Analisar o mercado em retrospectiva é simples, mas antecipar seus movimentos é uma tarefa complexa. Por exemplo, como mostraremos a seguir, é inegável que ações de valor, especialmente de grande capitalização, ganharam destaque durante a recente correção, enquanto as ações de crescimento foram deixadas de lado.
Essa rotação de crescimento para valor exemplifica como investidores alternam entre setores e fatores ao longo do tempo. Identificar essas transições precocemente é fundamental para maximizar retornos. Compartilhamos duas capturas de tela do SimpleVisor, ferramenta que utilizamos para avaliar a recente rotação de crescimento para valor. Em um artigo futuro, apresentaremos outros indicadores exclusivos da plataforma, que ajudam a identificar quais setores e fatores estão em ascensão e quais estão perdendo força. Além disso, essa análise pode fornecer indícios sobre a próxima rotação setorial.
A tabela à esquerda mostra os retornos acumulados no ano, considerando capitalização de mercado e fatores de valor/crescimento. O desempenho de ações de valor com grande capitalização (canto superior esquerdo) está negativo no ano, mas supera com folga os outros fatores, em especial as ações de crescimento de grande capitalização. No SimpleVisor, calculamos pontuações técnicas absolutas e relativas (em relação ao S&P 500) para setores e diversos fatores acionários. Essas pontuações são baseadas em 14 métricas técnicas, algumas delas proprietárias.
O gráfico abaixo exibe as variações das pontuações absolutas e relativas para os ETFs de valor (IVE) e crescimento (IVW) de grande capitalização. Nos últimos cinco semanas, o IVW passou de sobrecomprado para sobrevendido em ambos os indicadores. Enquanto isso, a pontuação relativa do IVE subiu no período, embora seu indicador absoluto tenha piorado recentemente. Esse gráfico ilustra como o IVE superou o mercado, mas começa a perder força, enquanto o IVW apresenta desempenho inferior tanto em termos absolutos quanto relativos.
Cenário econômico e de mercado
Estou em viagem hoje, então farei uma atualização completa do ambiente de mercado na segunda-feira. Ainda assim, vale revisitar nossa análise semanal, que serve como um sinalizador de ciclos corretivos mais amplos. Em março de 2022, nosso indicador de fluxo de dinheiro gerou um sinal de venda confirmado, precedendo uma queda de quase 20% no mercado. Esse sinal foi revertido para compra em novembro de 2022, sugerindo uma retomada do mercado de alta, que se mantém desde então.
Atualmente, dois dos três indicadores estão levantando preocupações sobre uma correção mais ampla ainda neste ano. Apesar disso, reduzir drasticamente a exposição neste momento pode não ser a melhor estratégia. Quando os dois indicadores secundários são acionados, o mercado costuma estar fortemente sobrevendido, o que tende a provocar um movimento de recuperação reflexo. Esse tem sido nosso argumento ao longo da semana.
O principal sinal, que confirmaria os outros dois, ainda não foi ativado. Isso mantém as posições inalteradas por ora, mas um sinal de venda será confirmado caso o mercado continue lateralizado nas próximas semanas. Se isso acontecer, medidas corretivas adicionais podem ser necessárias após um rali de curto a médio prazo no verão. Caso esse cenário se concretize, acreditamos que a redução do risco nas carteiras precisará ser mais agressiva.
Nenhum indicador é infalível, e este não nos tirará do mercado sem alguma volatilidade. No entanto, esse modelo já ajudou a evitar prejuízos consideráveis no passado, e confiamos que poderá desempenhar esse papel novamente. Ajuste suas estratégias de acordo com esse cenário.
IPP confirma IPC – inflação continua desacelerando
O índice de preços ao produtor (IPP) registrou variação de 0,0% em fevereiro, enquanto o núcleo do indicador caiu 0,1%, ambos abaixo das projeções, que apontavam para uma alta de 0,3%. Esse foi apenas o segundo resultado negativo no núcleo do IPP desde abril de 2020. A desaceleração da inflação foi impulsionada por uma queda expressiva nos custos de transporte, especialmente no setor de transporte público. Vale destacar que os preços desse segmento vêm apresentando alta volatilidade nos últimos meses.
Embora o IPP tenha surpreendido positivamente, alguns de seus subcomponentes – que impactam diretamente o índice de preços dos gastos com consumo pessoal (PCE) – vieram ligeiramente acima das expectativas. Por conta disso, as projeções para o PCE subiram de +0,2% para +0,3%.