Os mercados tentam evitar que janeiro seja marcado pela amargura do vinagre e buscam adoçar os ativos de risco nesta reta final de mês. O que está em experimentação é o chamado “Efeito Janeiro”, que se refere à mística em Wall Street de que os índices de ações se valorizam no primeiro mês de cada ano, ditando o rumo nos meses seguintes.
Até aqui, o Ibovespa amarga perdas de 3,9%, na contramão dos ganhos moderados em Nova York. Enquanto o Dow Jones avança pouco mais de 1%, o S&P 500 tem alta de 2,5% neste começo de 2024. Já o Nasdaq sobe quase 3%. Portanto, após um rali garantir tudo azul em novembro e manter o brilho em dezembro, janeiro faz lembrar um outubro vermelho, quando os mercados globais amargaram fortes perdas.
Mas essa transformação da água para o vinho vai depender do tratamento do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) aos juros na quarta-feira (31). Se o tom das palavras de Jerome Powell for doce (“dovish”), os investidores ainda podem alimentar esperança de início do ciclo de cortes da taxa dos Estados Unidos em março. As apostas de redução na segunda reunião deste ano estão divididas, com chance maior de manutenção.
Porém, se Powell optar por um discurso amargo, pode azedar de vez o apetite por risco e disparar uma correção nos preços dos ativos, em especial dos emergentes, à medida que o alívio monetário por lá vai ficando para depois - e talvez não seja nem em maio. Por ora, a probabilidade de corte antes do início do verão (no hemisfério norte) é de pouco mais de 50%.
Com isso, os mercados globais devem operar ao sabor do vento nesta segunda-feira (29), ajustando suas posições e preparando-se para qualquer mudança de direção. Tanto que os futuros dos índices das bolsas norte-americanas amanheceram na linha d’água, prontos para retomar fôlego ou mergulhar nos próximos dias. O mesmo comportamento lateral tem as commodities, com o petróleo em leve baixa e o minério de ferro com leve alta.
Muito além do Fed
Além da decisão do Fed, que marca a primeira “Super Quarta” do ano diante do anúncio do Comitê de Política Monetária (Copom) horas depois, a agenda econômica dos EUA também traz dados sobre o mercado de trabalho. Amanhã sai o relatório Jolts, depois tem os dados da ADP sobre o emprego no setor privado e, na sexta-feira (2), o payroll.
Dados de atividade nos setores industrial e de serviços nos EUA, na Europa e na China recheiam o calendário a partir de terça-feira (30). Também merece atenção o índice de preços ao consumidor (CPI) na zona do euro, na quinta-feira (1), após a presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, indicar cortes em meados deste ano.
Por aqui, o destaque fica para o início da temporada de balanços do quarto trimestre de 2023. A largada será dada pelo Santander (BVMF:SANB11), na quarta - engrossando o caldo do “super dia” da semana. A safra de resultados também continua em Nova York, onde as big techs Microsoft (NASDAQ:MSFT), Alphabet (NASDAQ:GOOGL), Apple (NASDAQ:AAPL) e Amazon (NASDAQ:AMZN) mostram porque estão entre as 7 magníficas - a exceção fica com a Tesla (NASDAQ:TSLA), do agora ex-homem mais rico do mundo, Elon Musk.