Publicado originalmente em inglês em 07/10/2020
À medida que as horas de quarta-feira passam, os investidores do ouro avaliarão o que fez o mercado chegar até aqui e aonde irá em seguida.
Há apenas 24 horas, tudo parecia muito bom tanto nas negociações em lingotes quanto nos contratos futuros, com os preços nas máximas de duas semanas, acima de US$ 1.910. As esperanças de um novo estímulo econômico para combater a covid-19 pareciam mais factíveis do que nunca após quatro meses de queixas tanto por parte dos negociadores da Casa Branca quanto de seus rivais democratas.
De repente, como em uma grande avalanche, essas esperanças se esvaíram em questão de minutos.
As ações despencaram, com o Dow, S&P 500, Nasdaq e o ouro caindo em uníssono, enquanto o dólar novamente pegou a faixa da esquerda para se tornar o porto seguro preferencial dos investidores.
Quando a poeira baixou, o ouro estava de volta abaixo de US$ 1.900, e os investidores só tinham uma pessoa a quem culpar, a mesma que fez o mercado subir nos últimos dias: o presidente Donald Trump.
Seu tuíte às 2h48 de terça-feira, horário local, matou a “galinha dos ovos de ouro” do estímulo adicional, que vinha alimentando os investidores de risco de todos os tipos desde a última semana.
“Instruí meus representantes a interromper as negociações até o fim da eleição”.
O mandatário citou como fator impeditivo a suposta exigência da presidente da Câmara, Nancy Pelosi, de um estímulo de US$ 2,4 trilhões, em vez da sua proposta de US$ 1,6 trilhão. Outros culparam o tuíte sobre os fortes medicamentos administrados ao presidente no fim de semana para tratar sua infecção por coronavírus.
Pelosi retrucou:
“Estávamos QUASE chegando a um acordo.”
No domingo, o comandante-em-chefe da América tuitou de seu leito de hospital:
“NOSSO GRANDE EUA QUER E PRECISA DE ESTÍMULO. VAMOS TRABALHAR JUNTOS PARA APROVÁ-LO”. Obrigado!”
Isso faz com que sua posição sobre o estímulo desse meia-volta.
Trump voltou a tuitar
O que também ficou evidente foi o apetite de Trump para voltar a tuitar, independente do seu estado de saúde. Funcionários da Casa Branca disseram que ele ainda "não estava livre de perigo". Sua inclinação por elaborar políticas com arroubos de 280 caracteres não faz mais do que enturvar a mensagem aos investidores que tentam compreender se a iniciativa de estímulo realmente acabou ou se pode ser retomada de alguma forma – o que se tornou padrão em praticamente todas as batalhas entre a Casa Branca e os democratas.
Às 9h54 de terça-feira, horário local, o presidente disparou outra missiva no Twitter dizendo:
“A Câmara e o Senado precisam aprovar IMEDIATAMENTE os 25 bilhões de dólares para a folha de pagamento das companhias aéreas e os 135 bilhões de dólares para o programa de proteção de pequenas empresas. Esses dois programas serão integralmente pagos com fundos inutilizados da lei Cares. Garantam esse dinheiro. Vou assinar agora!”
Isso fez com que os índices futuros negociados antes da abertura de quarta-feira em Nova York subissem novamente, na esperança de que um acordo para o estímulo pudesse ser fechado.
O ouro também se recuperou em relação à mínima de quarta-feira a US$ 1.877, sendo negociado ao redor de US$ 1.900 às 6h35, horário local.
Ninguém sabe o que Trump irá tuitar sobre o estímulo nesta quarta-feira.
Milhares de americanos, principalmente quem trabalha no setor de aviação, correm o risco de perder seus empregos sem um auxílio maior do governo. Trump, que tenta a reeleição em novembro, acusou Pelosi de brincar com a questão. A presidente da Câmara defende que qualquer acordo deve beneficiar todos os americanos, e não apenas grupos e causas escolhidas por Trump ou suas ambições políticas.
O que é certo por enquanto é que o ouro está preso entre o obstáculo do estímulo contra a covid-19 e a ata da reunião de política monetária do Federal Reserve, que deve sair hoje.
Todas as últimas três atas do Fed foram desastrosas para o ouro e impulsionaram o rali no dólar. Os documentos mostraram que o banco central continua firme na compra demais ativos, o que os investidores encararam como uma alternativa a um estímulo.
O Índice Dólar, que compara a moeda americana a uma cesta de seis divisas concorrentes, ficou a 93,77 no início de quarta-feira. Ele pode voltar ao forte patamar de 94, onde se firmou o início da semana passada.
Dependendo do que acontecer com o estímulo, o ouro atingir US$ 1860 ou superar US$ 1930
Para onde o ouro pode ir se o estímulo realmente for abandonado?
O metal estava enfrentando forte resistência a US$ 1.883, escreveu o grafista Dhwani Mehta em uma postagem no site FX Street. O analista escreveu:
“Uma falha em manter o suporte crítico a US$ 1875, ponto de encontro da mínima do dia anterior, poderia acionar uma forte queda em direção ao próximo alvo relevante de US$ 1860”.
O analista citou ainda a retração de 61,8% de Fibonacci no período semanal e o alvo inferior de 15 minutos da Banda de Bollinger.
No lado da alta, o ouro pode testar US$ 1.901 se as manchetes indicarem a possibilidade de um acordo fiscal ainda que parcial.
Uma convicção maior da Casa Branca pode romper os canais de resistência, afirmou Paul Robinson, estrategista do ouro que escreve para o site Daily FX.
Robinson disse ainda:
“Um rompimento da região de 1930 colocará em foco 1973 (máxima de 16/9), 1992 (máxima de 1/9) e 2015 (máxima de 18/8). Para que isso aconteça precisaremos ver a superação de resistências”.
“Se houver uma rejeição na resistência, será preciso ficar de olho no canal do gráfico de 4 h. O acionamento da paralela inferior pode servir de confirmação de que o ouro está prestes a ver mais uma pernada de baixa em direção à mínima em 1848.”
O que será que Trump ou o Fed têm a dizer hoje?
Aviso de isenção: Barani Krishnan não possui posições nos ativos sobre os quais escreve.