Como apresentei na véspera, segunda-feira foi dia de leve realização na taxa de câmbio em cima da forte alta da última sexta-feira, quando o dólar tinha fechado em R$ 5,3527. A mínima de ontem foi de R$ 5,3107, mas ficou o dia todo na faixa de R$ 5,325.
O dólar deveria estar mais baixo se considerarmos que o Brasil está batendo recorde de exportação devido à alta da demanda mundial por produtos originados do agronegócio, as chamadas commodities, o que inclusive elevou a expectativa do PIB brasileiro, mas nesta segunda feira a China enviou um sinal de alerta que pode abalar o boom global destes produtos.
Devido ao cenário incerto por aqui, esta baixa do dólar não está ocorrendo e não está entrando tantos dólares como poderia no país. O risco-país está ainda bem alto. Qualquer instabilidade na política, a moeda norte-americana pode subir novamente, e vamos combinar que isso é o que não falta em tempos de CPI de Covid, vacinação lenta, somando-se a semana “decisiva” (se é que vão decidir) para o futuro das reformas administrativas e tributárias no congresso.
Para hoje o único dado externo mais importante no calendário é a confiança do consumidor americano que sai as 11horas e, com a economia lá se recuperando, deve vir bom.
Num momento em que as pressões inflacionárias de curto prazo se mostram fortes em todo o mundo e as atividade econômica nos países avançados dão sinais de recuperação, observamos uma vontade imensa do povo brasileiro em tentar sobreviver à crise e lutar como pode, mas a nova cepa indiana pode trazer mais restrições. Apesar do cenário econômico melhor (recuperação forte da indústria, principalmente construção civil e alimentos), ainda há muita incerteza quanto ao câmbio, que deve se manter volátil entre notícias externas e internas.
Aqui tivemos aumento nas expectativas de inflação no Boletim Focus ontem, com possíveis impactos nos ajustes da SELIC.
O comportamento dos juros globais de longo prazo tem sido um fator chave para a análise do câmbio no Brasil. Precisamos ter em mente que estímulos excessivos por períodos prolongados geram inflação e diante dos altos níveis de endividamento de países e de empresas em mercados emergentes após pandemia (a dívida bruta é a pior dentre os emergentes no pós-crise) só se pode concluir que tudo isso associado à redução da capacidade fiscal representa risco de curto prazo para a estabilidade financeira no país.
Alguns mercados emergentes financeiramente vulneráveis como o Brasil e que demorarem em sair da pandemia podem ter problemas caso o juro americano de dez anos supere o nível de 2% de forma acelerada. Não esqueça que 2022 é ano de eleições e taxas de juros mais altas, ou seja, crédito mais caro, portanto precisamos mesmo de muita vontade por parte do empresariado em conservar os empregos e manter seus negócios abertos e do governo em acelerar as reformas e a vacinação.