Depois de sinalizações neutras do Federal Reserve (Fed) e um PIB norte-americano, no segundo trimestre, mais fraco do que o esperado (6,5% na taxa anualizada), já começamos a fazer as contas para quanto pode ir o dólar nos próximos dias. Isso porque a liquidez global deve se manter elevada, e o diferencial de juro entre os treasuries americanos e a taxa básica de juros brasileira uma atratividade ao ingresso de recursos, derrubando ainda mais a moeda norte-americana.
Ontem, recuou 0,7%, negociada em torno de R$ 5,08, mas muitos achando haver espaço, ao longo de agosto, para cair abaixo de R$ 5,00. Não será surpresa se romper o "piso psicológico" de R$ 4,90. A contribuir para isso, a postura totalmente dovish do Fed, sinalizando que irá manter a mesma estratégia de “afrouxamento monetário”, enquanto não enxergar, concretamente, dados que desmintam isso no mercado de trabalho, na inflação e no crescimento. Este, por exemplo, veio mais fraco do que o esperado, na taxa anualizada a 6,5%, quando o mercado esperava acima de 7%. Aguardemos hoje o índice de preço e de gastos e renda dos americanos (PCE), importante parâmetro para o Fed, para reunirmos novas informações e talvez sinalizar o que será decidido, muito provavelmente, ao fim de agosto ou início de setembro, depois de Jackson Hole.
No Brasil, no entanto, o cenário político segue tóxico. Ontem, mais uma vez, na sua live de quinta-feira, o presidente Jair Bolsonaro voltou a “disparar petardos” contra a boa governança, falando de ameaça de fraude no sistema eleitoral brasileiro, pregando a adesão ao voto impresso, como sempre, sem apresentar provas de que o sistema eletrônico seja passível de ser "fraudado". Voltou a atacar o STF, acusando a alta corte de disseminar fakenews, e que não garantia a eleição de 2022, não havendo "voto impresso". Em resposta, o STF e o TSE já trataram de dizer que não era verdade o que o Bolsonaro dizia e que a alta corte não havia tirado a autonomia na gestão da pandemia.
A verdade é que Bolsonaro tenta agora encontrar justificativas para o desastre que se transformará sua candidatura à eleição em 2022, com muitas pesquisas já indicando que nem chegsará ao segundo turno. Suas várias declarações desastradas, seus rompantes totalmente incompatíveis com o rito de presidente da República, sua postura "negacionista" na pandemia, lhe cobram alto preço, com perda de apoio popular. Não há como negar.
Na live Bolsonaro chegou ao paradoxismo de defender ainda o tratamento preventivo e a ivermectina, depois de concluídos, em vários países, a sua ineficácia. Apenas a vacinação em massa tem alguma “chance” de “imunidade” da população, tese esta refutada pelo presidente.
Para tornar tudo ainda mais desastroso (ou desastrado), Bolsonaro segue recompondo seu ministério com a “elite do Centrão”, já tendo tomado controle do “coração” deste governo, a Casa Civil, e agora pressionando por desmembrar mais ainda o ministério da Economia, com a criação do Planejamento. Claro nos parece que o interesse aqui é tomar de assalto o Orçamento da União, a "chave do cofre", todos sabemos com que objetivo. Paulo Guedes, no entanto, segue resistindo.
No front da economia, a amenizar um pouco este “banzo político”, os dados do Caged vieram ainda mais fortes, com a criação de 309 mil vagas formais em junho, 41,1% maior do que em maio, com os setores de comércio e serviço como os mais ativos a gerar emprego.
Acreditamos nesta tendência de reaquecimento do mercado de trabalho, mas terá que ser confirmada nesta sexta-feira com a PNAD Contínua do IBGE. O desemprego no Brasil têm batido recordes em 2021. Na última apuração se manteve em 14,9% da PEA, equivalendo a pouco mais de 14 milhões de desempregados. O mercado internacional também aguarda para amanhã a divulgação da taxa de desemprego na Europa, confirmando a tendência de queda registrada em maio, na retomada do pós-pandemia.
Para Paulo Guedes, a atual legislação trabalhista e os encargos "elevam o custo de geração de emprego" no país. Segundo ele, "temos um sistema de legislação trabalhista obsoleto e de destruição de empregos. Custa muito criar emprego no Brasil". Sem dúvida. Pesquisas indicam que para cada pessoa contratada por $ 100, mais $ 110 acabam sendo pagos como direitos e encargos diversos, custando portanto $ 210 a este empregador. Sim, novas mudanças na legislação trabalhista se fazem urgentes, e estas terão que vir como PEC, em reforma à anacrônica Constituição de 1988.
No mercado, ontem o IBovespa voltou a se descolar das bolsas americanas, fechando em baixa (-0,48%, a 125.675 pontos), puxado pelas ações da Vale (SA:VALE3), depois da queda do minério de ferro e do lucro abaixo do projetado pelo mercado. A preocupação com a alta dos juros na reunião do Copom, semana que vem, também reduziu o apetite por ações e favoreceu a valorização do real, levando o dólar futuro a se aproximar de R$5,00.
No exterior, o dólar também caiu, após os dados do PIB americano mostrarem crescimento menor que o esperado no segundo trimestre. Apesar disso, os índices Dow Jones Industrial e S&P500 voltaram a bater recordes intradiários e fecharam em alta, com a visão de que a economia fraca reforçará a manutenção dos estímulos pelo Fed, mesmo com a alta da inflação, como deve indicar o Deflator do Consumo Pessoal, o PCE, a ser divulgado nesta sexta.
Nos EUA, Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq 100 subiram 0,44%, 0,42% e 0,20%, respectivamente. O petróleo também subiu, após queda de estoques nos EUA e com apetite por risco. Brent para outubro avanço 1,67%, e o WTI para setembro, 1,70%.
Nesta sexta-feira, como dito acima, todos atentos ao PCE norte-americano de junho. No Brasil, o IGP-M mais fraco talvez tenha amenizado a contagem regressiva para o Copom da semana que vem, mais próximo de um ajuste de 1 ponto pecentual, a 5,25%. Os mercados asiáticos fecharam este dia em forte queda em Tóquio (-1,8%), refletindo as emeaças da nova cepa Delta em momento de Olimpíadas 2020. Shangai recuou 0,42% e Hang Seng 1,28%. O receio com esta nova cepa contamina os mercados globais.
Vamos conversando!
Bons negócios!