se recuperando a níveis pré-covid:
E, por último, a quantidade de puts-call ratio nos EUA, está em um dos menores patamares:
Finalizando:
Desconfie de tudo o que lê e ouve. Tenha pensamento crítico, inclusive sobre o que escrevo aqui (mas serão bem-vindas mensagens suas abaixo). Por não ter um pensamento crítico, vários dos investidores em opções de Cogna (SA:COGN3) (mais de 10.000 investidores) tiveram suas opções valendo a zero!! Não acredite em tudo que lê e ouve do mercado financeiro. Se quiser acreditar e não puder filtrar, compre um ETF! Se tiver preguiça de estudar os ativos, compre um bom ETF!
Se você não tiver tempo para acompanhar o mercado, ler relatórios e criar um pensamento crítico, poupe seu tempo e compre um bom ETF! Isso é o melhor a fazer, pois como sempre digo, tempo é o ativo mais precioso que temos e o segundo é a liberdade!
Fico por aqui!