Este artigo foi escrito exclusivamente para o Investing.com. Publicado originalmente em inglês em 26/03/2020
- Demanda cria novos produtos
- Novo diretor-geral da SEC é aficionado por fintechs
- IPO da Coinbase, uma série de ETFs de critpos irá turbinar a classe de ativos
- Concessões e compromissos sobre regulação levarão aos ETFs
- Outra disparada pode ocorrer quando os ETFs entrarem no mercado
O bitcoin, ethereum e diversas outras moedas digitais dispararam nos últimos meses, gerando um movimento parabólico nas criptos. São instrumentos que têm apenas um pouco mais de uma década de existência.
É difícil acreditar que, em 2010, um bitcoin custava apenas 6 centavos de dólar e agora ultrapassa a marca de US$ 61.000. A US$ 60.000, um investimento de US$ 10 em bitcoin em 2010 valeria agora US$ 10 milhões.
Esse rali fez com que o bitcoin atingisse o nível de US$ 20.000 pela primeira vez no fim de 2017 na esteira do lançamento dos contratos futuros baseados no valor da criptomoeda. Em 8 de fevereiro, a estreia dos contratos futuros do ethereum alçou os preços da segunda maior criptomoeda para quase US$ 2000. Em 24 de março, ambos os tokens recuaram em relação às máximas recentes, mas ainda encontravam-se em níveis elevados.
Ainda neste ano, a Coinbase, principal corretora de moedas digitais dos EUA, abrirá seu capital. As últimas previsões para seu valor variam de US$ 90 a 100 bilhões. O próximo grande evento para a classe de ativos será o lançamento dos produtos de ETF e ETN de bitcoin, ethereum e alguns dos outros 8.800 tokens.
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Entretanto, sua aprovação exigirá a tão necessária cooperação entre os novos mercados e os órgãos reguladores. Se tudo der certo, podemos ver uma explosão na atual capitalização de mercado de US$ 1,7 trilhão das criptos. A classe de ativos vale menos que a Apple (NASDAQ:AAPL) (SA:AAPL34), maior empresa do mundo. Os ETFs e ETNs fariam o valor das criptomoedas atingir novas alturas.
Demanda cria novos produtos
A ascensão das moedas digitais atraiu muito interesse nos tokens. Todo mundo adora um bull market, já que os preços em alta geram uma espécie de magnetismo para investidores e traders.
Poucos mercados ofereceram a mesma porcentagem de ganhos que as moedas digitais. Além disso, a queda na confiança e no crédito das moedas tradicionais dão ainda mais suporte ao bitcoin, ethereum e as outras 8900 criptomoedas.
Com a alta da capitalização de mercado e dos volumes de negociação, cresce a demanda por novos produtos que repliquem o comportamento de preços das critpos. Enquanto isso, questões de custódia, o medo de guardar moedas digitais em carteiras de computador e a incerteza com as transações através de novas corretoras evitaram que muitos participantes de mercado comprassem e vendessem tokens.
A falta de regulação e suporte governamental evitou que muitas instituições financeiras de destaque oferecessem a classe de ativos a seus clientes. Novos produtos que diminuam essas preocupações contribuiriam para expandir o potencial mercado. Veríamos uma explosão de participação quase que da noite para o dia se isso acontecesse.
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Novo diretor-geral da SEC é aficionado por fintechs
Gary Gensler, ex-diretor da Comissão de Negociação de Futuros de Commodities, foi o primeiro a designar o bitcoin e as moedas digitais como commodities. Gensler atuou como presidente da CFTC durante o governo Obama. Seu sucessor, já na administração de Trump, Christopher Giancarlo, continuou seu trabalho que permitiu que a CME lança o bitcoin futuro, em 2017. Em fevereiro de 2021, os contratos futuros de ethereum começaram a ser negociados na CME.
Após sua passagem pela CFTC, Gensler tornou-se professor de economia global e gestão na MIT Sloan School of Management e codiretor do programa de fintechs do MIT no âmbito da Iniciativa de Moedas Digitais do Laboratório de Mídia da instituição. Ele conduziu pesquisas e lecionou sobre a tecnologia de blockchain, moedas digitais, tecnologia financeira e políticas públicas.
Em 2021, o presidente Joe Biden indicou Gensler como presidente da SEC, comissão de valores mobiliários dos EUA. Na SEC, o executivo poderá aprovar os produtos de ETF e ETN de moedas digitais. Dada sua experiência na CFTC e no MIT, é provável que ele trabalhe com os mercados para implementar os produtos o mais cedo possível.
IPO da Coinbase, uma série de ETFs de critpos irá turbinar a classe de ativos
Os contratos futuros na CME foram o primeiro passo para dar reconhecimento oficial ao bitcoin e ethereum como ativos de aceitação geral. Ainda neste ano, a Coinbase, maior corretora de moedas digitais dos EUA, abrirá seu capital em um IPO avaliado atualmente entre US$ 90 e 100 bilhões. A Coinbase quer se tornar a principal plataforma de negociação de criptomoedas, tal como a Bolsa Mercantil de Chicago (CME) e a Intercontinental Exchange atuam em outros ativos.
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Ao que tudo indica, em breve teremos produtos, como fundos negociados em Bolsa, que devem aumentar sua liquidez. Os ETFs e ETNs atrairiam posições de risco em criptos individuais ou cestas de criptomoedas.
Isso abriria espaço para o surgimento de um mercado de opções, aumentando ainda mais o volume e as posições em aberto necessários para ampliar o alcance da classe de ativos. A maior liquidez tornaria as moedas digitais mais acessíveis aos participantes do mercado. Iniciativas como o IPO da Coinbase e produtos como ETFs e ETN têm potencial de turbinar a capitalização de mercado da classe de ativos, que atualmente é de US$ 1,7 trilhão.
Concessões e compromissos sobre regulação levarão aos ETFs
Um dos obstáculos que as criptomoedas enfrentam é a grande lacuna entre sua filosofia e os interesses velados dos governos. As criptos são ativos monetários globais que operam em blockchains, uma maravilha tecnológica. Os governos estão adotando a blockchain, mas nem tanto as critptos em si.
Os defensores das moedas digitais tendem a favorecê-las por transcenderem barreiras, oscilarem de acordo com a oferta e a demanda e não poderem ser manipuladas por governos, bancos centrais ou autoridades monetárias.
Parte do poder governamental deriva do seu controle sobre a oferta monetária. E esse poder sobre as finanças não é algo de que desejam abrir mão. O atual tsunami de liquidez jorrado pelo Fed e que está dando suporte à estabilização da economia não seria possível em um mundo onde os meios de troca fossem as moedas digitais globais.
Mesmo assim, é uma questão de tempo até que os governos implementem suas próprias moedas digitais. Um dos desafios de Gensler será fechar um acordo entre o criptomercado e os órgãos reguladores dos EUA e Europa.
Se conseguir fazer isso, é bem provável que vença o prêmio Nobel de economia. Seu fracasso manteria uma espécie de duplo sistema financeiro, em que os meios de troca regulados competiriam com o crescente sistema sem regulação. Acredito que Gensler tenha histórico, conhecimento e apoio dos governos e dos criptomercados para ter sucesso. Seu primeiro desafio será aprovar produtos de ETF e ETN com o equilíbrio regulatório certo.
Outra disparada pode ocorrer quando os ETFs entrarem no mercado
Quando os ETFs entrarem em cena, a expectativa é que haja uma disparada na capitalização de mercado da classe de ativos, semelhante à vista no fim de 2017, quando a CME lançou o bitcoin futuro.
Fonte de todos os gráficos: CQG
O gráfico acima mostra que o bitcoin disparou para mais de US$ 20.000 em dezembro de 2017, quando a CME lançou o primeiro contrato futuro da moeda, cravando a máxima histórica naquele momento.
Em 8 fevereiro de 2021, os contratos futuros de ethereum começaram a ser negociados na CME. Seu preço ultrapassou US$ 2000, máxima recorde.
Em 2004, O SPDR® Gold Shares (NYSE:GLD) começou a ser negociado. Antes disso, a máxima histórica do ouro havia sido tocada a US$ 875 por onça em 1980.
O gráfico trimestral mostra que o número total de posições em aberto na COMEX para o ouro futuro estava abaixo de 300.000 antes de 2004. O volume trimestral estava abaixo de 355.000 contratos. Após o lançamento do fundo GLD, tornando o ouro disponível a um número maior de participantes do mercado, esses indicadores subiram significativamente.
Além disso, o preço do ouro estava a US$ 415,80 ao final de 2003. Após o lançamento do primeiro ETF, muitos outros se seguiram, fazendo disparar o preço do ouro.
Por isso, o potencial desses produtos para as criptomoedas é incrível. Seu lançamento, juntamente com os contratos de opções das moedas digitais, permitirá que a classe de ativos dê passos gigantes para se tornar mais aceita no futuro.