Todos nós sabemos que o ano de 2020 entrará para história. Quem poderia prever que uma pandemia colocaria o mundo inteiro dentro de suas casas, sem que houvessem diferenças significativas entre as economias avançadas ou em desenvolvimento? Todos sofreram as consequências da covid-19 e experimentaram dias difíceis que desejamos não ter que vivenciar novamente. Nos mercados globais, o que se viu foi um aumento generalizado nas tensões e aversão ao risco. Na Bolsa brasileira, chegamos a presenciar “circuit-breakers” por seis vezes no mês de março, sendo que no dia 23 do mesmo mês , o Ibovespa registrou a mínima do ano aos 63 mil pontos, uma queda de 39% em relação ao fechamento de fevereiro, pouco antes da OMS anunciar a pandemia em escala global.
Embora muitos investidores ainda estivessem preocupados com um possível colapso da economia, o que vimos da mínima do Ibovespa em diante foi um movimento de valorização que culminou em uma alta de 57% até bater 100 mil pontos novamente, em meados de julho, mas com uma grande diferença em relação às outras vezes em que a Bolsa brasileira sofrera grandes correções, como em 2008. Dessa vez, o protagonista foi o investidor pessoa física. Em setembro desse ano, o total de CPFs na bolsa ultrapassou a marca histórica de 3 milhões, impulsionados pela baixa taxa de juros e níveis atrativos dos ativos em Bolsa. Diferentemente de crises anteriores, o Banco Central pôde reagir como as economias avançadas, reduzindo a Selic até a mínima histórica de 2,0% a.a., considerando o ambiente de ociosidade da economia e de inflação baixa.
A bolsa brasileira seguiu seu rumo entre altas e baixas, com a melhora dos números da covid-19 e, depois, com notícias complicadas vindo de Brasília, especialmente em relação ao cumprimento do teto de gastos e de uma possível segunda onda do coronavírus. Entretanto, na reta final deste ano, passamos pelas eleições americanas, observamos testes animadores da tão esperada vacina e começamos a sentir o início da volta à normalidade, embora saibamos que as coisas tendam a não ser como antes. Observamos também uma melhora significativa do sentimento dos investidores e, consequentemente, a volta do fluxo de capital estrangeiro na B3 (SA:B3SA3).
O que esperar de 2021?
Para o ano de 2021, temos um target de 128 mil pontos para o Ibovespa. Na nossa visão, os choques vividos até aqui possuem características temporárias e que, portanto, vão nos conduzir de volta a uma trajetória de recuperação gradual da economia, colocada em stand-by durante a crise. Além disso, consideramos que ainda teremos uma liquidez relevante no exterior e um cenário de juros e inflação baixos no Brasil. Aqui vale uma menção aos IPOs, que devem permanecer aquecidos em 2021, pois as variáveis que os fomentaram (liquidez alta e juros baixos) possivelmente ainda estarão presentes.
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Olhando para a maioria das empresas listadas em bolsa, ficamos muito satisfeitos com o desempenho de seus resultados, especialmente os referentes ao 3º trimestre, em que verificamos forte resiliência e capacidade de reação dessas empresas. Muito importante frisar que as empresas listadas na B3 não representam a maioria das empresas do país que, no geral, possuem tamanho menor, acesso a capital mais limitado e, portanto, desvantagens competitivas e/ou dificuldades maiores de superar a crise. Com isso, provavelmente veremos as empresas listadas, principalmente as voltadas para os setores domésticos, se saindo mais fortalecidas e com uma maior parcela de mercado em comparação com o período pré-pandemia. Para o setor de bancos, a nossa visão é de que teremos uma piora nos índices de inadimplência, mas acreditamos que os níveis de provisionamento realizados durante a pandemia mais do que compensam essa possível piora, abrindo espaço para uma melhora de lucros.
Para commodities, considerando um dólar médio de R$ 5,15, a nossa expectativa segue otimista. A China deverá ser, mais uma vez, a grande protagonista para a celulose, uma vez que acreditamos que o ciclo de baixa tenha ficado para trás. Já a sua demanda de grãos, devido à recomposição do plantel de suínos que deve durar até o fim de 2021, seguirá aquecida. Para o setor de aço, ainda observamos espaço para aumento de preço e volume no mercado doméstico, considerando o atual nível de ociosidade da atividade econômica. Acreditamos que a dinâmica de mercado deverá ser diferente, com a surpreendente demanda interna na China, que tem consumido boa parte de sua produção de aço e, consequentemente, reduzido sua presença no mercado brasileiro, o que abre mais espaço para as siderúrgicas locais. No petróleo, acreditamos que o preço tem uma tendência de alta limitada devido à volta ao normal e um mundo póspandêmico, com aumento da demanda de seus derivados. Entretanto, em um ambiente de oferta represada, esse possível aumento de preços servirá de catalisador para a retomada da produção, especialmente entre os países membros da OPEP+, e tal dinâmica pode corroborar para o estabelecimento de um teto para o preço da commodity.
Para o próximo ano, as nossas principais convicções estão em bancos: Itaú Unibanco (SA:ITUB4), Bradesco (SA:BBDC4) e Banco do Brasil (SA:BBAS3)), por conta dos valuations atrativos e melhora na expectativa de lucros, e em B3, que ainda deve se beneficiar com um volume elevado de negociações e IPOs. Em commodities, temos Suzano (SA:SUZB3) e Vale (SA:VALE3) pautadas na forte demanda chinesa. Para Petrobras (SA:PETR4), no entanto, nosso otimismo fica mais em torno das iniciativas de melhora de alocação de capital e da redução do endividamento, do que do preço spot do Brent. Entrando no tema “volta do fluxo de mercadorias e pessoas”, destacamos Lojas Renner (SA:LREN3), Arezzo (SA:ARZZ3), Yduqs (SA:YDUQ3) e BR Distribuidora (SA:BRDT3) que, além de seus fundamentos específicos, devem observar melhora significativa no volume de suas operações durante o próximo ano.
Além dessas indicações, agora mais baseadas em fundamentos específicos, adicionamos recentemente Equatorial (SA:EQTL3), que possui uma gestão exemplar e está com um valuation muito atrativo. Seguimos otimistas também com Pão de Açúcar (SA:PCAR3), Raia Drogasil (SA:RADL3) e Telefônica Brasil (SA:VIVT3).