Sim, mas (talvez) não da forma que você imagina.
O fim de 50 anos de juros baixos
Em todas as mesas de operação, nos fundos de investimento, nas casas de análise independentes (nas dependentes também), nas mesas de jantar das pessoas físicas, só se fala nisso.
O Federal Reserve (Fed, o banco central americano) está subindo os juros (mais do que o mercado espera).
Após mais de 50 anos de juros baixos (baixíssimos) no mundo, a festa acabou.
A economia americana está forte demais e a inflação por lá passa dos 8 por cento ao ano (a meta deles é 2 por cento).
A China não exporta mais desinflação (produtos baratos feitos por trabalhadores baratos) e a era de juros baixos globais chegou ao fim.
É o fim?
O inverno dos mercados globais?
Os analistas de renda fixa já imaginam a imagem abaixo.
Até sacaneei a Marilia ontem que ela é pessimista demais, mas faz sentido (eu aprendo muito de macro com ela).
Entender de macroeconomia é importantíssimo para não se meter em enrascadas.
Para quem olha para os juros americanos a 0,5 por cento ao ano e precisando subir forte (até 3 por cento ou mais), o caminho é árduo.
O pessoal do "fintwit" (comunidade financeira no Twitter) também está bem pessimista.
Olhem só a enorme diferença de opinião entre o Instagram (esquerda) e Twitter (direita).
Faz sentido. Enquanto o pessoal do Twitter se ataca, o pessoal do Insta posta fotos em Trancoso tomando caipirinhas coloridas…
O que você acha?
Pânico nas bolsas
Sexta passada, os mercados panicaram com Jerome Powell (presidente do FED) sinalizando a necessidade de altas nos juros maiores do que o mercado precificava.
O poderoso SPX já caiu -10 por cento este ano, enquanto nosso Ibovespa sobe +23 por cento em dólares.
Somos a melhor bolsa do mundo em 2022. Faz sentido?
Vamos despencar com juros subindo?
Quem está certo? O Twitter ou o Insta?
Senta que lá vem história
Olhar para o desempenho dos mercados só em 2022 é um pouco ardiloso… Vamos tentar fazer uma análise (super) rápida muito mais longa.
Os últimos 10 anos foram péssimos para a economia brasileira e ficamos para trás do mundo.
Com a economia interna parada, nossa bolsa, concentrada em commodities, foi puxada pelas matérias-primas.
Já o SPX americano, não. Foram anos de fartura para os americanos que compraram ações lá. Mas, como sempre, o mercado vai longe demais (como dizia Benjamin Graham, o mercado é maníaco-depressivo).
Com juros baixíssimos e economia pujante, o SPX negocia a múltiplos elevados (22x lucros e 15x Ebitda).
Com juros altos e economia fraca, o IBOV negocia a múltiplos baixos (7x lucros e 4x Ebitda).
(Quanto menores os múltiplos, "mais barato". A 10x preço/lucro, com um lucro de 10 reais, você paga 100 reais, a 5x, um lucro de 10 reais são apenas 50 reais).
EUA caro e Brasil barato?
Brasil sobe e gringos caem?
Não sei. Ninguém sabe. Nem Warren Buffett, o maior investidor de todos os tempos, sabe.
Mas podemos pensar em probabilidades.
Nos EUA, o juro precisa subir (forte) para lidar com a inflação e os mercados estão em múltiplos bastante elevados (apenas olhando historicamente).
No Brasil, nosso juro já é (novamente) um dos maiores do mundo e nossa bolsa está em múltiplos historicamente baixos.
Já estamos com juros da era Dilma.
Com juros altíssimos e economia fraca, nossa única locomotiva é…
Nǐ hǎo zhōngguó
Sem a ajuda dos americanos, estamos como os russos: dependentes da China.
A China consome mais da metade de muitas das commodities que o Brasil exporta, e o dragão chinês tem metas de crescimento econômico (5,5 por cento ao ano).
No entanto, o maior desafio para a China hoje é a nova onda de Covid-19. Grandes cidades como Xangai e Pequim estão em lockdown (não tenho saudades).
Resultado: demanda caindo e commodities sofrendo nas últimas semanas.
China ou EUA? EUA ou China?
A China precisa reacelerar seu crescimento.
Os EUA precisam segurar sua inflação.
E nós estamos pressionados entre os dois.
Além disso, ficamos para trás das commodities. Bem para trás.
Com os juros americanos subindo:
Os EUA terão uma queda (forte) na bolsa? Provavelmente.
A China puxará as commodities para cima? Provavelmente.
O que acontecerá com o Brasil?
Um Abraço!