No Brasil, o caos é permanente, sem uma saída a vista sobre a crise institucional que vivemos. Nas respostas, em discurso Luiz Fux, presidente do STF, foi bem duro, colocando o crime de responsabilidade na mesa e deixando a cargo do Congresso a decisão sobre o impeachment. Disse ele que a corte não irá tolerar ameaças à autoridade de suas decisões e acrescentou que “o desprezo às decisões judiciais, além de representar atentado à democracia, configura crime da responsabilidade”.
Já o Congresso, através de Arthur Lira, tentou ser apaziguador, se colocando como uma “ponte” na tensa relação entre Executivo e STF, mas parece não ter dado muito certo. Continuamos no “olho do furacão”, o que se refletiu nos mercados: a bolsa recuou forte, voltando ao patamar de março (113 mil pontos), o dólar passou de R$ 5,30 e o juro deu uma boa “inclinada”.
No exterior, dia de reunião do BCE, com entrevista de Lagarde em seguida e projeções atualizadas da zona do euro. No Brasil, o IPCA de agosto, em desaceleração, mesmo com a curva de juro desafiando o Tesouro nos leilões de prefixados. Depois da forte ressaca no day after de 7 de setembro, algum alívio pode ocorrer hoje, mas temporário, visto que a crise ainda está aí.
Este é o diagnóstico a ser feito
Os poderes da república vivem uma crise de governança, por decisões açodadas no passado, e a sociedade se mobiliza, ora se apoiando num “blefe” chamado Jair Bolsonaro, ora “vendo” como alternativa o ex-preso e ainda réu Lula da Silva. Olhando para 2022, nenhuma das duas escolhas nos parece razoável, cheias de contradições, mensagens enganosas e poucas “propostas de governo”. Nos parece haver aqui uma luta ferrenha por poder, nada republicana, nada democrática.
Bolsonaro, pelo conjunto da obra, inúmeros conflitos e bate-bocas desnecessários, total incapacidade de pacificar a sociedade; Lula por ter sido o líder de um mega esquema de corrupção, com os crimes ainda aí. Deveria estar preso, mas está solto, por obra da “engenharia jurídica” do STF, num claro comportamento tendencioso. Como conviver, institucionalmente, com a mais cínica impunidade?
Sim, Bolsonaro é um problema, num momento em que o mais recomendável seria buscar o diálogo e a chamada “harmonia” dos poderes”. Sua postura não é a de um líder de todos os brasileiros, mas sim, apenas, dos seus “apoiadores” mais aguerridos. Numa reunião no Conselho de Ministros, disse que não iria recuar sobre as críticas à Alexandre de Moraes, e reafirmou a desobediência sobre qualquer decisão dele. Para piorar, vários caminhoneiros resolveram paralisar o país, em resposta ao momento atual.
Analisando o STF, sua importância não pode ser questionada, por ser o “intérprete da Constituição Federal”, mas a atuação recente da sua composição atual de 11 ministros, sim, deve ser objeto de uma análise mais detida.
Parte da sociedade parece não aceitar algumas das suas decisões, como ter prendido várias lideranças deste governo, por “crime de opinião”, mas também havendo alguma incompreensão depois de ter acabado com a Lava Jato, agindo ao “arrepio da lei”, soltando vários meliantes envolvidos nas ilícitas transações no ciclo lulo-petista, inclusive o próprio Lula. E isso chama a atenção de muitos. A dificuldade que o STF tem de manter alguém preso. Até chefe de quadrilha de tráfico de drogas já foi solto.
Como um país pode evoluir, institucionalmente, democraticamente, se a frouxidão jurídica é regra, a impunidade predomina? Como faz?
Agenda econômica de lado
Neste ambiente de crise política e institucional, a agenda econômica do ministro Paulo Guedes vem sendo deixada “meio de lado”.
No Congresso, os parlamentares devem centrar esforços na aprovação do Orçamento 2022, que precisa ser votado já para não comprometer a execução de despesas no ano que vem. Esta tarefa, no entanto, não parece fácil, visto que estimativas de mercado são de que há um buraco de cerca de R$ 70 bilhões.
E o que dizer da agenda de reformas? A tributária segue parada no Senado e a Administrativa, em comissão, a ser votada e indo à Plenário. Ambas, inevitavelmente, devem atrasar. E ainda temos o debate sobre a PEC dos precatórios e o novo programa Auxílio Brasil.
Na China e nos EUA
Na China, saiu a inflação (CPI) de agosto, mensal a 0,1%, em 12 meses a 0,8%, contra previsão de 1%. Já o PPI, em 12 meses, foi a 9,5%, contra estimativa de 9,0%. Na economia real, já se observa uma perda de dinamismo, devido à pandemia, que deve se espraiar sobre toda a economia global.
Nos EUA, segundo Robert Kaplan, do FED de Dallas (direito à voto em 2023), o ressurgimento da Covid impacta a retomada da economia, o que deve revisar muitas taxas de crescimento. Por lá, já se trabalha com 6,0% neste ano, não 6,5%, recuando a 3,0% em 2022. Acha Kaplan, que o Fed deve anunciar o início do tapering na reunião de setembro. Em paralelo a isso, a secretária de Tesouro, Janet Yellen, se preocupa com o risco de exaurir os fundos, se o teto da dívida pública não for elevado, e não haver mais recursos a partir de outubro.
Sobre o Livro Bege, foi informado que todos os distritos dos EUA seguem em crescimento de emprego e que as demandas por trabalho continuam, mesmo na falta de mão de obra. Possíveis lapsos de crescimento acontecem por causa da pandemia. Mesmo havendo pressão no mercado de trabalho, pela falta de mão de obra, a inflação segue estável, mesmo que em nível elevado. No setor produtivo, o receio é de que falte mais insumos na cadeia produtiva.
Mercados
No Brasil, a bolsa de valores despencou 3,78%, a 113.412 pontos, e o dólar subiu 2,83%, a R$ 5,334. Foi um dos piores dias do ano, se não o pior, com aumento de aversão ao risco, derrubando a bolsa de valores aos níveis de março, e puxando o dólar e o juro futuro, no recrudescimento das tensões entre Bolsonaro e STF. Para piorar, ontem foi dia de protestos nas rodovias do Brasil, com os caminhoneiros parando, bloqueando estradas.
Nesta madrugada (05h05), dia 09/09, na Ásia os mercados operaram em QUEDA. Nikkei recuando 0,57%, a 30.008 pontos; KOSPI, na Coréia do Sul, -1,53%, a 3.114 pontos; Shanghai, +0,49%, a 3.693 pontos, e Hang Seng, -2,43%, a 26.682 pontos.
Nesta madrugada do dia 09/09, na Europa (04h05), nos futuros os mercados operavam em queda. DAX (Alemanha) recuando 0,93%, a 15.464 pontos; FTSE 100 (Reino Unido), -1,08%, a 7.018 pontos; CAC 40 (França), -0,84%, a 6.613 pontos, e EuroStoxx50, -0,88%, a 4.140 pontos.
Nos EUA, as bolsas de NY no mercado futuro, operavam às 05h05, dia 09/09, da seguinte forma: Dow Jones recuando 0,35%, a 34.891 pontos, S&P 500, -0,32%, a 4.498 pontos, e Nasdaq -0,22%, a 15.585 pontos. No mercado de treasuries, US 2Y recuando 0,73%, a 0,2164, US 10Y -1,31%, a 1,322 e US 30Y, -0,48%, a 1,943. No DXY, o dólar recuava 0,03%, a 92,620. Petróleo WTI, a US$ 69,14 (-0,23%) e Petróleo Brent US$ 72,55 (-0,07%).
Na agenda do dia, destaque para o IPCA de agosto, devendo desacelerar a 0,7%, mas ainda em 12 meses elevado, em torno de 9,5%. Aguardemos também a reunião do BCE, com o comunicado e entrevista de Christine Lagarde e as projeções para a economia da Zona do Euro. O debate em torno da redução dos estímulos está na mesa.