Por Kathy Lien, diretora executiva de estratégia de câmbio da BK Asset Management
Tivemos ontem mais um dia de movimentos nauseantes nos mercados financeiros, à medida que as manchetes provocavam fortes oscilações nas moedas e ações. Diante das perdas de mais de 2.000 pontos no Dow Jones e acentuados declínios nos rendimentos do Tesouro americano, o Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) resolveu aumentar a liquidez dos mercados financeiros. Em um esforço para conter o vírus, o presidente dos EUA, Donald Trump, baniu todos os estrangeiros que viessem da Europa (exceto Reino Unido) pelos próximos 30 dias. E os investidores não ficaram nada impressionados.
A contínua liquidação nas ações reflete a falta de confiança do mercado em seus líderes para conter o vírus. Mesmo com a desaceleração de novos casos na China e na Coreia do Sul, deve haver uma disparada no número de casos nos EUA, que tem a maior economia e o maior mercado financeiro do mundo. Eventos de grande escala estão simplesmente sendo proibidos, as empresas começam a testar o trabalho a partir de casa e algumas escolas estão fechando. A CME fechará seu pregão presencial na sexta-feira (13), e pode ser apenas uma questão de tempo para que a NYSE feche suas portas. Quando esse anúncio for feito, o pânico desencadeará mais vendas. Ainda não vimos o pior do vírus nem dos mercados financeiros, razão pela qual os investidores não deram a mínima para os esforços do banco central americano, pois a volatilidade e a aversão ao risco não devem dar trégua.
Inicialmente, as ações dispararam na esteira do anúncio de liquidez de US$ 1,5 trilhão do Fed, mas os vendedores retornaram rapidamente para fazer os papéis despencarem, já que essas medidas de liquidez tinham como objetivo normalizar as operações de mercado, e não estimular a economia. O Fed, por exemplo, ampliará a faixa das suas recompras de Títulos de diferentes vencimentos e oferecerá US$ 500 bilhões de liquidez para operações de três meses e um mês. Tudo isso ajuda a aliviar o mercado de títulos, mas não ajuda no orçamento das empresas e consumidores. Ao mesmo tempo, alguns estados e países estão tomando ações mais drásticas para conter o vírus. Eventos de grande escala estão proibidos, e as escolas estão fechando. Até agora, o governo dos EUA ofereceu muito pouco para agradar o mercado, já que o corte de impostos sobre a folha de pagamentos e a proibição de viagens nos EUA foram alvo de intensa crítica.
O Banco Central Europeu também anunciou drásticas medidas de liquidez para dar suporte à economia, mas os investidores estavam desapontados com o fato de a taxa de juros ter ficado inalterada. O BCE elevou seu programa de compra de ativos em 120 bilhões de euros, introduziu um novo programa de empréstimos de baixo custo que basicamente pagaria aos bancos até 0,75% para oferecem empréstimos a pequenas empresas. A instituição também reduziu os requisitos de capital para os bancos durante esse período extraordinário. O EUR/USD atingiu 1,1055 após a decisão de juros do BCE, mas se recuperou para 1,12 ao final da sessão em Nova York.
O dólar estadunidense disparou em resposta, ao passo que os rendimentos do Tesouro se estabilizaram. As moedas de economias menores, como as da Austrália e Nova Zelândia, foram as mais afetadas, mas estamos surpresos com o fato de que o USD/CAD não tenha se desvalorizado, considerando o persistente declínio dos petróleo. Em razão das medidas drásticas tomadas pelos governos na Ásia e Europa para isolar suas cidades às custas de suas economias, o primeiro trimestre será sombrio para a maioria dos países. Uma recessão global já está praticamente certa, o que torna difícil justificar a compra de quaisquer moedas de risco.