A mesma mão pesada do Estado que intervém na maior empresa estatal do país, assustando o mercado financeiro, é aquela que afaga os investidores, com sinais de privatização no setor elétrico. Vai entender esse viés liberal do governo.
Se um dia Brasília deixa os investidores nervosos, no outro oferece a dose de alívio. Nesse morde e assopra, o mercado financeiro caminha, corrigindo os exageros e confiando no avanço da pauta fiscal, como a questão do auxílio emergencial, que vinha afligindo os negócios locais há semanas.
Mas o cenário nebuloso criado pelo presidente Jair Bolsonaro ao anunciar a troca de comando na Petrobras (SA:PETR4) ainda não se afastou e o mercado financeiro deve continuar nesta zona cinzenta, sujeito a turbulências e solavancos. Nesse ambiente, o vaivém dos ativos locais deve ser intenso.
Ainda mais agora que os investidores se deram conta de que o principal pilar do mercado financeiro não é mais o ministro da Economia, Paulo Guedes, que fica mudo. A perda de credibilidade do Chicago oldie é evidente, que já nem é visto mais como motor das reformas.
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A engrenagem é do Centrão e valeu mais o reforço do compromisso com a agenda econômica por parte do presidente da Câmara, Arthur Lira. É no Congresso, então, que o mercado financeiro espera encontrar o ponto de estabilidade.
Mas, para tanto, o governo terá de abrir o cofre, liberando mais emendas parlamentares e loteando cargos do Executivo com indicados do bloco. Ou seja, não há razão para ser otimista: toda a agenda está se movendo para gastar mais dinheiro, em vez de encontrar soluções estruturais para o problema fiscal.
Reflação X Estagflação
Lá fora, os mercados internacionais ainda ecoam o tom suave na fala do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, ontem no Senado. Ele reiterou que a política monetária nos Estados Unidos irá permanecer frouxa (“dovish”) até que as condições voltem ao normal, sinalizando que a taxa de juros no país deve demorar a subir, ainda que haja um risco de inflação mais forte.
Diante do debate em torno da chamada “reflação” - termo que se refere à inflação resultante de uma retomada acelerada da economia após um período de recessão, provocada pelo uso agressivo de estímulos monetários e fiscais para aquecer o consumo - o mercado financeiro começa a avaliar se não seria, na verdade, um cenário típico de estagflação. Nesse ambiente, há forte pressão de altas nos preços, mas sem crescimento econômico.
Os investidores, então, equilibram suas posições à mensagem do presidente do Fed, que não deve reverter os estímulos monetários tão logo, de modo a impulsionar a atividade, nem agir para combater uma eventual alta dos preços. A expectativa é de que ocorra uma nova rotação global entre as ações, com as tech caindo e os ativos cíclicos subindo.
Ao mesmo tempo, o rendimento (yield) do título dos EUA de 10 anos (T-note) segue na máxima em um ano. Os índices das bolsas de Nova York amanheceram em queda, com o Nasdaq futuro exibindo perdas mais aceleradas, ao passo que a T-note oscila ao redor de 1,35% e o dólar cai. O petróleo também recua, mas segue acima de US$ 60 por barril.
Dia de agenda cheia
A agenda econômica, enfim, ganha força e traz como destaque no Brasil a prévia deste mês da inflação oficial ao consumidor brasileiro (IPCA-15), que deve desacelerar a 0,5%. Ainda assim, deve ser a maior taxa para o mês desde 2017. Com isso, o acumulado em 12 meses deve subir a 4,55%, com o índice seguindo acima da meta perseguida pelo Banco Central para este ano, de 3,75%.
Os números oficiais serão conhecidos às 9h. Antes, às 8h, saem os índices de confiança do consumidor e na construção civil, além dos custos a esses agentes econômicos. Ainda pela manhã, o BC publica os dados de janeiro do setor externo. À tarde, às 14h30, a autoridade monetária volta à cena para anunciar os dados parciais sobre a entrada e saída de dólares (fluxo cambial) do país, enquanto o Tesouro divulga o relatório de janeiro da dívida pública.
Na safra de balanços, a Petrobras divulga o balanço referente ao quarto trimestre e ao acumulado de 2020, após o fechamento do pregão local. Já nos EUA, o calendário está concentrado a partir do meio-dia, quando o presidente do Fed volta a depor, desta vez, na Câmara. No mesmo horário, saem dados do setor imobiliário norte-americano. Na sequência, às 12h30, é a vez dos estoques norte-americanos de petróleo bruto e derivados.