Caro leitor,
Como já devem ter percebido em alguns dos meus textos, sou um apaixonado pelo futebol.
Ainda que isso me traga momentos desagradáveis quando meu Verdão não ajuda, é inegável que isso faz parte do esporte e traz ensinamentos para a vida de um cidadão.
Mas uma coisa que me deixa realmente “pistola” é quando o time demonstra uma ansiedade desnecessária em campo. Muitas vezes parece que o time está com a cabeça no segundo gol sem ter balançado ainda as redes do adversário. Isso não leva a lugar nenhum – só acaba gerando mais ansiedade.
E desde meados de junho os mercados internacionais, principalmente o americano, entraram nesse modo de maneira precipitada.
Após o CPI do mês de julho apontar estabilidade nos preços na leitura mensal e uma queda no indicador anual, muitos investidores passaram a apostar já em uma “virada de mão” de Powell e seus comandados. Tanto que a taxa de juros dos títulos de 10 anos saiu dos 3,5% para perto dos 2,5% rapidamente – o que fez com que os índices se valorizassem consideravelmente desde então.
Só que o mandatário do principal Banco Central do mundo aproveitou o Simpósio de Jackson Hole, ocorrido na semana passada nos Estados Unidos e que juntou autoridades monetárias do mundo inteiro, para reforçar o ponto que ele e outros dirigentes da instituição já haviam levantado desde a última reunião do FOMC (o COPOM americano): de que o Fed está muito longe de atingir o seu objetivo, que é a estabilidade da moeda, com a inflação ainda nos maiores níveis em mais de 40 anos.
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Desde então, os índices americanos já desvalorizaram mais de 5% nos últimos dias. O S&P 500, principal índice de ações do mundo, terminou ontem abaixo dos 4 mil pontos – barreira psicológica que pode gerar novas vendas por parte dos investidores.
E isso resultou em ajustes nas apostas para a curva de juros americana. Se um mês atrás um corte nos juros em junho de 2023 era dado como certo pelo mercado, agora já existe a probabilidade (ainda que baixa) de que o Fed Funds Rates permaneça acima dos 4,25%, após provavelmente encerrar 2022 no intervalo entre 3,5% a 4%.
Para reforçar essa visão, o presidente do Fed de Nova York John Williams afirmou ontem que os juros deverão permanecer em patamares elevados até que seja possível verificar um arrefecimento da inflação, com a taxa de juro real (que é a taxa básica menos a expectativa de inflação) no campo positivo para que a política monetária tenha, de fato, um caráter restritivo.
Além disso, é importante ter em mente que, apesar da inflação ter demonstrado uma leve retração na leitura anual, boa parte do recuo foi decorrente da queda nos preços de energia, principalmente combustíveis. As métricas menos voláteis de níveis de preços, como a mediana do CPI ou o “trimmed CPI” (que retira a variação dos 8% maiores e menores aumentos de preços no período) ainda apontam para cima, não demonstrando uma possível virada na inflação na Terra do Tio Sam.
Isso tudo com setembro se aproximando, que historicamente é o pior mês para as ações: desde 1928, o S&P tem uma queda média de 1% no período, resultado parecido ao observado no Dow Jones desde 1986. Já nos últimos dois anos, a retração foi superior a 4%.
Nesses momentos, um pouco de calma e tranquilidade não faz mal a nenhum portfólio. Melhores pontos de entrada podem surgir nos mercados internacionais nas próximas semanas.
Um abraço