A aprovação da PEC dos precatórios acabou servindo para amenizar um pouco o clima nos mercados, assustados com a trajetória da inflação tanto no Brasil, como no exterior. Assim sendo, a bolsa paulistana perdeu um pouco de fôlego ao final do pregão de quarta-feira (dia 10), com queda de commodities e desempenho negativo dos seus pares em Wall Street.
Ao fim do dia, o Ibovespa fechou a 105.967, alta de 0,41%, tendo superado 107 mil na máxima do dia. Já nos mercados cambial e de juro a inflação mais elevada e esta PEC nortearam o ritmo dos ativos, mesmo que perdendo intensidade ao final do dia. No mercado de juro futuro a “ponta curta” operou “esticada”, precificando “prêmios” traduzidos em Selic, podendo chegar a 2 pontos em dezembro, e as intermediárias e longas “cederam”. No câmbio, o dólar acabou recuando, diante da “arbitragem”, quando o dólar foi a R$ 5,43, mas ao fim do dia, compras adicionais elevaram a moeda americana a R$ 5,5001 (valorização de 0,1%).
Nos EUA, o CPI acima do previsto acabou assustando, aumentando as especulações de que o Fed possa vir a antecipar a alta de juros para conter esta escalada de preços. Todos os três índices de NY cederam com o Nasdaq perdendo 1,66%.
Inflação e juro
Tanto no Brasil, como nos EUA, e em outros países, a retomada da economia vem se mostrando acidentada, cheia de percalços, diante de uma inflação ascendente, as commodities em escalada e problemas no fornecimento de insumos nas várias cadeias produtivas. No Brasil, somando a tudo observamos um período de crise hídrica, lentamente superada agora na primavera, e uma crise politica intermitente, que se espalha pelo setor público e a necessidade de sustentação política. Nos últimos dias, a batalha da PEC dos precatórios nos colocou diante de questionamentos no teto dos gastos na necessidade de haver recursos a prolongar os auxílios emergenciais, assim como renovar o Bolsa Família, agora transformado em Auxilio Brasil.
Para piorar, pelos choques de oferta variados em curso, o IPCA vem se mostrando mais resiliente a ceder, o que vem pressionando o Bacen por uma ação ainda mais contundente na política de juros. Na reunião do Copom de dezembro já crescem as opiniões de um ajuste não mais em 1,5 ponto, agora em 2 pontos, a 9,75%. Na Focus, a taxa Selic prevista é de 11% em 2022. Ou seja, visando “ancorar as expectativas”, novos ajustes da Selic devem ocorrer no ano que vem, visando trazer a inflação para 3,5% a 4,0%.
No Brasil
Assustou o IPCA de outubro, a 1,25%, contra 1,16% em setembro. Boa parte da aceleração foi causada pelos combustíveis, sendo o maior resultado mensal para o período desde 2002, no ano acumulando alta de 8,24% e em 12 meses 10,67%.
Os preços administrados registraram 1,35%, os livres 1,21%, os alimentos domiciliados 1,32%, os Serviços (ex-pa) 0,62%, os preços industriais 1,39% e o núcleo 0,92% (9,7% em 12 meses).
No mercado, as instituições financeiras já começam a revisar suas projeções para cima. O Bank of America (NYSE:BAC) (SA:BOAC34), por exemplo, estima 10,1%, o Citi (NYSE:C) (SA:CTGP34) 10,4%. No Boletim Focus desta semana a projeção é de 9,33%. Há um mês, era de 8,59%. Para 2022, trabalham com 11,0%. Ou seja, a aceleração no aperto monetário nos parece mais do que necessária. Para a reunião do Copom de dezembro se trabalhava com 1,5 ponto de ajuste, agora não será surpresa se for a 2 pontos.
No gráfico a seguir, podemos observar a diferença da inflação acumulada em 12 meses e os limites do sistema de metas de inflação do Bacen. Observamos que quanto maior o desvio em relação ao zero, maior o erro. As linhas pontilhadas mostram as bandas, superior e inferior. Se o erro está dentro da banda, o Bacen tem permissão pelo erro, desde que dentro das bandas. Se ficar fora, Roberto Campos Neto precisa justificar o erro junto ao governo.
Nos EUA
O CPI de outubro registrou 0,9%, contra 0,4% em setembro e estimativa de 0,6%. Em 12 meses foi a 6,2%, contra estimativa de 5,9%. O núcleo registrou 0,6%, dentro do esperado, em 12 meses a 4,6%, acima da estimativa (4,3%). Energia foi a 4,8%, contra 1,3% em setembro e alimentos 0,9%, mesma de setembro.
Neste ritmo, os debates seguem intensos sobre a conveniência ou não de antecipar o ciclo de juro por lá. Na última reunião, Jerome Powell definiu o início do tapering até junho/julho de 2022, mas não comentou sobre taxa de juros.
Moro em Brasília
Sergio Moro parece ter lançado sua pré-candidatura a presidente no Podemos. Foi um discurso de filiação como candidato. Não resta dúvida de que reúne todos os predicados, é honesto, líder, focado, sério e comprometido. Na operação Lava Jato foi até as últimas consequências, na apuração dos fatos e na prisão dos criminosos de colarinho branco. Pode preencher este vácuo de várias candidaturas anódinas à terceira via. Este sim é um candidato a ser temido.
PEC dos precatórios
Continua repercutindo a aprovação em segundo turno da PEC dos precatórios no Congresso. Agora no Senado, a relatoria fica com o líder do governo na casa, Fernando Bezerra, que prevê sua aprovação até o final de novembro. Afirma, no entanto, que não tem como apressar, tendo-se que respeitar o “tempo político”. Disse que deve concentrar a avaliação na comissão (CCJ). O problema é que destes R$ 90 bilhões em folga fiscal para 2022, R$ 50 bilhões serão usados no Auxílio Brasil, mas e depois? Como sustentar este programa, em gastos elevados, nos próximos anos?
Na China
A China Evergrande Group (HK:3333) (OTC:EGRNY) pagou juros vencidos, através da Clearstream, provedor de serviços pós-negociação. É uma instituição que fornece liquidação e custódia, bem como outros serviços relacionados a títulos. Adia-se mais uma vez o risco de default que, no entanto, continua a rondar.
Mercados
No Brasil, o Ibovespa encerrou esta quarta-feira em alta de 0,41%, a 105.967 pontos, beneficiado pelos bons resultados corporativos e a aprovação da PEC dos precatórios. Já o dólar fechou em alta de 0,1%, R$ 5,5001.
Na madrugada do dia 11/11, na Europa (04h05), os mercados futuros operavam cautelosos: DAX (Alemanha) avançando 0,11%, a 16.084 pontos; FTSE 100 (Reino Unido), +0,13%, a 7.349 pontos; CAC 40 +0,09%, a 7.051 pontos, e Euro Stoxx 50 +0,11%, a 4.344 pontos. Cautela pelo risco de contaminação da Covid na Europa Oriental.
Na madrugada do dia 11/11, na Ásia (05h05), os mercados operaram mistosS&P/ASX (Austrália), -0,57%, a 7.381 pontos; Nikkei (Japão) +0,59%, a 29.277 pontos; KOSPI (Coréia), -0,18%, a 2.924 pontos; Shanghai Composite +1,15%, a 3.532, e Hang Seng, +0,98%, a 25.242 pontos.
No futuro nos EUA, as bolsas de NY, no mercado futuro, operavam em alta neste dia 11/11 (05h05): Dow Jones, +0,03%, 36.003 pontos; S&P 500, +0,15%, a 4.649 pontos, e Nasdaq +0,26%, a 16.027 pontos. No VIX S&P500, 19,23 pontos, -1,52%. No mercado de Treasuries, US 2Y avançando forte 3,16%, a 0,5189, US 10Y 0,76%, a 1,570 e US 30Y, +0,34%, a 1,924. No DXY, o dólar +0,20%, a 95,028, e risco país, CDS 5 anos a 232,4 pontos. Petróleo WTI, a US$ 81,30 (-0,04%) e Petróleo Brent US$ 82,57 (-0,08%). Gás Natural avançando 1,8%, a US$ 4,97 e Minério de Ferro, +6,84%, a US$ 570,50.
Na agenda desta quarta-feira, destaque para as vendas do varejo pela PMC do IBGE no Brasil. No Reino Unido uma agenda cheia com PIB do terceiro trimestre, produção industrial e balança comercial. Na Zona do Euro, projeções do BCE; no Japão, produção industrial, e na China, taxa de desemprego.