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Medo de Recessão Faz Autoridades do Fed Ficarem Cada Vez Mais na Defensiva

Publicado 09.05.2022, 10:52
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Alguns dos comentários do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, em sua coletiva de imprensa, na semana passada, fizeram com que muitos se questionassem se ele não estaria vivendo em um universo paralelo.

Ao falar sobre a escassez de mão de obra, Powell elogiou a força da economia americana.

“A economia está forte e nada sugere que esteja vulnerável a uma recessão.”

Exceto, talvez, pela queda de 1,4% no PIB do país no primeiro trimestre. Outro declínio como esse no segundo trimestre significaria uma recessão neste ano, embora a inflação esteja claramente longe de ser contida.

Muitas pessoas sensatas acreditam que uma recessão seja inevitável, mas quando Powell foi indagado a esse respeito na coletiva, manteve sua posição.

“Acho que temos uma boa chance de restaurar a estabilidade de preços sem uma recessão, sem uma queda acentuada, sem um nível substancial de desemprego”.

Powell ainda espera realizar um pouso “suave” na economia, desacelerando a atividade, mas sem provocar um recuo maior.

Por um breve momento na quarta-feira, Powell parecia determinado a entrar para a história como o presidente do Fed que trouxe de volta a tigela de ponche. Ele declarou ter certeza de que não estava sobre a mesa qualquer aumento da taxa de juros acima de meio ponto, ao responder a uma pergunta sobre uma alta de 75 pontos-base, algo que as autoridades, segundo ele, não estavam "considerando ativamente".

O presidente do Fed disse ainda que deve haver outros aumentos de meio ponto, mas ressaltou que o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) poderia voltar a realizar aumentos menores, de 25 pontos-base, caso novos dados respaldassem esse posicionamento.

Não é uma questão de “se”, mas de “quão ruim”

Os mercados inicialmente encararam seus comentários como se os dias felizes tivessem voltado, e os investidores adoraram. As ações subiram, os juros dos títulos caíram. Até que pensaram melhor sobre a questão e colocaram os mercados em marcha à ré, fazendo as ações afundarem e os rendimentos dos títulos saltarem no dia seguinte.

Analistas começaram a criticar ex-autoridades do Fed que achavam que Powell estava sendo muito otimista com os aumentos dos juros. O Fomc terá que elevá-las acima do que as autoridades acreditam ser suficiente para combater a inflação, tornando quase inevitável uma recessão.

Os ex-vice-presidentes Richard Clarida e Randal Quarles defenderam essa posição, enquanto o ex-presidente do Fed de Nova York, Bill Dudley, e até mesmo o ex-governador Alan Blinder consideram provável uma recessão.

Críticos do Fed, como o economista Charles Calomiris, acham que não é mais uma questão de saber se haverá uma recessão, mas de quão ruim ela será. Como ele apontou na semana passada:

“O Fed perdeu sua chance de fazer um aperto sem uma recessão. Quanto mais tempo eles demoram e fingem que ainda podem ter essa chance, mais grave fica a situação”.

Parte do problema é que Powell e seus colegas do Fed estão em uma posição desconfortável.

O presidente atrasou a ação em relação aos juros, porque esperava ser renomeado ao cargo.

Agora, a julgar por todo esse discurso rígido, ele está se movendo muito devagar para apertar a política monetária, porque suas antenas políticas dizem que juros maiores e recessão não seriam nada bons para as eleições de meio de mandato.

Uma pesquisa da CNBC entre pequenos empresários mostrou, na semana passada, que 8 em cada 10 pesquisados esperavam uma recessão neste ano, demonstrando que estão mais pessimistas do que os profissionais de Wall Street que deram aquele breve suspiro de alívio na quarta-feira, fazendo o mercado subir.

Com as críticas aumentando, as autoridades do Fed ficaram cada vez mais na defensiva. Christopher Waller, membro do conselho de governadores, disse, na semana passada, que o Fomc não era o único grupo que se equivocou ao prever a inflação no ano passado.

Mas é o único grupo que importa e que não pode se dar ao luxo de se equivocar assim sem que todos sofram as consequências.

Como forma de se desculpar, Waller, ex-economista-chefe do Fed de St. Louis, observou que o Fomc é formado por um grupo heterogêneo de autoridades, cada uma com suas próprias convicções a respeito da melhor forma de alcançar o duplo mandato do Fed, que é o máximo emprego e os preços estáveis.

“Precisamos reconciliar essas visões e atingir um consenso em torno do que acreditamos que fará a economia atingir nosso mandato. Esse processo pode gerar mudanças mais graduais na política, na medida em que os membros se comprometeram a alcançar um consenso”.

Isso soa um tanto estranho, mas sem dúvida era mais fácil influenciar a política quando Waller precisava agradar apenas uma pessoa. Seu ex-chefe, o ex-presidente do Fed de St. Louis, James Bullard, assumiu a dianteira daqueles que defendem uma ação mais agressiva do banco central dos EUA.

O economista Robert Brusca disse, na semana passada, que o Fed perdeu o barco e que uma recessão agora é inevitável.

“Consideramos que recessões ocorrerão antes do tempo, mas é preciso ressaltar que emitiram alertas suficientes para agir. É como o Titanic vendo o iceberg, mas... Tarde demais. O Fed possui modelos, muitas ideias, um sem-número de economistas, mas provavelmente não dispõe mais das opções certas”.

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