Responsável por formular a política monetária do Federal Reserve (Fed, Banco Central dos EUA), o Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC, na sigla em inglês) terá mudanças significativas em sua reunião desta semana, já que quatro novos chefes regionais se tornarão membros votantes, em razão da regra de rotatividade.
Também está prevista a chegada de dois novos membros ao conselho de governadores, sediado em Washington, após o presidente Donald Trump finalmente ter anunciado formalmente seus indicados (embora ainda não tenha submetido as nomeações ao Senado). Trump chegou a sugerir seus nomes em julho, mas, ao que parece, não havia pressa para analisá-los, nomeá-los e confirmá-los.
Nada disso, entretanto, deve ter muita relevância no curto prazo, pois é pouco provável que o Fed faça qualquer alteração em sua política monetária, a não em caso de emergência.
Novos membros votantes, mas poucas razões para divergência
Já foi a época em que os membros votantes do FOMC abriam divergência porque discordavam da elevação ou da redução da taxa de juros. A não ser que algum deles se sinta preocupado com o aumento do desemprego ou da inflação, haverá poucas razões para que não haja consenso nos próximos meses.
O FOMC deve apresentar clara maioria ao pessoal de Washington, com sete membros no conselho de governadores quando este estiver completo. E esses membros do conselho seguem obedientemente a liderança da presidência, com raras exceções.
Isso pode mudar se uma das indicadas por Trump, Judy Shelton, for aprovada pelo Senado e assumir uma cadeira no conselho. Shelton é mais famosa por ser favorável a um retorno a algo semelhante ao padrão-ouro, embora tenha recuado em relação a essa posição para acolher os anseios de Trump por uma política de afrouxamento monetário. Ela também já fez observações heréticas ao afirmar que o banco central não deveria ser independente da política.
Shelton conseguiu a confirmação do Senado em uma votação simbólica em 2018 para atuar como diretora executiva pelos EUA no Banco Europeu de Reconstrução e Desenvolvimento, em Londres. Teoricamente, ela não teria qualquer problema em ser confirmada para o cargo no Fed, embora este tenha um nível muito mais elevado.
O outro indicado, Chris Waller, é uma aposta segura. Ele passou uma década como economista-chefe do Fed de St. Louis. Ex-acadêmico, ele não deve causar transtornos.
O conselho contou com apenas cinco membros por algum tempo, mas o chefe do Fed de Nova York, John Williams, tem posição permanente como membro votante, em razão da sua função na implementação da política monetária. Via de regra, ele também vota com o presidente. Os três membros que divergiram do consenso do FOMC em setembro estabeleceram parâmetros mais altos para a dissensão; porém, mesmo assim, houve sete votos a favor. Os três que divergiram – James Bullard, de St. Louis; Eric Rosengren, de Boston; e Esther George, da Cidade do Kansas – não votarão mais neste ano por causa da regra de rotatividade entre os membros.
Os novos votantes em 2020 serão Loretta Mester, de Cleveland, que defende uma política monetária mais rígida, e Neel Kashkari, de Minneapolis, que prefere uma política mais frouxa. Mas nenhum deles terá muitos motivos para divergir. Os outros dois membros votantes – Patrick Harker, da Filadélfia, e Robert Kaplan, de Dallas – não estão no cargo há muito tempo e ainda precisam abrir divergência (embora Harker tenha dito que teria discordado do corte de juros de outubro se fosse membro votante em 2019).
Há 12 presidentes de bancos regionais, mas, como Nova York tem voto permanente, a votação é alternada entre os outros 11 presidentes a cada dois ou três anos (Cleveland e Chicago alternam posição a cada dois anos, enquanto a rotatividade dos outros nove membros se dá a cada três anos).
Os presidentes regionais, escolhidos por seus respectivos conselhos, tendem a permanecer no cargo por muito tempo. Eles têm salários mais altos do que os membros do conselho e contam com uma grande equipe de supervisores e economistas, por isso não se furtam de ter uma opinião diferente da do conselho.
O Fed está em meio a uma revisão estratégica, examinando novas e velhas ferramentas de política. As últimas atas mostraram que os formuladores da política monetária discutiram um possível teto para os rendimentos dos títulos do Tesouro, expediente usado pela última vez na década de 1940 e que não difere muito da flexibilização quantitativa. Essas discussões recentes também indicam que eles não são a favor da adoção de juros negativos, como na Europa e em outros países.
Essas deliberações dificilmente movimentam os mercados e perdurarão por boa parte do ano. Em qualquer caso, os mercados certamente prestarão menos atenção ao Fed, depois que Jerome Powell, presidente da instituição, mais ou menos declarou que o banco central permanecerá no piloto automático e só mudará a política monetária quando as condições econômicas mudarem.