Em mais um capítulo da saga da importância do risco na tomada de decisão de investimento, falaremos sobre o consagrado VaR (Value at Risk). Para recapitularmos brevemente, no texto passado foi dissecado o Position Sizing, que nada mais é do que saber o quanto de financeiro alocar em uma operação antes de necessariamente entrar nela.
Na década de 1950, o economista norte-americano Harry Markowitz associou risco, retorno e diversificação para encontrar a Fronteira Eficiente que possibilitasse a maximização do retorno em função de uma determinada mensuração de risco assumido, relação esta que deu origem à Teoria Moderna do Portfólio.
A lapidação do modelo ao longo dos anos, com estudos na área de finanças, foi ganhando espaço no mundo acadêmico e financeiro desde então, ante a possibilidade de automatização das estratégias de investimentos.
No início da década de 1990, o então CEO do JP Morgan, Dennis Weatherstone, ordenava que seus operadores enviassem um relatório 15 minutos antes do fechamento de Wall Street relatando a exposição total do banco no mercado, a fim de controlar diariamente a exposição ao risco das carteiras.
O retorno positivo da metodologia desenvolvida pela equipe do JP Morgan foi tão grande que o banco de investimento decidiu criar uma divisão especializada em fornecer relatórios sobre análise de risco, batizada como RiskMetrics — hoje, transformada em empresa que faz parte da instituição.
Foi então que, em 1994, a metodologia utilizada pelo JP Morgan foi divulgada e o mercado passou a conhecer o modelo de análise de risco VaR (Value at Risk), uma das principais ferramentas de gestão de risco utilizadas no mercado.
VaR
O VaR é calculado a partir da maior perda esperada de um ativo ou carteira, sob condições normais de mercado, relacionado a um intervalo de confiança e horizonte de tempo previamente estabelecidos.
Com base no histórico de um determinado ativo e estudos estatísticos, o investidor poderá saber através do VaR quanto sua carteira está exposta ao risco em um determinado espaço de tempo.
Romain Berry, analista do JP Morgan, explica, em um estudo, que existem basicamente 3 metodologias para se calcular tal medida de risco: Paramétrico, Simulação Histórica e Simulação de Monte Carlo.
Os grandes fundos de investimentos utilizam predominantemente o VaR Paramétrico, pois, através deste método, o gestor pode englobar uma série de variáveis estatísticas e econométricas, tornando a análise mais dinâmica ao mercado.
As duas últimas versões são mais simples de serem aplicadas pelo investidor. Necessitam de um histórico de cotações confiável e relativamente extenso, pois quanto maior a amostra, maior a confiabilidade do resultado.
Vale a pena?
Apesar de ser eficiente em proporcionar ao investidor uma estimativa sobre a potencial perda de uma carteira em função do histórico dos preços, muitas críticas são feitas à ferramenta de análise de risco.
Um dos principais críticos é Nassim Taleb, autor do livro ‘A Lógica do Cisne Negro’, publicado em 2007 e utilizado por muitos para entender melhor a crise financeira de 2008. A publicação explora o impacto de eventos com baixíssima probabilidade de ocorrência.
De acordo com Taleb, o VaR é falho por pressupor que o mercado pode ser representado por uma curva normal, desconsiderando os eventos “fora da curva”, ou melhor, à esquerda da curva — por serem estatisticamente raros e causarem um grande impacto.
De qualquer forma, o VaR se sustenta entre as ferramentas de manejo de risco mais utilizadas pelo mercado como um todo. Contudo, para evitar erros de interpretação, o investidor deve desenvolver o modelo com validação estatística, para alinhar perdas máximas previstas com perdas reais.