Na semana passada, o famoso “medo de perder o bonde”, ou “FOMO (Fear of Missing Out)” em inglês, tornou-se a narrativa predominante.
Como os dados parecem validar ainda mais a perspectiva de “pouso suave” na economia e, considerando que a decisão dos bancos centrais “depende de dados”, o sentimento de FOMO voltou com tudo, como em 2019.
Em 2019, o Federal Reserve resolveu mudar drasticamente sua postura, e a economia conseguiu fazer o tão propalado "pouso suave". O ciclo de alta de juros de 2018, que Powell abruptamente reverteu no ano seguinte, desacelerou a economia, mas em ritmo suficiente para permitir uma aterrissagem tranquila.
Os resultados do S&P 500 cresceram apenas 0,6%, a inflação básica ficou estável em torno de 2% e os EUA criaram 160 mil novos empregos por mês: crescimento nominal baixo, mas não uma recessão, ou seja, foi um “pouso suave”.
Mas 2023 não é 2019, por muitas razões macro que vamos abordar rapidamente.
Primeiro, vamos analisar melhor o atual regime de mercado.
O gráfico acima mostra o indicador Market Regime Scrutinizer, que mede as chances implícitas de mercado atribuídas a uma recessão nos EUA, a um pouso suave ou a um regime de forte crescimento adiante.
Ele é derivado do escrutínio dos mercados de opções em renda fixa, ações e câmbio, combinando as probabilidades implícitas de mercado nesse indicador da TMC.
Os mercados estão atualmente precificando um “pouso suave” nos EUA como o regime probabilístico predominante (~65%) e, nas últimas semanas, a cauda recessiva à esquerda foi agressivamente precificada (agora ~15%), enquanto a chance de um regime de forte crescimento adiante subiu para cerca de 20%.
Mesmo após os dados aparentemente fortes do mercado de trabalho e dos serviços ISM, o mercado de títulos continua sinalizando que a desinflação e o pouso suave são o principal regime adiante.
- A precificação da inflação indica queda para 2.5% até o fim do ano, ficando próxima de 2% no longo prazo;
- Estão sendo precificados cortes do Fed, à medida que a inflação desacelera, mas sem uma recessão, permitindo que o banco central leve as taxas para níveis neutros (2,50-2,75%) sem recorrer a cortes recessivos ou ser forçado a manter as taxas elevadas por mais tempo.
Os mercados de títulos atribuem apenas uma probabilidade de ~15% a cortes recessivos e uma chance de ~30% para juros maiores por mais tempo, em meio a um forte crescimento e uma inflação aderente.
Com isso, o mercado implícito de opções aponta para uma probabilidade de ~55% de uma suave desinflação.
Quando o cenário de desinflação e “pouso suave” se torna o regime predominante do mercado, os operadores costumam vender seguro e serem pagos, com o Fed seguindo uma trajetória bastante previsível.
E, como o banco central americano deve seguir esse caminho mais previsível, a volatilidade dos títulos está sendo amassada.
A menor volatilidade dos títulos está fazendo com que o sentimento de risco melhore bastante nos mercados acionários.
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Este artigo foi publicado originalmente em Macro Compass.