Nesta semana, vamos analisar o mercado brasileiro de ETFs – Exchange-Traded Funds. Como o termo em inglês indica, ETFs são fundos negociados na B3 (SA:B3SA3) que procuram seguir um índice de referência. Em geral, representam estratégias passivas e claras, acompanhadas de taxas de administração extremamente baixas (PIBB11, por exemplo, cobra apenas 0,059% ao ano). Além disso, ETFs abrem caminho para pequenos investidores terem carteiras diversificadas com uma única e simples operação (e, novamente, a baixíssimo custo se comparado, por exemplo, com fundos de ações ou mesmo de renda fixa).
Ao todo são 23 ETFs na B3, dos quais 17 são de renda variável e 6 de renda fixa. O mercado é altamente concentrado, com 12 ETFs do Itaú (SA:ITUB4), 5 da gigante Blackrock e 3 do Bradesco (SA:BBDC4). Banco do Brasil (SA:BBAS3), Caixa e a “bem-vinda intrusa” Mirae Asset completam a lista. O Ibovespa é o índice mais seguido, por 4 ETFs: sua popularidade parece ter se sobressaído à sua performance ineficiente (o Ibovespa é um índice pouco diversificado e altamente concentrado, mas isso é papo para outra coluna). Veja a lista completa abaixo com diversas informações que coletei para facilitar. Chama a atenção o intervalo em que as taxas de administração se encontram: de 0,059% a 0,60% ao ano.
Segundo dados mais recentes disponibilizados pela B3, o volume médio diário de ETFs negociados já atinge R$ 2 bilhões, com aproximadamente 200 mil investidores. O ETF mais líquido, bastante a frente dos outros, é o BOVA11, da Blackrock. Ele segue o Ibovespa e cobra apenas 0,3% ao ano de taxa de administração. Cabe lembrar que o BOVB11 (Bradesco) segue o mesmo índice, com taxa menor (0,2%), mas ainda com bem menos liquidez no mercado (até porque foi lançado em 2019). A tabela abaixo mostra retornos e volatilidades de todos os 23 ETFs em 2020, calculados com base no fechamento do mercado do último dia 26. Perceba que, de forma natural, os ETFs de renda fixa apresentam volatilidades em patamares nitidamente abaixo dos ETFs de renda variável.
Os cinco ETFs que mais se desvalorizaram em 2020 são: SMAC11 (-34,6%), FIND11 (-33,1%), SMAL11(-32.6%), ECOO11 (-32.4%) e BBSD11 (-26,5%). Note que dois deles seguem o índice small cap da B3 (SMLL), o que mostra que empresas menores foram mais afetadas pela crise: via de regra, grandes empresas demonstram maior robustez e maior capacidade de geração de caixa neste momento de isolamento social.
Além disso, SMAC11 e SMALL11 foram os mais voláteis (4,2% e 4,5% ao dia) dentre todos os ETFs. Com segunda pior rentabilidade, o FIND11 segue o índice financeiro (IFNC), que representa os setores de intermediários financeiros, serviços financeiros, previdência e seguros: este setor tem boa parte de suas receitas originadas de vendas face-to-face e com maior dificuldade relativa para transferir vendas para o online.
A seguir, o ECOO11 segue o índice Carbono Eficiente (ICO2), que representa um grupo de empresas que se destacam pela transparência e boas práticas ambientais. Com a quinta pior rentabilidade em 2020, o BBSD11 segue o índice S&P Dividendos Brasil (SA:BBSD11), que abrange as ações mais pagadoras de dividendos no mercado brasileiro: tais empresas, conhecidas como cash cows por pagarem dividendos constantemente, mantêm saldos de caixa relativamente menores e são, em consequência, mais impactadas em momentos de altíssima iliquidez no mercado (o outro ETF baseado em empresas pagadoras de dividendos,DIVO11, caiu de maneira similar: -25,9%).
Na outra ponta, temos sete ETFs com rentabilidade positiva em 2020: SPXI11 (24,6%), IVVB11 (24,1%), IB5M11 (9,2%), IMBB11 (8,3%), FIXA11 (5,7%), IRFM11 (2,8%) e B5MB11 (0,3%). Ressalto que cinco deles são ETFs de renda fixa, segmento que tem apenas um ETF ainda em terreno de desvalorização em 2020: IMAB11. Aliás, é bastante curioso notar a diferença de rentabilidades e volatilidades em 2020 entre o IMAB11 (-3,4% com 1,47% a.d.) e o IMBB (8,3% com 0,79% a.d.), em que pese ambos terem como base o mesmo índice (IMA-B).
Também deve-se enfatizar que, de forma bastante díspar, os dois ETFs de melhores rentabilidades em 2020 são do segmento de renda variável e seguem o mesmo índice: S&P 500. Como tal índice está em moeda americana, os dois ETFs se beneficiaram da fortíssima alta do dólar em relação à moeda brasileira, o que explica seus retornos destacados. Outro ponto interessante é que suas volatilidades (2,85% e 2,83% a.d.) são menores do que dos outros ETFs de renda variável. Isso se explica por duas razões: a primeira é que o S&P 500 é historicamente menos volátil que a nossa bolsa brasileira; a segunda é que existe um hedge natural desse ETF pela correlação histórica negativa entre a bolsa americana e a taxa de câmbio US$/R$ (quando as bolsas mundiais caem muito, o dólar sobe, amortecendo a queda do ETF, que é cotado em reais).
Por fim, gostaria de pontuar que esses dois ETFs se apresentam como ótimos instrumentos para aqueles que desejarem investir na bolsa americana. Esses ETFs são investimentos baratos (0,21% e 0,24% de taxa de administração) e bastante acessíveis para investidores que desejam acompanhar o dólar com exposição a uma carteira de 500 ações listadas nos EUA: diversificar nunca foi tão fácil e barato.
Forte abraço a todos!
* Carlos Heitor Campani é PhD em Finanças, professor do Coppead/UFRJ e especialista em investimentos, previdência privada e pública e finanças pessoais e públicas. Ele pode ser encontrado em seu site pessoal e nas redes sociais @carlosheitorcampani